quinta-feira, 16 de abril de 2015

Pisando em terrenos sagrados e históricos (parte 1): Nacional X Sertãozinho





No final de semana passado - dias 11 e 12/04 - lembrei muito de Antonio de Alcântara Machado, autor de Brás, Bexiga e Barra Funda, conjunto de contos que formam uma espécie de crônica da cidade de São Paulo, na década de 1920, em especial de sua periferia.

O percurso literário pela periferia de São Paulo mostra os processos de modernização da cidade e a formação dos bairros operários que concentravam fábricas e um pequeno comércio. Os imigrantes, sobretudo, os italianos são protagonistas de Alcântara Machado, porque em grande medida também são atores centrais da nova configuração urbana da cidade.

O autor mostra a popularização do futebol que começava a reunir pequenas multidão pelos campos, como é o caso do Parque Antártica, cenário de "Corinthians (2) vs Palestra (1)" uma das mais importantes produções literárias sobre futebol. 

A história narra a rivalidade dos dois times que ocorre em paralelo a uma paixão dividida, vivenciada por Miquelina,  que se vê indecisa entre o que sente pelo jogador Biaggio, do Palestra, e por Rocco, do Corinthians. 

O futebol também aparece no conto Gaetaninho, um menino que sonhava em andar de carro e que tinha como lazer principal as peladas de rua.

Automóveis e futebol são ícones da modernidade que compõem o cotidiano de São Paulo, juntamente com as fábricas e os imigrantes que povoavam bairros como o da Barra Funda, onde se localiza o Parque Antártica do conto "Corinthians (2) vs Palestra (1)" .

Essa obra data da década de 1920, período de fundação do São Paulo Railway Athletic que nos anos de 1940 passaria a ser chamado de Nacional Atlético Clube, tradicional clube da Barra Funda e proprietário do estádio Nicolau Alayon.

A Caravana passou por lá e eu, particularmente, tive a imensa honra de assistir a um jogo do Nacional, num estádio inaugurado em 1938 e que está quase sendo engolido pela expansão imobiliária do bairro. 

O Nicolau resiste ao tempo e assim espero que permaneça.


DE SÃO PAULO RAILWAY ATHLETIC A NACIONAL ATLÉTICO CLUBE 


O Nacional é um dos clubes mais tradicionais de São Paulo e que tem sua origem vinculada à estrada de ferro. Trata-se, portanto, de um exemplo de time ferroviário no Brasil.

Por isso, recorri ao livro Quando o futebol andava de trem. Memória dos times ferroviários brasileiros de Ernani  Buchmann, onde podemos saber um pouco da origem do Nacional da Barra Funda, no capítulo "SPR, o que mudou de nome no intervalo" .

Tudo começou em 1919, quando Arthur J. Owen, funcionário da São Paulo Railway, teve como iniciativa fundar um clube para os operários dessa companhia, que foi a primeira ferrovia construída em São Paulo e inaugurada em 1867, ligando Jundiaí a Santos, transportando mercadorias e passageiros:


                                         Locomotiva da São Paulo Railway. Fonte: http://www.abpfsp.com.br/ferrovias/ferrovias08.htm

É importante lembrar que Charles Miller trabalhava na São Paulo Railway e com funcionários dessa companhia formou uma equipe que disputou aquela que é considerada a primeira partida de futebol ocorrida no Brasil

Mas a criação de um time oficial da São Paulo Railway foi obra do já mencionado Arthur J. Owen que vinha de classe menos abastada que Charles Miller e seus colegas 



Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2

Com o fim da concessão da ferrovia, a São Paulo Railway passou a se chamar Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e após trinta anos em atividade o time entrou em campo pela última vez, no Pacaembu, em fevereiro de 1947, numa partida contra o Flamengo do Rio de Janeiro.


Foi uma partida que rendeu um momento bastante curioso da história do futebol, já que o primeiro tempo marcou a despedida do São Paulo Railway e no segundo tempo nasceu o Nacional

O Globo, 23/02/1947


No primeiro tempo, os jogadores vestiram a camisa do São Paulo Railway. Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2


No segundo tempo, surgiu o Nacional Atlético Clube com seu escudo e uniformes marcados pelas cores azul, branco e vermelho


Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2


Escudo do Nacional. Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2

Sua origem ferroviária é lembrada no mascote Ferroviário:

Fonte: http://www.timesdelbrasil.com.br/SP/nacional.htm


O Nacional participou da primeira divisão do Paulista de 1936 a 1959 e em 1993 caiu para a terceira divisão onde permanece até hoje (Quando o futebol andava de trem. Memória dos times ferroviários brasileiros de Ernani  Buchmann,  p.89).


