terça-feira, 28 de abril de 2015

Pisando em terrenos sagrados e históricos (parte 2): Juventus x Internacional de Limeira








Fiz o vídeo no calor da emoção que senti não apenas por ter visto um jogo, mas por ter pisado no gramado do Estádio Conde Rodolfo Crespi.

O estádio é um patrimônio do futebol brasileiro, que sobrevive em meio às arenas, que resiste ao cenário futebolístico nacional, assim como à expansão mobiliária louca por terrenos como os do Juventus da Mooca.

Em campo estavam duas equipes que juntas somam 192 anos de história. A Internacional de Limeira com seus 101 anos e o Juventus que completa hoje, dia 20 de abril, 91 anos.


Fiquei meio gaga no vídeo, meio sem saber o que dizer, mas agora vou escrever um pouca da história do Juventus e da visita ao estádio.


O Moleque Travesso e sua história

Há alguns livros e documentários sobre o Juventus que podem nos dar informações valiosas sobre sua história. Em minha biblioteca tenho o livro Glórias de um moleque travesso, publicado em 2002 pelos autores Angelo Eduardo Agarelli e Vicente Romano Netto(filhos de fundadores do Juventus) e Fernando Razzo Galuppo, jornalista apaixonado polo clube.

Esse livro me serviu de base para minhas pesquisas iniciais, continuadas em outras fontes que aqui cito. 

Bem, vamos lá...

Assim como o Bangu e tantos outros times no Brasil, o Juventus tem sua origem relacionada às fábricas diversas que se implantavam no Brasil, no final do século XIX e início do XX. Fábricas em geral de origem estrangeira - sobretudo inglesa - e que formavam times de futebol como um modo de lazer dos operários.

No caso do Juventus da Mooca, sua história está vinculada à imigração italiana que também caracteriza bairros como a Barra Funda como foi mostrado no post anterior.

Enquanto o Nacional da Barra Funda é de origem ferroviária, o Juventus começa a germinar na tecelagem Regole e Crespi & Cia, fundada em 1897, e rebatizada como Cotonifício Rodolfo Crespi em 1909.

Na fábrica Crespi chegaram a se formar alguns times de operários, que duraram pouco até a fundação do Cotonífero Rodolfo Crespi Futebol Clube que tem o dia 20 de abril de 1924 como a data oficial de seu nascimento.  



Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=47391


Em 1924, Rodolfo Crespi cede um terreno para que o time de operários possa jogar. Esse terreno se localizava no mesmo endereço da fábrica, Alameda Javry - que hoje é nacionalmente conhecida como Rua Javari. 





Em 1929, algumas melhorias foram feitas no campo da Javari, como a construção de arquibancadas de madeira:


O Estado de São Paulo, 11/11/1929 (http://acervo.folha.com.br/fdm/1929/11/11/1/

Em 1930, o Cotonífero muda de nome passando a chamar-se de Clube Atlético Juventus. Nesse mesmo período surge o apelido Moleque Travesso dado pelo jornalista Thomaz Mazzoni que junto com Mario Filho, ajudou a criar toda uma mitologia - entendida como narrativa - em torno do futebol.

O apelido Moleque Travesso surge após o Juventus vencer o Corinthians, já no primeiro ano em que o time da Mooca participou da elite do futebol paulista.

E o apelido se mantem até hoje


Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/esportes/noticias/?p=193484


Em 1941, o estádio da Rua Javari é nomeado de Conde Rodolfo Crespi - em homenagem ao dono do Cotonífero - e assim inaugurado numa tarde festiva 

Folha da Manhã, 13/07/1941 (http://acervo.folha.com.br/fdm/1941/07/13/)


A fábrica fechou as portas e hoje seu espaço é ocupado por um hipermercado, mas o clube e o estádio mantém-se vivos






Visitamos o estádio na manhã de sábado dia 12/04/2015. O jogo Juventus x Internacional de Limeira estava marcado para as 10h e já às 9h podia-se notar que o público seria grande, até mesmo porque o Juventus fazia uma ótima campanha na série A3 do Campeonato Paulista.

A Rua Javari foi sendo tomada por torcedores que chegavam aos montes, alguns ainda em busca de ingresso











Que belo time... que belo esquadrão ...





