segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Série B qualquer dia tamo aêeeeeee: Madureira x Brasil de Pelotas







Visitar o estádio Bento de Freitas, no Rio Grande do Sul, é sonho antigo e o dia que eu conseguir realizá-lo, vou festejar imensamente.

Mas enquanto esse dia não chega, tive a oportunidade de conhecer parte da torcida Xavante, como é conhecida a torcida do Grêmio Esportivo Brasil, também chamado de Brasil de Pelotas.

A oportunidade surgiu domingo dia 12 de setembro de 2015, cinco dias depois de o clube completar 114 anos de vida.

O Brasil de Pelotas visitou o Rio de Janeiro, mais especificamente o bairro de Madureira. E para acompanhar o time,  uma parte de sua grande e festeira torcida, enfrentou muitas horas de viagem em um ônibus.

Tive o prazer de acompanhar essa torcida pelas ruas de Madureira e nas arquibancadas do Aniceto Moscoso.

O jogo era válido pelo Campeonato Brasileiro da Série C, onde o Brasil de Pelotas chegou graças ao vice-campeonato da série D, conquistado em 2014. Para torcida Xavante, o horizonte de esperança  é outro, pois como gritava um torcedor: "Série B, qualquer dia tamo aêeeee"


Grêmio Esportivo Brasil, um pouco de história


Fonte: http://xavantecentenario.blogspot.com.br/

A cervejaria Sul Brasil, mais conhecida como Leopoldo Haertel tem uma relação com a história do Grêmio Esportivo Brasil. 

Em Pelotas, havia o Sport Club Cruzeiro do Sul, dirigido por funcionários da cervejaria Haertel. Após uma discussão, alguns membros resolveram se desligar do clube e fundar outro. 

Assim nascia, no dia 07 de setembro de 1911, o Grêmio Sportivo Brasil que para não possuir cores próximas a do rival Sport Club Pelotas (azul e amarelo), adotou o vermelho e preto do tradicional clube carnavalesco, Diamantinos, de Pelotas. 

Assim ficou o escudo que sofreu algumas mudanças ao longo do tempo, a principal delas foi a troca do S para E, seguindo a atualização ortográfica, de Sportivo para Esportivo.
Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?attachment_id=37956

Em 1919, no primeiro Campeonato Gaúcho, o Brasil de Pelotas foi campeão:

Fonte: http://reliquiasdofutebol.blogspot.com.br/2012/01/campeoes-gauchos-ano-ano-1.html

Essa conquista é estampada nas camisas do clube até hoje, como pude presenciar em Madureira:




Na década de 1950, um fato interessante marcou a história do Brasil de Pelotas. Meses antes da Copa do Mundo, mais especificamente no dia 19 de março, o time foi convidado para realizar um treino com os Uruguaios.

 A partida foi no estádio Centenário e a seleção uruguaia, embora sem o capitão Obdulio Varela,  contava com vários jogadores que disputariam a Copa de 1950, entre os quais, Ghiggia. 

 E o Grêmio Esportivo Brasil venceu por 2 x 1. Quis o destino que esse mesmo placar, só que a favor dos uruguaios, marcasse a história do futebol brasileiro,quando da derrota da seleção no último jogo da Copa de 1950.

Fonte: http://doentesporfutebol.com.br/2014/04/sete-confrontos-inusitados-entre-times-brasileiros-e-selecoes/

Em 2014, na segunda Copa do Mundo realizada no Brasil, foi lançada uma camisa reversível  em homenagem aquele jogo

Fonte: http://www.mantosdofutebol.com.br/2014/05/camisa-reversivel-do-brasil-de-pelotas-2014-dresch-sport/

Sobre esse feito, há uma interessante reportagem com depoimentos de torcedores e outros personagens que relembram a repercussão da vitória do GEB sobre os uruguaios. Vale a pena assistir:



Em 1956, o GEB fez uma longa excursão pela América, que durou de outubro a novembro, totalizando 28 jogos, contra times como Cerro Porteño e Olímpia, do Paraguai. Sobre essa excursão há um livro de autoria de Carlos Marinho Louzada, GE Brasil - Uma viagem pelas Américas. Edição do Autor, 2007.

E por falar em livro sobre o GEB há também o Identidade Xavante organizado por Claudio Milton Cassal Andrea. Uma prévia do livro pode ser encontrado no endereço: http://issuu.com/lipegon/docs/identidadexavante/1?e=0

Continuando com os momentos marcantes na história do GEB, inevitável mencionar a ótima campanha do Brasileiro de 1985, quando o time terminou a disputa em 3o lugar, ficando atrás do campeão Coritiba e vice, Bangu.

