sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

No meio da estrada. Los Larios e o estádio-condomínio


Finalmente consegui assistir a um jogo em Los Larios. E devo agradecer imensamente a meu querido Everton que foi meuorientando na Graduação e hoje é amigo querido de pesquisa e do futebol. Graças a ele pude contar com uma carona que me levasse até Xerém. Desde que comecei a visitar estádios, nunca havia reunido condições de chegar a Los Larios. Quando digo condições faço referência a disponibilidade de tempo e,sobretudo, a possibilidade de contar com um transporte que me levasse com segurança até o estádio cuja acessibilidade não é das melhores.

Após a construção do arco metropolitano a ida a Los Larios ficou bem simplificada para quem pode dispor de moto ou carro. Chegar lá de transporte público não é nada fácil. É necessário saltar na Praça da Mantiqueira, em Xerém, e pegar o único ônibus que passa em frente a Los Larios. Esse ônibus circula em intervalos de uma em uma hora. Confesso que nunca tive coragem de enfrentar esse tipo de viagem. Obviamente sei que muitas pessoas fazem esse percurso diariamente, mas elas conhecem o local e eu não.

A única linha de ônibus que passa em Los Larios

Los Larios foi inaugurado em 2009 com capacidade para cerca de 6 mil torcedores e, em março de 2015, bateu recorde de público ao receber 5088 pessoas no jogo Flamengo 3 x Tigres 1. Porém, esse número é uma exceção explicada pelo fato de se tratar de um jogo do Flamengo, realizado às 16h (o detalhe do horário é importante),

Segundo algumas reportagens sobre essa partida, houve longo engarrafamento devido ao número de carros estacionados na estreita pista que dá acesso ao estádio.

Em 2016, 335  pessoas pagaram para ver Botafogo x Juazeirense (BA), em Los Larios, um dos menores públicos da história do Alvinegro carioca. O jogo foi realizado às 21h30min e esse fator me parece fundamental para explicar que tão pouca gente tenha se aventurado a ver aquela partida.

 Mesmo para quem tem veículo próprio, deve-se considerar que a estrada do Rio Douro, onde se localiza o estádio, é escura e oferece riscos a quem nela trafega.


Em frente ao estádio Los Larios. Estrada do Rio Douro. Xerém, Duque de Caxias. Foto Leda Costa

Quando penso em estádio, me vem à cabeça o quanto é importante que se possa chegar nele de transporte público. Esse tipo de transporte evita engarrafamentos e torna mais democrático o acesso ao local. Estádios precisam ser frequentados, pois somente assim conseguem ganhar significados que os tornem algo além do que uma arquitetura qualquer.

É válido lembrar que Los Larios também é o CT do clube Tigres do Brasil e diga-se de passagem um CT que aparentemente oferece boa estrutura de trenamento.


Entrada de Los Larios. Foto Leda Costa


Vista do interior. Foto Leda Costa

Foto Leda Costa

Lanchonete. Foto Leda Costa

. Foto Leda Costa

 Foto Leda Costa



Porém a impressão que tive em Los Larios é a de que estava dentro de um daqueles condomínios típicos da Barra da Tijuca. Com tudo limpo, arrumadinho e uma ostentosa entrada. Dentro desse condomínio há um estádio - não sei se esse é o nome ideal - que recebe os jogos do Tigres do Brasil.

O nome do estádio é em referência a família Larios, com destaque para Miguel Larios dono da Poland Química e que, em 2004, fundou o Esporte Clube Poland Brasil que, em 2005, virou Tigres do Brasil. 

A troca de nome é explicada no site do Tigres: "Construiu-se uma MARCA com potencial para ser trabalhada em todo o mundo: o TIGRES é um ícone identificável mundialmente e que agrega valores de força, garra e competitividade, necessários ao futebol." 

Há toda uma lógica claramente empresarial que cerca a fundação do Tigres (com episódios meio escusos) que ao que parece nasceu visando o mercado de jogadores e não necessariamente um clube concebido em seu sentido tradicional. Confesso que esse tipo de proposta me incomoda muito, acredito que Vasco, Flamengo, Bonsucesso, Olaria, Portuguesa, São Cristóvão e tantos outros clubes do Rio e do Brasil são muito mais que um simples negócio. 





Uma das coisas que me fez sentir que Los Larios não era somente um campo, foi a presença da torcida da Portuguesa da Ilha do Governador. 


Foto Leda Costa
Foto Leda Costa


Foto Leda Costa

Uma das faixas diz: Hoje temos 90 minutos de vida. Foto Leda Costa


Além da presença da torcida, preciso reconhecer que a arquitetura de Los Larios também permite certas experiências importantes aos estádios como, por exemplo, subir em alambrado. Algo que espero um dia ter forças e destreza motora para fazer.