A família juventina dá as cartas logo na entrada do estádio. Na Javari, quem estiver vestindo outra camisa que não seja o manto grená é convidado a se retirar.

Obviamente que essa placa pode nos soar  antipática e vai de encontro ao ideal das torcidas mistas, tão celebradas pela imprensa esportiva. Não importa.

Na verdade, trata-se de um aviso dado com certo humor, mas que não esconde a vontade de manter o Conde Rodolfo Crespi com as arquibancadas tomadas pelo grená. 

Acho uma atitude totalmente compreensível e que, embora, não evite que os seus torcedores dividam o coração com os outros clubes, tenta garantir que ali, na Rua Javari, a camisa Juventina seja predominante. 


E de fato o efeito é ótimo. As arquibancadas do Crespi são tomadas por indivíduos de grená que juntos cantam o hino do Juventus



Que belo time


Que belo esquadrão

Juventus amigo

Do meu coração


Que belo time


Que belo esquadrão

Juventus amigo

Do meu coração


Juventus, Juventus

Eu estou aqui
Vamos torcer juntos Juventus
E daqui nunca mais sair







Torcida composta por idosos, mulheres, crianças e uma juventude diversificada que às 10 da manhã mostrava-se absolutamente disposta a apoiar um clube que muitos dos quais sequer viu campeão de um torneio principal.

O Juventus e seu poder de arregimentação é tema de diversos documentários como por exemplo, "Rumo a Tóquio" (Dirigido por Andréa Kurachi, Helena Tahira e Rogério Zagallo) que enfoca a vitória do Juventus na Copa São Paulo de 2007 ou "Voltaremos" que conta um pouco da história do clube, reunindo uma série de depoimentos de torcedores, dirigentes e jogadores que relatam sua relação com o clube da Mooca.

De fato a vitória é elemento importante para despertar e alicerçar o pertencimento clubístico dos torcedores.

Experimentar a conquista de um título está no horizonte de expectativas de praticamente todos os aficionados por futebol, mas isso por si só não explica a complexa relação entre nós e os clubes pelos quais torcemos.

E essa explicação se torna menos viável ainda quando nos deparamos com casos como o do Juventus, Santa Cruz, Remo e tantos outros capazes de mobilizar muitas pessoas ao seu redor, mesmo estando na periferia do futebol brasileiro.

No caso da torcida do Juventus nota-se certo orgulho de estar de fora dos holofotes do futebol nacional, o que se evidencia na frase "Ódio ao futebol moderno" estampado em camisas e faixas usadas, sobretudo, por quem frequenta a Setor 2, um agrupamento de torcedores que passa grande parte do jogo nessa parte do estádio que fica atrás do gol, lado esquerdo das sociais.

Esse agrupamento incentiva o time a todo momento, cantando músicas adaptadas daquelas que ouvimos nos estádios argentinos e que também podem ser ouvidas nos brasileiros.

A esses cânticos se somam bandeiras esticadas nas paredes do estádio com frases escritas em italiano, mostrando a forte relação do clube com a imigração italiana. 

A Torcida Setor 2 é formada em sua ampla maioria por jovens e em grande medida podemos entendê-la como uma torcida que representa o Juventus e que também representa uma forma de torcer em que o conforto é compreendido como dispensável.

Sendo assim, trata-se de um postura que se contrapõe a tendência - notável sobretudo nas arenas - de privilegiar uma forma de se torcer sentado, com cadeira marcada, em um estádio que mais se aproxima de um teatro.

O lema "Ódio ao futebol moderno" - no caso do Juventus - relaciona-se não somente à transformação do futebol em negócio, como a tentativas de mudanças propostas por dirigentes interessados em "modernizar" o clube, o que incluiria a reforma do estádio, com aumento de capacidade de público, instalação de cadeiras, refletores e diversos outros itens que sigam o modelo das arenas, o que incluiria a venda de naming rights. 