Fonte: https://asmilcamisas.wordpress.com/2009/06/28/44-camisa-do-brasil-de-pelotas/

A façanha dessa campanha foi a vitória sobre o Flamengo de Zico, por 2 a 0, no estádio Bento Freitas. Os times voltaram a se enfrentar em março deste ano, pela Copa do Brasil. 

Nesse último jogo parte das arquibancadas do Bento de Freitas cedeu, o que tornou necessária a sua demolição e substituição por arquibancadas móveis. 

O Bento de Freitas foi inaugurado em 1943, tendo  suas obras iniciadas, em 1939, com o lançamento da pedra fundamental

Fonte: http://www.todacancha.com/wp-content/uploads/2012/05/pedra-fundamental-bento-freitas.jpg

Fonte: http://empauta.ufpel.edu.br/?p=4472
Fonte: http://www.asmilcamisas.com.br/2009/page/10/

Além de futebol, o Bento de Freitas abrigou o velório dos falecidos no acidente ocorrido em 2009, com a queda do ônibus que levava a equipe do GEB de volta para casa, após um jogo-treino no Vale do Sol. Faltando poucos quilômetros para a chegada a Pelotas, o ônibus caiu em uma curva de acesso da RS-471 a BR-392, Km 150, em Canguçu.  O ídolo uruguaio Cláudio Milar, o zagueiro Régis e o treinador de goleiros Giovani Guimarães, infelizmente não sobreviveram. 

Sobre esse episódio temos o livro A noite que não acabou, de autoria do repórter fotográfico Nauro Júnior e  do jornalista Eduardo Ceconni, Editora Mundial, 2010.

Fonte: http://www.claudiomilar.com/a-noite-que-nao-acabou/

 Devido a essa tragédia o campeonato Gaúcho de 2009 foi disputado com grande dificuldade pelo clube. Segundo depoimentos dos próprios jogadores,  as consequências físicas e psicológicas do acidente  não permitiram que o time tivesse um bom desempenho no campeonato (Fonte: http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2014/01/cinco-anos-depois-tragedia-xavante-deixa-cicatrizes-no-corpo-e-na-alma.html). 

O GEB caiu para a segunda divisão gaúcha nesse ano, retornando à primeira, somente em 2013. 

Em 2014, o GEB foi vice-campeão da série D, onde estava desde 2012. 

Em 2015, na série C, o GEB ficou no mesmo grupo do Madureira. Sorte minha porque assim pude visitar a torcida Xavante, mesmo sem sair do Rio. 

É certo que o dia em que eu for a Pelotas, meu contato com os Xavantes será mais intensa e completa porque eles estarão em casa, no seu estádio, o que faz muita diferença para a cultura torcedora. 

Um dia chego lá. Por enquanto vamos a Madureira.


Manhã fria em Madureira

Não é fácil para mim acordar cedo em um sábado, sobretudo, se estiver frio. 

Mas o futebol faz milagres comigo. 

Então juntei forças, levantei, tomei um café e rumei para Madureira. 

Fui plenamente recompensada, porque assim que cheguei ao bairro dei de cara com a torcida Xavante desembarcando do ônibus. Segundo algumas pessoas com as quais conversei, a viagem de Pelotas ao Rio iniciou na quinta-feira, às 11 da manhã. Ou seja, muitos levaram quase dois dias de viagem.

Mas como disse uma torcedora no banheiro: "vale tudo por esse clube". 

Cheguei a sentir inveja dessa torcedora, pois momentos assim são preciosas em nossa trajetória. Pode parecer sacrifício e, no fundo, talvez seja, Mas só sei dizer que experiências assim nos fazem sentir mais próximos aos clubes que amamos e essa sensação é ótima.

Vários outros torcedores enfrentaram horas e horas sentados num banco de ônibus até chegarem ali em frente ao Aniceto Moscoso. 

E depois dessa longa jornada, nada melhor do que música para despertar. Em comboio e ao som da banda xavante, os torcedores seguiram pela ruas de madureira, chamando a atenção com as cores rubro-negras:




Em meio ao caos de Madureira, a torcida seguiu rumando na direção da entrada dos visitantes do Madureira que fica a cerca de uma quadra da principal. Na esquina da rua Edgar Romero, a torcida ficou concentrada até chegar a hora de entrar.