Foto Leda Costa

Foto Leda Costa

 Com menos um em campo a Portuguesa ganhou o jogo que foi válido pela primeira fase do louco campeonato carioca 2017. Ao final, antes de entrar no carro, ouvi um "tia tira foto da gente!".

Odeio ser chamada de tia, mas atendi ao pedido.


Foto Leda Costa




Até a próxima





sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Esperando El Loco


Loco Abreu está no meio do tumulto de jornalistas. Foto Leda Costa


Há muito tempo não via Moça Bonita tão movimentada e atraindo tamanha atenção da imprensa. Havia jornalistas dos mais importantes veículos de comunicação que por horas - e debaixo de um calor incrível - aguardaram Loco Abreu entrar no gramado do estádio do Bangu, um clube que é um patrimônio do futebol brasileiro. 

Existem jogadores que conseguem, em determinados contextos, provocar esse tipo de furor. Loco Abreu é um deles. Em grande medida sua conflituosa relação com a imprensa, no Brasil, é fator fundamental para a configuração de uma imagem rebelde que costuma cativar torcedores por mostrar pouca subserviência em relação a algumas expectativas midiáticas. 

Porém, remar contra a maré da imprensa parece que gera mais interesse. Loco ainda é notícia. Sem me deter em classificações tais como herói, ídolo, celebridade, Loco é antes de tudo um personagem sofisticadamente construído por um conjunto de elementos que incluem seus feitos em campo e uma série de outros agentes da maquinaria do espetáculo que se transformou o futebol. 

Meu amigo Juan Silvera, em breve, defenderá uma dissertação sobre a passagem do Loco pelo Botafogo, enfocando seu processo de construção enquanto ídolo da torcida alvinegra.  O uruguaio marcou sua trajetória no clube carioca com a decisiva participação no título Estadual de 2010 com direito a uma cobrança de pênalti ousada, para fazer jus ao apelido Loco que lhe deu fama por onde passou.

Bernardo Buarque de Holanda já demonstrou o percurso por intermédio do qual o torcedor foi uma figura concebida como um ser irracional, o que fez com que o torcer se tornasse um gesto visto com certa inferioridade se comparado a outras modalidades de espectador.  

Embora ainda persistam certos estereótipos negativos derivados do "mito do torcedor irracional", os excessos da paixão, a loucura e tudo aquilo que transcende o limite do comedimento tem sido cada vez mais apropriado como marca identitária importante usada para singularizar o perfil de alguns agrupamentos torcedores.

A figura de El Loco Abreu cai como uma luva para os dias de hoje.  Muitas músicas que embalam, sobretudo, as chamadas torcidas de alento, têm como mote principal a celebração da loucura e das manifestações de emoções extremas. 

A torcida de alento Castores da Guilherme, do Bangu, diz:

"Somos a banda louca do Proletário/que segue o alvirubro sem, pedir nada/ mesmo sem o resultado/vamos cantando/Bangu apesar de tudo sigo te amando e te apoiando."

O que não falta nas arquibancadas do Brasil e de fora é uma "banda louca". Há nesses grupamentos ares que vem lá do Romantismo, da Contracultura, de parte do Modernismo no Brasil e outros tantos movimentos artísticos, ou não, que exaltaram a semântica da irracionalidade e, por extensão, da autenticidade. 

Loco Abreu é o tipo de jogador que se adéqua muito bem a esse imaginário.

 Se a qualidade técnica nem sempre é o seu forte, Loco mostra postura passional nos times que joga, deixando claro seu apego às vitórias com atuações em que demonstra entrega ao jogo. E além disso, Loco costuma fazer gols importantes, o que sem dúvida é fator decisivo para a boa relação que costuma manter com os torcedores. Gols importantes como aquele que ajudou a classificar o Uruguai para a Copa de 2010. As chuteiras desse jogo estão no Museu Centenário, no Uruguai, o que dá mostras da importância de Loco na história recente do futebol celeste.



Museu do Futebol. Estádio Centenário, Uruguai. Foto: Leda Costa. 

Por esse e outros fatores Loco costuma causar expectativas em muitos clubes onde chega.  Foi assim no Botafogo, no Figueirense e, recentemente, no Bangu. 

Loco Abreu é também uma "marca"  capaz de capitalizar a atenção de torcedores e dirigentes  que dele fazem elemento fundamental de estratégias de marketing. 

No caso do Bangu, o plano de marketing foi bem pensado. Loco vestirá a camisa 113 em referência a idade que o clube completará em 2017 e em referência ao número que supersticiosamente o jogador adotou como um dos seus amuletos. 


A camisa 113 foi ostentada por vários torcedores no dia da apresentação do jogador


Foto Leda Costa


Outro interessante fenômeno diz respeito a adoção do Uruguai como uma espécie de segunda pátria. Se muitos botafoguenses vestiram a celeste, creio que não será diferente com os banguenses.


Foto Leda Costa

Enquanto Loco Abreu não chegava, cada um se distraía da melhor maneira possível



Foto Leda Costa

Foto Leda Costa

Foto Leda Costa




Foto Leda Costa

Por volta das 12h20, quando a vida parecia impossível em Moça Bonita, Loco Abreu apareceu, sendo festivamente recebido pela torcida


Foto Leda Costa



No alambrado. Foto Leda Costa

Foto Leda Costa



Foto Leda Costa
  

Foto Leda Costa
Loco passou por mais de 20 clubes, espalhados pelo mundo, o que me permite pensar que trata-se de um exemplo de jogador plenamente inserido na dinâmica da mobilidade, categoria fundamental para a história do Ocidente. Mover-se mostrou-se tema caro às vanguardas do século XIX, e está diretamente relacionado à invenção de objetos como automóvel, assim como à invenção dos esportes modernos.

Se o constante fluxo de objetos é marca de uma cultura internacional  popular, para fazer uso de um termo de Renato Ortiz, chegamos ao incessante fluxo de pessoas que por prazer ou obrigação têm suas vidas marcadas por partidas e retornos.

E nas idas e vindas de Loco, chegou a vez do Bangu. 



domingo, 1 de janeiro de 2017

Minhas publicações


Livros

Sinopse: Os artigos reunidos e organizados desenvolvem uma análise reflexiva acerca do futebol e suas singularidades como fenômeno e símbolo da modernidade, catalizador de interconectividade mundial.  Segundo os autores, a Copa do Mundo, considerada um dos episódios mais significativos na história do esporte, e em especial no Brasil, historicamente vem se consolidando como instrumento potencializador de rearticulações políticas, de sentimentos nacionalistas e de valores cívicos

Coleção Biblioteca Eduff
Autores: Carlos Henrique Biscardi, Leda Costa e Martin Curi
Páginas: 192
Peso: 0,310 kg
ISBN: 978-85-228-0841-0
Eduff
2013


Capítulo de Livro 

1.

COSTA, Leda. 1982: lágrimas de uma geração de ouro. In: HELAL, Ronaldo; CABO, Álvaro do. Copas do mundo: comunicação e identidade cultural no país do futebol. RJ: Eduerj, 2014.



2. 

COSTA, Leda. Os heróis e os vilões do futebol. In: HOLLANDA, Bernardo Buarque do Holanda.  Desvendando o jogo. Nova luz sobre o futebol. Rio de Janeiro: FGV, 2013.


3.  


COSTA, Leda. Beauty, effort and talent: a brief history of Brazilian women’s soccer in press discourse. In: CURI, Martin. Soccer in Brasil. NY: Taylor & Francis, 2015




4. 



COSTA, Leda. Transumanismo esportivo? O corpo olímpico em questão. In: MONTEIRO, Maria Conceição; GIUCCI, Guillermo. Desdobramento do Corpo no Século XXI. Rio de Janeiro: Caetés. 2016.


4. 


COSTA, Leda. Futebol e gênero no Brasil: comentários a partir do filme Onda nova, In: MELO,  Victor Andrade de; ALVITO, Marcos. Futebol Por todo mundo. Rio de Janeiro: FGV. 2006






Artigos



1. COSTA, Leda. Maracanazo, adeus? Da tragédia de 1950 a vergonha de 2014 nas narrativas da derrota da seleção brasileira na imprensa. Tríade. Comunicação e Cultura. Junho de 2016 (http://periodicos.uniso.br/ojs/index.php/triade/article/view/2472)





2. COSTA, Leda. Beauty, effort and talent: a brief history of Brazilian women’s soccer in press discourse. Soccer & Society, 15:1, 81-92, 2015.  DOI: 10.1080/14660970.2013.854569 (http://dx.doi.org/10.1080/14660970.2013.854569)




3. COSTA, Leda. O que é uma torcedora? Notas sobre a representação e auto-representação do público
feminino de futebol. Esporte e Sociedade, Ano 2, número 4, Nov2006/Fev2007 (disponível em:
http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/es405.pdf)





4. COSTA, Leda. Marias-chuteiras x torcedoras “autênticas”. Identidade Feminina e futebol. Usos do Passado’ — XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006.




5. COSTA, Leda. Quem matou o futebol brasileiro? A novela da copa do mundo de 2014 na cobertura do jornalismo esportivo. Eptic. Vol. 18, nº 1, janeiro-abril 2016. ISSN 1518-2487





6. COSTA, Leda. Futebol folhetinizado. A imprensa esportiva e os recursos narrativos usados na construção da notícia (Football in feuilleton. The sporting press and the narrative resources used in the construction of news). Logos 33. Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010. 






7. COSTA, Leda. Notícias esportivas. Entre o jornalismo e a literatura. Anais do SILEL. Volume 2, Número 2. Uberlândia: EDUFU, 2011.