Porém parte dos torcedores se mostraram contrários a essa ideia como mostra um breve texto publicado no site Ludopédio sobre a Setor 2:

(...) uma vez que defendem que o estádio define o modo como eles torcem. Mais do que isso, o estádio faz parte da história do clube, e remete as tradições italianas e operárias do clube. Além disso, a construção de um novo estádio acarretaria na elitização das arquibancadas e, portanto, expulsaria boa parte dos atuais torcedores. 
A torcida denominada Setor 2 é o principal grupo a levantar a bandeira contra o Futebol Moderno. Esse grupo é contrário aos altos valores de dinheiro que circulam no futebol. Mais do que isso, eles são contra a infiltração de empresários dentro do clube, muitos deles não querem ver o clube na mão de empresários e muito menos que se transforme em uma empresa (Contra o Futebol Moderno – 2 #Clube Atlético Juventus. Victor de Leonardo Figols. Acessível em: http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/arquibancada/artigo/1871

A Torcida Setor 2 por si só valeria um estudo longo, buscando-se apreendê-la em diálogo com o contexto atual do futebol brasileiro, sobretudo após a Copa do Mundo de 2014.  
Chama a atenção a apropriação do termo MODERNO tomado como sinônimo de algo negativo que corromperia o futebol promovendo a elitização desse esporte e exclusão das camadas populares das arquibancadas.
Sem dúvida, existe no cenário futebolístico atual uma tendência altamente mercadorizadora desse esporte, onde os mais ricos ficam mais ricos e os times de menor investimento lutam para sobreviver. 
Entretanto é válido tomar certo cuidado com a palavra MODERNO já que ela ao longo dos tempos comportou uma série de significados, servindo de justificativa para uma série de apropriações que se fez do futebol. Apropriações tanto positivas quanto negativas.

Trata-se de uma palavra em que nela cabe tudo, sendo necessária certa cautela.

De qualquer modo, a Setor 2 faz da contrariedade à concepção de moderno um lema que atrai muitos jovens já que é compreendida como uma forma de resistência e defesa a um futebol que se acredita estar desaparecendo.


O tipo de proposta da Setor 2 tem se popularizado e ganhado adeptos em outras torcidas como as do Palmeiras e Vasco e também pode ser pensada como derivada de um contexto em que muitos jovens buscam formas variadas de construção identitária e que estejam fora do circuito mainstream.

No caso de torcidas como a Setor 2 é interessante pensá-las como um espaço alternativo em relação ao cenário espetacularizado, midiático e mercadorizado do futebol atual. Mais do que somente resistir trata-se da necessidade de conciliar determinadas demandas do futebol atual com a tentativa de manutenção de aspectos mais tradicionais do futebol.

Torcer no alambrado é uma das tradições que se procura manter viva :




Esse estilo de torcer, ainda muito presente em estádios antigos, o que o inclui vários dos estádios argentinos que vimos na TV, é passado de geração a geração
      




Os alambrados nos remetem imediatamente aos antigos estádios e foram - e são - alvo de críticas constantes. 

O processo de "modernização" do futebol inglês ocorrido no início da década de 1990 promoveu a remoção dos alambrados de grande parde dos estádios, já que tragédias como as de Hillsborough deram mostras de que essas estruturas metálicas que separam público do campo, ofereciam risco à segurança do público. 

Alambrados também lembram acidentes como o de São Januário na final da Copa João Havelange em 2000.

Mas tanto em Hillsborough como em São Januário, o problema maior foi a superlotação dos estádios. 

Caso não haja superlotação, não ocorram reações violentas por parte da polícia e caso os alambrados estejam seguros e firmes, não vejo problemas em mantê-los.

Na verdade como já falei aqui, adoro assistir a jogos do alambrado e na Javari escolhi ficar no setor 2 atrás do gol. 

É verdade que a visão do jogo não é das melhores e, por isso, não consegui ver os gols do Juventus. Mas tratou-se no meu caso de uma escolha deliberadamente feita por mim. 

Como já mencionei diversas vezes aqui, creio na diversidade dos modos de torcer, o que inclui ficar em um lugar onde o jogo não é devidamente acompanhado, mas outros modos de interação com o jogo e com o futebol são possíveis





Outro fator importante que fomenta o sentimento de pertencimento clubístico é o bairro da Mooca.  O que se pode perceber é uma forte relação com a Mooca, sendo que o Juventus seria seu maior representante. 