Ao som da música "Meu Lugar" de Arlindo Cruz fizemos um esquenta. Tocar essa música - que virou uma espécie de hino do bairro - foi atitude de grande simpatia por parte dos hóspedes e ao que pude perceber, esse modo de chegar festeiro e afável, conquistou a grande maioria das pessoas diante das quais a charanga passava. 

Certamente o fato de ostentarem as cores vermelho e preto, contribuiu para esse sentimento. Muitos flamenguistas gritavam "estamos com vocês!"




Muitos torcedores ainda não tinham ingresso e foram comprar na hora. Tenho a impressão de que o clube Madureira não esperava por tanta gente, daí certa demora na hora da venda, pois ainda foi necessário ir em busca de uma maior quantidade de ingressos para dar conta do contingente que aguardava em uma fila grande e lenta: 










Passado esse momento, entramos no estádio. 

E como é de praxe, teve o ritual das fachas que foram sendo colocadas no alambrado do Aniceto:




Outras fachas ficaram nas mãos dos torcedores ou esticadas na arquibancada:








Do outro lado, estava a torcida do Madureira, parte dela protegida da chuva e outra debaixo da garoa que caía no bairro






Debaixo da chuvinha também ficaram os torcedores Xavantes de todos os tipos e idade:










O jogo foi um dos mais gostosos que a Caravana já presenciou. Ambos os times pareciam querer a vitória e fizeram o possível para consegui-la. O Madureira esteve mais próximo de ganhar o jogo, sobretudo porque conseguiu criar melhores oportunidades de gol que não se realizaram ora por falta de sorte, ora por falta de pontaria dos jogadores.

A necessidade da vitória era maior ao Madureira que estava em má colocação na tabela da Série C.

O primeiro tempo terminou sem gols.

O jeito foi ir em busca de um lanchinho:




No segundo tempo, aos 11 minutos, o Madureira fez 1 x 0 pondo para trabalhar o garoto do placar:





Mas a torcida do Pelotas não ficou muito tempo triste, aos 20 minutos, o Brasil empatou com gol de Nena. E para comemorar nada melhor que ir para o alambrado, incluindo as mulheres, afinal mulher também gosta de torcer








Foi a vez do Madureira ir parar no círculo central para reiniciar a partida:




E a mascote também vibrou.




Muitas mulheres na torcida.






E muita expectativa também












O jogo terminou empatado, 1 x 1, resultado que certamente pesou mais para o Madureira que era dono da casa e precisava de uma vitória.

Agora enquanto escrevo esse blog, o Madureira já não tem mais chance de se manter na série C e infelizmente caiu. Após esse jogo contra o GEB, o Madureira foi goleado pelo Guaratinguetá.

Seguirá no campeonato apenas cumprindo tabela, o que é lamentável.


O Brasil de Pelotas se manterá na Série C e ano que voltará a tentar uma vaga na Série B




Depois do jogo: festa, feijoada sonhada e um mascote para a Caravana

O que fica é a sensação de ter parte do meu sonho realizado ao ter estado na arquibancada junto à torcida Xavante, como ela é chamada, desde 1946, em alusão ao filme Invasão Xavante que estava em cartaz, na cidade de Pelotas.

A torcida passou a ser conhecida como Xavante por ter invadido o campo, após uma vitória de 5 a 3 sobre seu maior adversário, o Esporte Clube Pelotas que chegou a estar vencendo o jogo por 3 a 0.

Foi uma honra, assistir a uma de tantas invasões Xavante em campo adversário, o que é uma marca dessa torcida que está presente em grande número apoiando o time, em diversos lugares do Brasil. Sábado 12 de setembro de 2015 foi a vez de Madureira.

Na saída do estádio, a festa voltou para as ruas







Madureira viu um pequeno carnaval Xavante:



Uma manhã para ficar na minha e na história da Caravana.

Pelotas nos aguarde porque como diz o samba, "sonhar não custa nada... e meu sonho é tão real"

Depois desse dia histórico que marcou  meu humilde currículo futebolístico, rumei para Tijuca para comer a feijoada do Bar da Gema, acompanhado de uma lasanha de jiló.

Já havia comido feijoada antes de ir a um jogo... mas, depois é bem melhor.


Melhor ainda se a companhia for boa. No meu caso tive a sorte de poder almoçar com Gabriel, o garoto mais fofo do mundo. No futebol, mascotes são fundamentais... acho que encontrei o da Caravana:







O clássico e irresistível prato, Lasanha de jiló. Pode crer, é delicioso


E com a benção de São Jorge brindamos ao futebol




Até a próxima: