quinta-feira, 23 de outubro de 2014

VESTIU UMA CAMISA LISTRADA E SAIU POR AÍ


Sábado, 18 de outubro, abri meu armário e pus pra fora a camisa listrada do Madureira Futebol Clube que comprei na última vez que estive no Estádio Aniceto Moscoso, há cerca de dois meses atrás




Naquela ocasião fui assistir a Madureira X Guarani em jogo da terceira divisão.


Dessa vez me preparei para ir a Madureira X CRB. Um dos jogos mais importantes da história do Madu, já que se tratava das quartas de final da Série C.


O jogo de sábado passado, dia 18 de outubro, contou com a presença da imprensa, chegando a merecer uma matéria – de menos de meia página – publicada no caderno de esportes da edição de domingo do jornal O Globo.


A tarde estava fresca, um dia ótimo para se assistir a um jogo de futebol.
 

 A torcida mista do Madureira



Torcer para dois times é realidade comum na composição das torcidas de alguns dos chamados times de baixo investimento. E esse fenômeno se evidenciou na promoção realizada pelo Madureira para o jogo contra o CRB na qual quem fosse vestido com a camisa de qualquer clube do Rio poderia adquirir um ingresso e entrar de graça no estádio.

Essa promoção foi posta em prática de modo confuso, com pouca informação ao público e pouca organização na troca de ingressos, o que provocou uma perigosa aglomeração de pessoas na porta de entrada do estádio.



Um policial tentou por ordem na fila, porém ele estava visivelmente nervoso e despreparado para a situação:




Há certas misturas que são fatais para o desencadeamento de tumultos em estádios: falta de informação, falta de organização, falta de entradas suficientes para o público (havia apenas uma pequena) e policiais despreparados. Se o público presente de fato fosse em sua maioria formada por torcedores do Madureira, ávidos por ver o jogo, teria havido muita confusão como aquelas que cansamos de ver antes de jogos em São Januário ou mesmo no Maracanã.


Entrei no estádio apenas no final do segundo tempo.... o que foi bestante irritante


O estádio estava cheio. Um mosaico de camisas dos clubes cariocas compunha o público das arquibancadas. Mesmo na parte em que ficaram reunidos os agrupamentos das organizadas do Madureira, podia-se ver lado a lado indivíduos botafoguenses, vascaínos, flamenguistas e tricolores. Um dos instrumentos de percussão de uma das torcidas organizadas do Madureira era tocado por um rapaz que trajava uma camisa do Botafogo. 






A ideia dessa promoção é compreensível dada a vontade de encher o estádio em um dos mais importantes dias da história do Madureira que tinha possibilidades reais de dar largos passos para a série B do Campeonato Brasileiro.

Encher o estádio também se justificava dada a péssima média de público dos jogos do Madureira. Contabilizando o público de toda a primeira fase da Série C – 18 rodadas – o Madureira foi dono da segunda pior média, perdendo apenas para o Duque de Caxias. Cerca de 274 pessoas em média assistiram aos jogos do tricolor suburbano (Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-c/publico-seriec.html)


Por outro lado a composição mista das arquibancadas no sábado, me causou certo estranhamento e me fez pensar que teria sido mais interessante uma promoção que objetivasse encher o estádio com as cores do Madureira, fortalecendo velhos e construindo novos laços de identificação com os símbolos do clube.

Essa composição mista seria interessante de ser futuramente investigada a fim de lançar novas perspectivas sobre os modos de torcer.





O jogo era tão importante que pela primeira vez vi uma charanga  atuando no estádio:





O galo maluco


Em relação ao time do CRB há de se destacar que um bom número de torcedores esteve presente no Aniceto Moscoso. Antes da partida era possível vê-los andando pelas ruas de Madureira ostentando bandeiras, camisas e cantando “nós somos  Galo, Gaaalo maluuuuuco”!

Resolvi seguir alguns que seguiram pelo Mercadão de Madureira, pelas ruas do bairro 





e acabei encontrando o bar onde a maioria se reunia. Lá fui recebida – e muito bem recebida - por torcedores e torcedoras que enfrentaram uma viagem de Alagoas ao Rio.