Juventus e Mocca teriam sua história imbricada como diz o livro Glorias de um moleque travesso: "Esta camisa grená tem história, que se confunde com a vida de um bairro-nação chamado Mooca" (Introdução)





E o Juventus e a Mooca reiteram:  mulher adora futebol, incluindo aquele que passa longe das arenas.












Lá no cantinho, podia-se avistar torcida da Inter de Limeira:






Aos vizinhos privilegiados, uma laje como camarote: 



Deslumbrada com a Javari... quase não vi o jogo. O primeiro tempo voou como se fosse segundos.

Quando vi já estava no intervalo.

E no intervalo é hora de enfrentar  a longa fila do Cannoli, clássica guloseima do estádio da Javari. 





Eu não fiquei na fila, caso contrário eu perderia metade do segundo tempo. Agradeço imensamente a Carol que conseguiu comprar dois Canollis após alguns minutos de espera. 



Fim do intervalo, volta para a arquibancada






O jogo terminou 2 a 0 para o Juventus. Um dos gols foi feito pela estrela do time, o jogador Gil que ganhou fama atuando no Corinthians.





Com o fim do jogo, a torcida do Setor 2 foi para as socais, ficando próxima a entrada dos vestiários.









Foi irresistível gravar um vídeo:







Os portões se abriram e pudemos entrar no campo da Javari, onde Pelé teria feito o gol mais bonito de sua carreira. 






Ao lado de seu Antonio, ou Sr. Canolli, recuperado do oitavo infarto e de volta a Javari





Na saída, a pequena multidão se espalha pelos bares atrás de churrasco e cerveja. 





E atrás também de esfirras, especialmente as vendidas no Abraozinho que por sinal, patrocina o time. A esfirras de todos os gostos e tipos que saem aos montes do forno. 














domingo, 19 de abril de 2015

O que é a Caravana de Boleiros


Tudo começou, em 2013, de modo despretensioso, movidas pela curiosidade e amizade a Martin Curi, um alemão radicado no Brasil que assim como eu, pesquisa futebol e é integrante do NEPESS - Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade  - vinculado a Universidade Federal Fluminense. 

Certo dia resolvi chamar essas visitações de Caravana de Boleiros. E assim nasceu também a ideia de fazer um blog para registrar parte das experiências e observações colhidas no trajeto para os jogos e, sobretudo, dentro dos estádios. 

Essas visitações são narradas neste blog que busca conjugar pretensões etnográficas, com a tentativa de mostrar, e ajudar a preservar, a história de clubes e estádios que por motivos diversos foram sendo esquecidos com o tempo.

A Caravana, portanto, dará privilégio a jogos pouco acompanhados pela televisão e imprensa em geral, já que disputados por equipes que não costumam atrair os holofotes midiáticos. 

E essas equipes, embora pouco mencionadas, são parte componente daquilo que chamamos de "país do futebol". 

A Caravana de Boleiros é um projeto capitaneado por mim, uma mulher que ama demais futebol.

Sim, sou uma mulher que ama demais futebol. E sei que nem todas as pessoas que me cercam entendem bem esse sentimento, mas a maioria já se acostumou. 

Já faz tempo que desistiram de me convencer que existe algo melhor e pior no mundo do que futebol.       

Sou torcedora que acompanha sofridamente o time de coração, que perde a razão em alguns jogos e que, muitas vezes, já jurou para si mesma que nunca mais acompanharia uma partida de futebol.

São juras sempre quebradas, porque às vezes acho que ser torcedora é o que há de melhor em mim.

Daí, meu imenso respeito pelo ato de torcer. 

Mas, aqui na Caravana, falará mais alto a minha versão pesquisadora de futebol que tenta fazer desse esporte, inspiração para pensar sobre o mundo ao seu redor. 








Contato



e-mail: ledamonte@hotmail.com

AGENDA CARAVANA







quinta-feira, 16 de abril de 2015

Pisando em terrenos sagrados e históricos (parte 1): Nacional X Sertãozinho





No final de semana passado - dias 11 e 12/04 - lembrei muito de Antonio de Alcântara Machado, autor de Brás, Bexiga e Barra Funda, conjunto de contos que formam uma espécie de crônica da cidade de São Paulo, na década de 1920, em especial de sua periferia.