O ESTÁDIO NICOLAU ALAYON

O endereço oficial do Estádio Nicolau Alayon é Rua Comendador Sousa, 348, no Bairro de Água Branca, sendo também possível entrar pela porta principal do Clube Nacional, localizada na Rua Maques de São Vicente 2477, Barra Funda. 






Entramos pela Comendador, rua fácil de se chagar já que fica bem próxima à estação Água Branca







O Estádio foi inaugurado em 1938, período muito importante para a estruturação concreta e simbólica do  futebol brasileiro, ano em que a seleção nacional pela primeira vez entusiasmou o torcedor e os cronistas da época, já que contava com jogadores como Leônidas da Silva e Domingos da Guia, dois ídolos nacionais.


A inauguração foi bastante festiva, contando com a presença do então presidente do clube, o uruguaio, Nicolau Alayon - que posteriormente será homenageado dando nome ao estádio - e com uma programa de jogos, sendo o principal deles o realizado entre o São Paulo Railway e o Corinthians:

 
Folha da Manhã, 15/05/1938 (Fonte: http://acervo.folha.com.br/fdm/1938/05/15/1/)



Aquela típica área coberta da parte das sociais continua a nos proteger do sol e da chuva:





Mas para os que não quiserem permanecer sentados há o que poderíamos chamar de geral, bem em frente as cadeiras, o que faz do estádio, um espaço bem democrático, sendo capaz de brigar diversas modalidades de torcer.



Inclusive torcer dormindo, como foi o caso da Carol:




Quando se está em estádios de um clube tão tradicional, a vontade - pelo menos a minha - é conhecer cada canto, o que faz com que eu não acompanhe devidamente o jogo.

Mas acho compreensível que, em algumas ocasiões, isso aconteça, pois não é todo dia que se vai a São Paulo  e a Caravana tem fascínio por estádios, sendo necessário aproveitar cada visitação, porque são únicas.

Mesmo assim, assistium pouco da partida que começou às 15h, já que o estádio não possui iluminação.

Logo aos 21 minutos, o Nacional fez o primeiro gol marcado por Jorge do Vale e um pouco mais de 10 minutos depois o Sertãozinho empatou com o gol de Gabriel.








   


 Então veio o intervalo que despertou Carol de seu sono, já que teve sorteio de brindes comprados na 25 de março, segundo o locutor. Entre os brindes havia despertador, conjunto de pente e baralho.

Valeu pela diversão e pela expectativa de ser sorteada. Mas não fomos....






 
A torcida Almanac aguardava na geral o sorteio dos números e alguns componentes tiveram sorte.





 E no segundo tempo, a Almanac voltou para o seu lugar:



Eu segui andando pelo estádio




 Experimentando cada canto

  




















Foi então que encontrei Neguinha.... uma torcedora canina, simpática e pé quente.


  
Enquanto circulava pelo Nicolau Naylon, mais dois gol foram feitos pelo Nacional, marcados por Muller e Emerson.

O resultado final foi 3 X 1 como mostrará o simpático placar do estádio







E quando o jogo acaba, temos que sair do estádio....










 
Mas sempre há tempo de um última socialização com os amigos







Como disse no início, o estádio Nicolas Aylon está sendo quase que engolido pelos prédios do entorno. Recentemente, o clube chegou a receber ofertas de compra para que em seu terreno seja erguido um condomínio de prédios.


O mesmo tipo de assédio já sofreu o estádio do São Cristóvão no Rio e o do Juventus de São Paulo.

Embora óbvio, sempre vale à pena reiterar que há estádios que são patrimônios culturais da cidade, sendo parte componente de sua paisagem e história. Estádios são locais de memória pessoal e coletiva. Portanto, que eles sejam preservados, em sua dignidade, mantidos como parte viva do cotidiano. 




Que o Nacional e seu estádio, assim como outros clubes e suas praças esportivas, resistam e permaneçam com sua imponência futebolística que talvez poucos entendam ou conheçam, mas como disse Shakespeare "Nós poucos, nós poucos e felizes, nós, bando de irmãos"   


Um comentário:

  1. Parabéns pela iniciativa. Gostei bastante da ideia e, principalmente, dos conteúdos do teu blog!

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