No caso da torcida do CRB não vi mesclas de camisas de outros clubes. Vi camisas variadas comemorativas ao centenário do clube ou aquelas típicas retrôs, o que indicava que poderia haver um bom investimento na comercialização de produtos licenciados pelo CRB. E de fato parece que há. Fui ao site do clube onde podemos ser direcionados para a loja virtual na qual se pode adquirir uma variedade de roupas e objetos ligados ao CRB




A estrutura mercadorizada e espetacularizada da qual participa os principais clubes do país também é apropriado pelos chamados clubes de “baixo investimento” se traduzindo em lojas virtuais e físicas, e no licenciamento de produtos vendidos ao torcedor, assim como oferecendo programas de sócio-torcedor.  

 No contexto atual globalizado em que jogadores de futebol se transformam em celebridades midiáticas consumidas mundialmente por públicos amplos, não é muito fácil - sobretudo para os clubes que estão fora do circuito principal futebolístico – a manutenção de seus torcedores.

Por outro lado, esse mesmo impulso globalizante é capaz de fortalecer os laços locais importantes para a manutenção do pertencimento clubístico, sentimento que move os torcedores independentemente da divisão às quais seu time joga. O CRB parece ter uma força local grande, com a conquista de diversos títulos estaduais e nutrindo com o CSA uma forte rivalidade de longa data.

Há de se destacar a ala feminina da Torcida:





Debaixo do sol e ao lado e cercados por um “cordão de isolamento” a compacta massa vermelha dos torcedores do CRB assistiram à vitória do time por 2 x 1.



 



Às vezes se ganha mesmo perdendo


O Madureira saiu de campo aplaudido pela maioria dos que estavam no estádio, seja pelos torcedores de ocasião, seja por aqueles que acompanham o time com mais frequência.

Em alguns jogos que fogem ao circuito principal do futebol brasileiro, a vitória e a derrota podem adquirir sentidos diferentes. Os aplausos dados ao Madureira se justificam em primeiro lugar porque o público não era formado exatamente pelo que convencionamos a chamar de torcedores, muito menos por indivíduos movidos pelo “pertencimento clubístico” já mencionado.

O horizonte de expectativas que cerca times como o Madureira é um tanto limitado e há um certo nível de consciência em relação à sua realidade difícil, o que faz com que muitas vezes o simples fato de se chegar às quartas de final de um campeonato da terceira divisão possa significar uma espécie de vitória.



Entretanto a rotina de derrotas e a dificuldade em participar de competições mais regulares ao longo do ano pesa financeiramente para os clubes e torna ainda difícil sua manutenção assim como a formação de novos torcedores.

O abismo econômico entre os clubes no Brasil se evidencia quando frequentamos jogos que vão além daqueles que compões as primeiras páginas dos jornais esportivos.

Esse aspecto é bastante preocupante. O risco de desaparecerem do mapa futebolístico sempre ronda os chamados clubes de menor investimento.


Torço imensamente para que isso não ocorra.

Seja como for fim de semana que vem tem o jogo de volta.

Ahhhhh se eu pudesse...

Iria a Maceió



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

As voltas que o mundo dá: Madureira X Guarani (série C do Brasileirão)






Depois da goelada sofrida pela seleção brasileira, muito tem se falado na imprensa a respeito da necessidade de mudanças no futebol nacional.

Já faz tempo que o futebol brasileiro demonstra claros sinais de que mudanças se fazem necessárias para evitarmos que futuramente sejamos forçados a contar nos dedos o número de clubes em atividade profissional no país.

Esta semana por exemplo os jogadores do Barueri não entraram em campo para jogarem contra o Operário- MT pela série D do Campeonato Brasileiro. Em solidariedade os jogadores do Operário deitaram no gramado, protagonizando uma cena que particularmente me impressionou e me entristeceu bastante.


Fonte: http://www.lancenet.com.br/gremio-barueri/solidariedade-elenco-Barueri-jogadores-Operario-MT_0_1193880786.html#ixzz3ArYSZnA3


O abismo econômico entre clubes que ganham milhões e outros que sobrevivem a duras penas pode aumentar com o tempo, tornando o futebol brasileiro cada vez mais pobre e cada vez mais limitado a uma meia dúzia de times capazes não somente de disputarem títulos, mas até mesmo de se manterem ativos.


Muita gente assiste a campeonatos como o Espanhol, Francês ou mesmo o alemão contentando-se em ver disputas já de antemão limitas a dois ou três times riquíssimos e que dificilmente perderão para clubes de investimento mais modesto.

O futebol não é tão caixinha de surpresa assim, sobretudo enquanto continuar a ser uma caixinha de altas rendas, distribuídas de modo pouco igualitário.


