quinta-feira, 23 de outubro de 2014

VESTIU UMA CAMISA LISTRADA E SAIU POR AÍ


Sábado, 18 de outubro, abri meu armário e pus pra fora a camisa listrada do Madureira Futebol Clube que comprei na última vez que estive no Estádio Aniceto Moscoso, há cerca de dois meses atrás




Naquela ocasião fui assistir a Madureira X Guarani em jogo da terceira divisão.


Dessa vez me preparei para ir a Madureira X CRB. Um dos jogos mais importantes da história do Madu, já que se tratava das quartas de final da Série C.


O jogo de sábado passado, dia 18 de outubro, contou com a presença da imprensa, chegando a merecer uma matéria – de menos de meia página – publicada no caderno de esportes da edição de domingo do jornal O Globo.


A tarde estava fresca, um dia ótimo para se assistir a um jogo de futebol.
 

 A torcida mista do Madureira



Torcer para dois times é realidade comum na composição das torcidas de alguns dos chamados times de baixo investimento. E esse fenômeno se evidenciou na promoção realizada pelo Madureira para o jogo contra o CRB na qual quem fosse vestido com a camisa de qualquer clube do Rio poderia adquirir um ingresso e entrar de graça no estádio.

Essa promoção foi posta em prática de modo confuso, com pouca informação ao público e pouca organização na troca de ingressos, o que provocou uma perigosa aglomeração de pessoas na porta de entrada do estádio.



Um policial tentou por ordem na fila, porém ele estava visivelmente nervoso e despreparado para a situação:




Há certas misturas que são fatais para o desencadeamento de tumultos em estádios: falta de informação, falta de organização, falta de entradas suficientes para o público (havia apenas uma pequena) e policiais despreparados. Se o público presente de fato fosse em sua maioria formada por torcedores do Madureira, ávidos por ver o jogo, teria havido muita confusão como aquelas que cansamos de ver antes de jogos em São Januário ou mesmo no Maracanã.


Entrei no estádio apenas no final do segundo tempo.... o que foi bestante irritante


O estádio estava cheio. Um mosaico de camisas dos clubes cariocas compunha o público das arquibancadas. Mesmo na parte em que ficaram reunidos os agrupamentos das organizadas do Madureira, podia-se ver lado a lado indivíduos botafoguenses, vascaínos, flamenguistas e tricolores. Um dos instrumentos de percussão de uma das torcidas organizadas do Madureira era tocado por um rapaz que trajava uma camisa do Botafogo. 






A ideia dessa promoção é compreensível dada a vontade de encher o estádio em um dos mais importantes dias da história do Madureira que tinha possibilidades reais de dar largos passos para a série B do Campeonato Brasileiro.

Encher o estádio também se justificava dada a péssima média de público dos jogos do Madureira. Contabilizando o público de toda a primeira fase da Série C – 18 rodadas – o Madureira foi dono da segunda pior média, perdendo apenas para o Duque de Caxias. Cerca de 274 pessoas em média assistiram aos jogos do tricolor suburbano (Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-c/publico-seriec.html)


Por outro lado a composição mista das arquibancadas no sábado, me causou certo estranhamento e me fez pensar que teria sido mais interessante uma promoção que objetivasse encher o estádio com as cores do Madureira, fortalecendo velhos e construindo novos laços de identificação com os símbolos do clube.

Essa composição mista seria interessante de ser futuramente investigada a fim de lançar novas perspectivas sobre os modos de torcer.





O jogo era tão importante que pela primeira vez vi uma charanga  atuando no estádio:





O galo maluco


Em relação ao time do CRB há de se destacar que um bom número de torcedores esteve presente no Aniceto Moscoso. Antes da partida era possível vê-los andando pelas ruas de Madureira ostentando bandeiras, camisas e cantando “nós somos  Galo, Gaaalo maluuuuuco”!

Resolvi seguir alguns que seguiram pelo Mercadão de Madureira, pelas ruas do bairro 





e acabei encontrando o bar onde a maioria se reunia. Lá fui recebida – e muito bem recebida - por torcedores e torcedoras que enfrentaram uma viagem de Alagoas ao Rio.



No caso da torcida do CRB não vi mesclas de camisas de outros clubes. Vi camisas variadas comemorativas ao centenário do clube ou aquelas típicas retrôs, o que indicava que poderia haver um bom investimento na comercialização de produtos licenciados pelo CRB. E de fato parece que há. Fui ao site do clube onde podemos ser direcionados para a loja virtual na qual se pode adquirir uma variedade de roupas e objetos ligados ao CRB




A estrutura mercadorizada e espetacularizada da qual participa os principais clubes do país também é apropriado pelos chamados clubes de “baixo investimento” se traduzindo em lojas virtuais e físicas, e no licenciamento de produtos vendidos ao torcedor, assim como oferecendo programas de sócio-torcedor.  

 No contexto atual globalizado em que jogadores de futebol se transformam em celebridades midiáticas consumidas mundialmente por públicos amplos, não é muito fácil - sobretudo para os clubes que estão fora do circuito principal futebolístico – a manutenção de seus torcedores.

Por outro lado, esse mesmo impulso globalizante é capaz de fortalecer os laços locais importantes para a manutenção do pertencimento clubístico, sentimento que move os torcedores independentemente da divisão às quais seu time joga. O CRB parece ter uma força local grande, com a conquista de diversos títulos estaduais e nutrindo com o CSA uma forte rivalidade de longa data.

Há de se destacar a ala feminina da Torcida:





Debaixo do sol e ao lado e cercados por um “cordão de isolamento” a compacta massa vermelha dos torcedores do CRB assistiram à vitória do time por 2 x 1.



 



Às vezes se ganha mesmo perdendo


O Madureira saiu de campo aplaudido pela maioria dos que estavam no estádio, seja pelos torcedores de ocasião, seja por aqueles que acompanham o time com mais frequência.

Em alguns jogos que fogem ao circuito principal do futebol brasileiro, a vitória e a derrota podem adquirir sentidos diferentes. Os aplausos dados ao Madureira se justificam em primeiro lugar porque o público não era formado exatamente pelo que convencionamos a chamar de torcedores, muito menos por indivíduos movidos pelo “pertencimento clubístico” já mencionado.

O horizonte de expectativas que cerca times como o Madureira é um tanto limitado e há um certo nível de consciência em relação à sua realidade difícil, o que faz com que muitas vezes o simples fato de se chegar às quartas de final de um campeonato da terceira divisão possa significar uma espécie de vitória.



Entretanto a rotina de derrotas e a dificuldade em participar de competições mais regulares ao longo do ano pesa financeiramente para os clubes e torna ainda difícil sua manutenção assim como a formação de novos torcedores.

O abismo econômico entre os clubes no Brasil se evidencia quando frequentamos jogos que vão além daqueles que compões as primeiras páginas dos jornais esportivos.

Esse aspecto é bastante preocupante. O risco de desaparecerem do mapa futebolístico sempre ronda os chamados clubes de menor investimento.


Torço imensamente para que isso não ocorra.

Seja como for fim de semana que vem tem o jogo de volta.

Ahhhhh se eu pudesse...

Iria a Maceió