O percurso literário pela periferia de São Paulo mostra os processos de modernização da cidade e a formação dos bairros operários que concentravam fábricas e um pequeno comércio. Os imigrantes, sobretudo, os italianos são protagonistas de Alcântara Machado, porque em grande medida também são atores centrais da nova configuração urbana da cidade.

O autor mostra a popularização do futebol que começava a reunir pequenas multidão pelos campos, como é o caso do Parque Antártica, cenário de "Corinthians (2) vs Palestra (1)" uma das mais importantes produções literárias sobre futebol. 

A história narra a rivalidade dos dois times que ocorre em paralelo a uma paixão dividida, vivenciada por Miquelina,  que se vê indecisa entre o que sente pelo jogador Biaggio, do Palestra, e por Rocco, do Corinthians. 

O futebol também aparece no conto Gaetaninho, um menino que sonhava em andar de carro e que tinha como lazer principal as peladas de rua.

Automóveis e futebol são ícones da modernidade que compõem o cotidiano de São Paulo, juntamente com as fábricas e os imigrantes que povoavam bairros como o da Barra Funda, onde se localiza o Parque Antártica do conto "Corinthians (2) vs Palestra (1)" .

Essa obra data da década de 1920, período de fundação do São Paulo Railway Athletic que nos anos de 1940 passaria a ser chamado de Nacional Atlético Clube, tradicional clube da Barra Funda e proprietário do estádio Nicolau Alayon.

A Caravana passou por lá e eu, particularmente, tive a imensa honra de assistir a um jogo do Nacional, num estádio inaugurado em 1938 e que está quase sendo engolido pela expansão imobiliária do bairro. 

O Nicolau resiste ao tempo e assim espero que permaneça.


DE SÃO PAULO RAILWAY ATHLETIC A NACIONAL ATLÉTICO CLUBE 


O Nacional é um dos clubes mais tradicionais de São Paulo e que tem sua origem vinculada à estrada de ferro. Trata-se, portanto, de um exemplo de time ferroviário no Brasil.

Por isso, recorri ao livro Quando o futebol andava de trem. Memória dos times ferroviários brasileiros de Ernani  Buchmann, onde podemos saber um pouco da origem do Nacional da Barra Funda, no capítulo "SPR, o que mudou de nome no intervalo" .

Tudo começou em 1919, quando Arthur J. Owen, funcionário da São Paulo Railway, teve como iniciativa fundar um clube para os operários dessa companhia, que foi a primeira ferrovia construída em São Paulo e inaugurada em 1867, ligando Jundiaí a Santos, transportando mercadorias e passageiros:


                                         Locomotiva da São Paulo Railway. Fonte: http://www.abpfsp.com.br/ferrovias/ferrovias08.htm

É importante lembrar que Charles Miller trabalhava na São Paulo Railway e com funcionários dessa companhia formou uma equipe que disputou aquela que é considerada a primeira partida de futebol ocorrida no Brasil

Mas a criação de um time oficial da São Paulo Railway foi obra do já mencionado Arthur J. Owen que vinha de classe menos abastada que Charles Miller e seus colegas 



Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2

Com o fim da concessão da ferrovia, a São Paulo Railway passou a se chamar Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e após trinta anos em atividade o time entrou em campo pela última vez, no Pacaembu, em fevereiro de 1947, numa partida contra o Flamengo do Rio de Janeiro.


Foi uma partida que rendeu um momento bastante curioso da história do futebol, já que o primeiro tempo marcou a despedida do São Paulo Railway e no segundo tempo nasceu o Nacional

O Globo, 23/02/1947


No primeiro tempo, os jogadores vestiram a camisa do São Paulo Railway. Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2


No segundo tempo, surgiu o Nacional Atlético Clube com seu escudo e uniformes marcados pelas cores azul, branco e vermelho


Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2


Escudo do Nacional. Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?author=47&paged=2

Sua origem ferroviária é lembrada no mascote Ferroviário:

Fonte: http://www.timesdelbrasil.com.br/SP/nacional.htm


O Nacional participou da primeira divisão do Paulista de 1936 a 1959 e em 1993 caiu para a terceira divisão onde permanece até hoje (Quando o futebol andava de trem. Memória dos times ferroviários brasileiros de Ernani  Buchmann,  p.89).


O ESTÁDIO NICOLAU ALAYON

O endereço oficial do Estádio Nicolau Alayon é Rua Comendador Sousa, 348, no Bairro de Água Branca, sendo também possível entrar pela porta principal do Clube Nacional, localizada na Rua Maques de São Vicente 2477, Barra Funda. 






Entramos pela Comendador, rua fácil de se chagar já que fica bem próxima à estação Água Branca







O Estádio foi inaugurado em 1938, período muito importante para a estruturação concreta e simbólica do  futebol brasileiro, ano em que a seleção nacional pela primeira vez entusiasmou o torcedor e os cronistas da época, já que contava com jogadores como Leônidas da Silva e Domingos da Guia, dois ídolos nacionais.


A inauguração foi bastante festiva, contando com a presença do então presidente do clube, o uruguaio, Nicolau Alayon - que posteriormente será homenageado dando nome ao estádio - e com uma programa de jogos, sendo o principal deles o realizado entre o São Paulo Railway e o Corinthians:

 
Folha da Manhã, 15/05/1938 (Fonte: http://acervo.folha.com.br/fdm/1938/05/15/1/)



Aquela típica área coberta da parte das sociais continua a nos proteger do sol e da chuva:





Mas para os que não quiserem permanecer sentados há o que poderíamos chamar de geral, bem em frente as cadeiras, o que faz do estádio, um espaço bem democrático, sendo capaz de brigar diversas modalidades de torcer.



Inclusive torcer dormindo, como foi o caso da Carol:




Quando se está em estádios de um clube tão tradicional, a vontade - pelo menos a minha - é conhecer cada canto, o que faz com que eu não acompanhe devidamente o jogo.

Mas acho compreensível que, em algumas ocasiões, isso aconteça, pois não é todo dia que se vai a São Paulo  e a Caravana tem fascínio por estádios, sendo necessário aproveitar cada visitação, porque são únicas.

Mesmo assim, assistium pouco da partida que começou às 15h, já que o estádio não possui iluminação.

Logo aos 21 minutos, o Nacional fez o primeiro gol marcado por Jorge do Vale e um pouco mais de 10 minutos depois o Sertãozinho empatou com o gol de Gabriel.








   


 Então veio o intervalo que despertou Carol de seu sono, já que teve sorteio de brindes comprados na 25 de março, segundo o locutor. Entre os brindes havia despertador, conjunto de pente e baralho.

Valeu pela diversão e pela expectativa de ser sorteada. Mas não fomos....






 
A torcida Almanac aguardava na geral o sorteio dos números e alguns componentes tiveram sorte.





 E no segundo tempo, a Almanac voltou para o seu lugar:



Eu segui andando pelo estádio




 Experimentando cada canto

  




















Foi então que encontrei Neguinha.... uma torcedora canina, simpática e pé quente.


  
Enquanto circulava pelo Nicolau Naylon, mais dois gol foram feitos pelo Nacional, marcados por Muller e Emerson.

O resultado final foi 3 X 1 como mostrará o simpático placar do estádio







E quando o jogo acaba, temos que sair do estádio....










 
Mas sempre há tempo de um última socialização com os amigos







Como disse no início, o estádio Nicolas Aylon está sendo quase que engolido pelos prédios do entorno. Recentemente, o clube chegou a receber ofertas de compra para que em seu terreno seja erguido um condomínio de prédios.


O mesmo tipo de assédio já sofreu o estádio do São Cristóvão no Rio e o do Juventus de São Paulo.

Embora óbvio, sempre vale à pena reiterar que há estádios que são patrimônios culturais da cidade, sendo parte componente de sua paisagem e história. Estádios são locais de memória pessoal e coletiva. Portanto, que eles sejam preservados, em sua dignidade, mantidos como parte viva do cotidiano. 




Que o Nacional e seu estádio, assim como outros clubes e suas praças esportivas, resistam e permaneçam com sua imponência futebolística que talvez poucos entendam ou conheçam, mas como disse Shakespeare "Nós poucos, nós poucos e felizes, nós, bando de irmãos"