Acho importante que os jogadores estejam mais atentos a seus direitos e que movimentos como o Bom Senso Futebol Clube de algum modo reivindiquem mudanças que visem uma maior seriedade e profissionalismo na gestão do esporte mais popular do país.


Cair e subir de divisão faz parte da dinâmica esportiva. O que é problemático e triste é vermos clubes de futebol afundarem-se em crises financeiras perigosas e que certamente refletem no futebol praticado em campo.


Sábado vi um jogo da série C do campeonato Brasileiro e no gramado estava um time que em 1978 foi campeão da série A.

Faz parte da vida essas quedas. Mas no caso do Guarani chama a atenção o fato de que desde 2001 o clube de Campinas acumula vários rebaixamentos


"2001 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (15° de 16 equipes)
2002 - Rebaixado no Rio-São Paulo (12° de 16 equipes)
2004 - Rebaixado na Série A do Brasileiro (22° de 24 equipes)
2006 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (17° de 20 equipes)
2006 - Rebaixado na Série B do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2009 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (19° de 20 equipes)
2010 - Rebaixado na Série A do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2012 - Rebaixado na Série B do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2013 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (20° de 20 equipes)"

(Fonte: http://placar.abril.com.br/materia/rebaixamento-do-guarani-foi-o-nono-neste-seculo)


Dias antes do jogo contra o Madureira, o Guarani conseguiu pagar a jogadores parte de salários atrasados do mês de junho (http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,guarani-quita-salarios-atrasados-apos-pagar-com-cheque-sem-fundo,1544055)

Vi em campo um time que veste uma camisa que ostenta uma estrela de campeão brasileiro da primeira divisão, título conquistado com um gol de Careca, um dos meus ídolos do futebol.


E do outro lado estava o Madureira, o trem bala do Mercadão, um clube do subúrbio carioca que tem uma história cativante e que neste ano completou 100 anos!!!


Ambos os times na série C do Brasileiro que recebe quase que atenção nenhuma da imprensa.


Até quando nos limitaremos a criticar o futebol brasileiro tendo como base somente os resultados da seleção masculina.

O futebol das seleções não necessariamente é um índice seguro para se avaliar a organização desse esporte em clubes e federações em seus países.

O 7 x 1 por si só não diz muita coisa. O futebol brasileiro precisa de mudanças há muito tempo, mudanças rumo a uma gestão com penhor democratizante e menos exclusivista que vise um futebol diversificado e cujos clubes sejam capazes de se autossustentar e conseguirem condições de disputarem campeonatos com chance de conquistas.



 Madureira X Guarani

Depois de tanto tempo surgiu uma ótima oportunidade de curtir uma tarde de sábado nos braços do futebol.

Ah, mas vida de pesquisador não é fácil. Nesse mesmo sábado, dia 15 de agosto, meu time de coração jogaria.

Uma dúvida imensa me perseguiu ao longo da semana.

Queria muito ir a São Januário, mas também queria ver Madureira e Guarani, já que nunca havia visto algum jogo do time de campinas em estádio.


Decidi ir a Madureira porque o projeto Caravana é sério e precisa estar sempre em movimento.

Por isso, na tarde de sábado vesti a camisa do Madureira e fui para o Aniceto Moscoso

Essa camisa é comemorativa da visita que o América fez a Cuba, sendo recebido em um jogo por Che Guevara (já falamos aqui sobre esse momento)


O bairro de Madureira fervilha aos sábados, sobretudo nas proximidades do Mercadão.

Antes de entrar comi pipocas nessa barraca que fica bem em frente ao clube. Os preços são variados, dependendo do tamanho do saco da pipoca. Vale à pena.





E o estádio do Madureira fica encrustado no meio da teia do comércio do bairro, em frente à estação de trem e cercado de engarrafamento 




Uma das facilidades que temos em jogos de pouco apelo midiático é podermos flagrar de perto momentos como a chegada dos jogadores. Os jogadores do Guarani chegaram por volta das 15h.







 Já dentro do clube, na lojinha, comprei duas lembranças do Madureira. Uma camisa, a mais próxima possível do clássico uniforme tricolor do subúrbio. Só havia o modelo masculino, problema não exclusivo ao Madureira. 

Cheguei a pensar que por ser tamanho M ela caberia em mim, mas...





Minha outra aquisição foi um belo relógio comemorativo aos cem anos do Madureira e que se juntou a minha humilde coleção:




Depois desses momentos de consumismo futebolístico fui em direção às arquibancadas, onde já somos avisados que ali só se torce para o Madureira






 


Em campo, o time do Guarani treinava debaixo de um sol típico do inverno carioca. 



O Guarani assim se chama em homenagem à peça do campineiro Carlos Gomes, O Guarani, peça essa baseada no romance homônimo de José de Alencar.

O clube foi fundado em 1911, portanto tem 113 anos.

Em 1978 foi campeão brasileiro com time que tinha Careca e o ídolo Renato, que teve uma biografia escrita pelo jornalista João Nunes, lançado em 2004







Fonte: http://www.futebolinterior.com.br/futebol/Guarani-SP/noticias/2014-05/Jornalista-lanca-biografia-de-Renato-idolo-da-historia-do-Guarani


Hoje, em 2014, o Guarani disputa a série de C do Campeonato Brasileiro e está em 8o lugar do Grupo B, com 12 pontos, bem pertinho da zona de rebaixamento (os dois últimos de cada grupo irão para a série D). Até o momento foram 11 jogos com apenas duas vitórias.

Preocupante...

O mais importante jogador do Guarani é Fumagalli que teve bom desempenho no vice-campeonato paulista de 2012.

Todas as jogadas passam por Fumagalli, que bate falta, escanteio e obviamente tenta fazer gols


Mas ao longo da partida as chances de gol foram mínimas para as duas equipes. O jogo foi muito, muito fraco, o que poderia ter sido compensado com um pouco mais de disposição das equipes. Pelo menos assim, algum tipo de emoção teríamos.

Sobrou tempo para eu observar bastante o novo uniforme do Madu


Não entendo essa mania recente de se fazer uniformes que fogem muito às cores que caracterizam o clube. 

Cadê o amarelo? o azul escuro e o vermelho?

Não se trata de tradicionalismo ferrenho, mas as cores de um clube são algo que os marca assim como a nós torcedores.








Mas enfim como diria João Saldanha, vida que segue .... assim como o jogo. 

E seguiu sem bolas na trave, sem defesas milagrosas, sem gols perdidos, sem aqueles momentos huuuuuuuu.

Cabia ao Madureira ditar o ritmo do jogo, porque uma vitória colocaria o time em primeiro lugar no grupo B. E além disso, o time jogava em casa.

Mas tenho a impressão que às vezes jogar “em casa” pode provocar efeitos contrários aos desejados pelos torcedores. 

Muitos times recuam ou ficam com medo de se arriscar.

Nesse jogo, tive a impressão de ter visto dois times com receio de ir ao ataque
.
Na verdade há de se dizer que vi dois times com sérios problemas para chegarem ao ataque. Não posso julgar por outros jogos, pois este foi o primeiro que vi de ambas as equipes.

Mas o que vi foi um futebol muito tímido e pouquíssimo atrevido.

O Madureira que no Cariocão costuma arrancar pontos dos times com mais investimento, parecia se contentar com o empate.

Embora nos últimos cinco minutos, o Madureira tenha tentado de modo mais organizado e efetivo, chegar ao gol, a impressão que tive é que mesmo que se passassem mais duas horas de jogo, o empate continuaria.


E o resultado final foi 0 X 0. E mesmo se o jogo continuasse por mais duas horas, acho que o resultado se manteria.






Entretanto sou do tipo de boleira que presta mais atenção no entorno do que no jogo propriamente dito.

E esse entorno consiste basicamente nos acontecimentos da arquibancada, ou melhor do estádio como um todo.

Especialmente tudo que diz respeito à torcida.

E em relação à torcida, sempre há o que se falar.



Os Morféticos e a crueldade torcedora

Já enquanto o Guarani treinava, sua torcida pendurava as bandeiras. Uma delas em protesto estava de cabeça para baixo:



Outras bandeiras foram colocadas normalmente:



Desta vez fiquei pouco tempo nas sociais.Tempo suficiente para tirar a foto das crianças da escolinha de futebol e uma foto já clássica dos meus pés de tênis rosa









Fui para o outro lado, onde o sol bate o tempo todo e onde os Ultra ficam









A torcida do Madureira estava bastante festiva e agitada. Torcida criativa que canta o tempo inteiro, incluindo o parabéns para você







Mas tem sempre aquele torcedor mais solitário e sofrido, que presta atenção ao jogo do início ao fim e que de tanto sofrimento mal consegue cantar, preferindo quase sempre os gestuais, os gritos, os lamentos...

Esse tipo de torcedor que se contorce o tempo todo ficou bem próximo a mim. 

Chegou com a bandeira dobrada e como num ritual, a abriu e estendeu nas cadeira, enquanto andava para lá e para cá gritando de modo exaltado a cada erro e acerto dos jogadores









No segundo tempo sentou-se à minha frente um torcedor do Guarani, também exaltado e que me contou da angústia de ver seu time na terceira divisão. 

Embora tenha dito que entende o quanto é difícil para um jogador atuar em times com condições financeira precária, como é o caso da Guarani, esse torcedor não poupou nenhum jogador de diversos xingamentos.

Estádios pequenos são campos de tortura para os ouvidos dos jogadores que têm que conviver com todo tipo de hostilidade verbal.

Esse torcedor do Guarani era especializado em chamar os jogadores de "seus morféticos!... vão jogar em time de botão"! 

Torcedor é um bicho cruel.... 

Seus gritos ecoavam pelo estádio e a torcida do Madureira reagiu






Conversei durante um tempo com esse torcedor que é de Campinas e mora no Rio há 4 anos. Nossa conversa foi basicamente feita de lamentações e das lembranças que ele carregava de um time que já fora campeão brasileiro. 





 A convivência entre as torcidas foi pacífica, certamente com provocações, porque a jocosidade faz parte do futebol 











Caminhando para a saída do estádio Samuca, personagem conhecido da Geral do Maracanã, pediu para tirar uma foto




 Assim voltei para casa pensando que ainda daria tempo de ver o o final do jogo do Vasco e deu....







  

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Uma Caravana arriscada: Final da Copa de 2014



Há tempos atrás seria impensável me ver torcendo para a seleção Argentina. 

Por que?

Porque durante minha adolescência fui criada ouvindo que nosso maior rival no campo eram os argentinos. 

Até que cansei dessa minha antipatia pouco fundamentada, antipatia que foi enfraquecendo ainda mais quando comecei a pesquisar futebol.

Na Copa de 2014 esse sentimento se desfez e já que a seleção brasileira conseguiu ir para final, resolvi torcer para a Argentina cujos torcedores sempre me impressionaram pela TV e me impressionaram na praia de Copacabana no dia em que os encontrei pela primeira vez.

Como queria reencontrá-los voltei a Copacabana para ver a final da Copa de 2014. E o bairro estava repleto de azul e branco, quase sem espaço algum para as três cores da Alemanha.


Confesso que senti certo temor em assistir a Argentina X Alemanha no Fifa Fan Fest, porque ao longo da semana notei intensas manifestações de repúdio aos Argentinos.

A imprensa de um modo geral - e a imprensa esportiva também - insistiu muito na rivalidade Argentina X Brasil tomando como quase absurda a hipótese de um brasileiro torcer para a seleção de Messi.

No dia seguinte à classificação da seleção Argentina para a decisão da Copa, a capa do Diário de Pernambuco afirmava: "Ainda pode ficar pior", fazendo referência à derrota da seleção brasileira para a Alemanha, fato que poderia ser agravado com possibilidade da seleção argentina ser campeã mundial. 

No dia 10 de julho, a capa principal de um dos mais importantes jornais esportivos do país trazia os dizeres: "Alemães desde criancinhas"

Nos programas esportivos de rádio - que teimosamente ainda ouço -, podia-se ouvir comentários desdenhosos ou revoltosos em relação a seleção Argentina e a sua torcida.

Em relação à torcida, o que mais se criticou foi a música por eles criadas para provocar os brasileiros e que foi cantada em todos os estádios e ruas onde houvesse agrupamentos de torcedores argentinos reunidos.

Essa música que termina dizendo que Maradona é maior que Pelé foi tomada como uma afronta ao futebol nacional, especialmente porque era entoada dentro "de nossa própria casa"

Queria entender essa resistência à seleção argentina e a fundamentação dessa rivalidade que às vezes me parece excessiva e sobretudo calcada na disputa entre Pelé X Maradona. 

Essa disputa tem um marco importante: uma comparação feita pelo jornal El Gráfico entre a importância que Maradona teve para a conquista de 1986 e a que Pelé teria tido para a conquista de 1970. Essa comparação inicialmente não buscava criar hierarquia entre os jogadores, algo que foi sendo modificado com o tempo e as apropriações, sobretudo, da imprensa argentina e brasileira. 

A respeito desse tema há interessante artigo do professor Ronaldo Helal em parceria com o professor Hugo Lovisolo, do qual retiro a citação seguinte:

A revista publica reportagem de Juvenal com o título: “Nace una polémica que no morirá 
jamás: Maradona fue más para Argentina que Pelé para Brasil”. O jornalista trabalha a partir do pressuposto de que o Brasil teria conquistado o tricampeonato em 1970 sem Pelé e a Argentina não teria conquistado o Mundial de 1986 sem Maradona. A argumentação implica que Maradona foi um herói. Se o Brasil teria sido campeão mesmo sem Pelé, este não teria sido o herói. Não se hierarquiza as qualidades dos atletas: o que importaria é a contribuição de cada um para seu país. O eixo posicional permite a construção da polêmica mais em torno do herói do que do melhor. Surge a questão: se pode ser o melhor do mundo e não ser herói? (http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/011911_pele-e-maradona-nucleos-da-retorica-jornalistica1.pdf)

Entretanto não creio que essa oposição, alimentada durante anos pela imprensa esportiva, possa se configurar como argumento que justifique tamanha rivalidade com "los Hermanos", afinal se pensarmos em termos futebolísticos o Uruguai deveria ser muito mais alvo de rivalidade do que a Argentina. 

A grande derrota da seleção brasileira para a Argentina foi em 1990 nas oitavas de final dessa Copa, já seleções como Itália e França nos provocaram decepções muito maiores e nem por isso lhes declaramos tanta aversão.

Não achei nenhum tipo de abuso a música criada pelos argentinos para cantar nos estádios e nas ruas do Brasil. Ao contrário da versão brasileira "mil gols, mil gols...", a música dos argentinos não tem caráter ofensivo. Trata-se de um exemplo da jocosidade típica do futebol.

Os argentinos são imunes a críticas? Não. Li os tristes relatos da minha colega Ana Paula Silva a respeito do tratamento dado por alguns argentinos às prostitutas brasileiras. E achei absolutamente lamentável esse tipo de ocorrido. 

Li também algumas reportagens a respeito da forma abusiva que alguns turistas estrangeiros usavam para se aproximar das mulheres que lhe despertavam interesse, muitas vezes puxando-lhes o cabelo e dando beijos forçados.

Houve esse lado sombrio da visitação dos turistas e das festas que lotaram bairros como a Vila Madalena em São Paulo. 

Tenho apenas uma convicção: qualquer atitude xenófoba deve ser fortemente rechaçada, o que inclui a nossa própria.

Não sou patriota porque torci para a seleção brasileira e muito menos anti-patriota porque torci para a seleção argentina. Na verdade tenho um forte temor de nacionalismos que quase sempre estão na base de muita intolerância e preconceito que nos cerca.


Tem sido interessante ver como os alemães tem sido elogiados pela imprensa, dada a sua simpatia. Isso é significativo se pensarmos que o termo "alemão" foi - e ainda é -  usado em um sentido pejorativo.

Tem sido mais interessante ainda testemunhar o modo pelo qual o futebol alemão se converteu em exemplo a ser seguido pelo brasileiro. Durante muito tempo em termos de futebol, a Alemanha foi compreendida como uma seleção que se limitava a um jogo pragmático e feio, ao contrário do estilo brasileiro, considerado como próximo da arte.

Essas guinadas são fascinantes objetos de pesquisa.




O Et e o palhaço:


Alunos pediram dinheiro para custear uma viagem para um congresso:



Os argentinos cantando e o menino brasileiro se amarrando...





E é claro, não podia faltar o Papa:




 




Torcendo pela Argentina com pele do Racing



Até que se podia encontrar alemães



Mas a grande maioria era de Argentinos



Mais uma vez o Et:

 
 
 E ele, Michael Jackson


 
 
 
 
 
 
 
Assisti ao jogo nessa sala improvisada:
 

 



Esse Etezinho é pé frio....



Taça para Portugal?!!! Só mesmo assim...



Tempo para o futebol



Esqueci de perguntar quanto custava




 


Chegou a noite e com ela veio o gol da Alemanha




Houve um princípio de tumulto nas areias, o que me fez ir embora de onde estava. No caminho parava em alguns bares para ver o placar final, até que consegui. E lá estava o Etezinho novamente e, ao que parece, virou a casaca:






Fui andando em direção a Ipanema em busca de segurança e sossego, na companhia protetora vinda de outro mundo...

Fim da Copa de 2014. Semana que vem, tem brasileirão...