O que mais se discute atualmente
em relação ao campeonato carioca são os preços do ingresso. Esse assunto tem
rendido polêmica e até mesmo agressões verbais entre dirigentes cariocas.
O problema dos ingressos
certamente se relaciona a inúmeras questões cuja análise deveria ser feita sem
superficialidades e, sobretudo, não deveria se limitar a um simples
embate entre clubes e Federação.
Outro pensamento que deve ser
evitado diz respeito a imaginar que o pouco público no campeonato carioca é derivado
apenas dos preços dos ingressos.
É certo que ingressos caros
tendem a afastar o público especialmente em se tratando de jogos que por si
mesmos podem despertar pouco interesse.
Mas quando se fala da baixa média
de público no Carioca esquece-se de comentar um grave problema que há tempos é
perceptível não apenas na série A desse campeonato, mas também – e
principalmente - nas séries inferiores.
Mais grave do que o preço do ingresso, são as más
condições financeiras de clubes como Bonsucesso, Madureira, Bangu etc que frequentemente encontram dificuldade em montar times competitivos, assim como não conseguem manter seus estádios abertos ao público, por falta de condições de
cumprir as exigências do estatuto do Torcedor e da Ferj.
Sendo assim, alguns clubes – bastante tradicionais - são impossibilitados de usarem seus próprios estádios para a realização de jogos dos quais é o mandante.
Para que um estádio seja aberto ao público, a Ferj exige os seguintes laudos: Vigilância Sanitária, Polícia Militar, LPCI (laudo de proteção contra incêndio) e o LVE (laudo de vistoria e engenharia, feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).
Para que um estádio seja aberto ao público, a Ferj exige os seguintes laudos: Vigilância Sanitária, Polícia Militar, LPCI (laudo de proteção contra incêndio) e o LVE (laudo de vistoria e engenharia, feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).
Até o dia 29 de janeiro, segundo documento emitido pela FERJ, Resolução da Diretoria, RDI Nº 004/15, estavam impossibilitados de
receber público os seguintes estádios:
♦AD Cabofriense – (Estádio
Alair Corrêa)
♦ Bangu A.C – (Estádio
Guilherme da Silveira Filho)
♦ Barra Mansa FC – (Estádio
Leão do Sul)
♦ Bonsucesso FC – (Estádio
Leônidas da Silva)
♦ Botafogo FR – (Estádio
Olímpico João Havelange)
♦ Nova Iguaçu FC – (Estádio
Jânio de Moraes)
♦ Resende FC – (Estádio do
Trabalhador)”
Por esse motivo, domingo, dia
01/02, o Resende teve que jogar com o Bonsucesso longe de sua casa, assim como
o clássico do subúrbio carioca Bangu X Madureira foi realizado, nesse mesmo dia, em Los Larios,
em Duque de Caxias.
Escolhi
o jogo Resende X Bonsucesso para inaugurar a Caravana do Cariocão 2015, porque
ele me parecia ser um exemplo interessante para demonstrar que o baixo público
do campeonato Carioca tem explicações que não se limitam aos preços de
ingresso, mas que são parte componente de um conjunto de problemas que envolve
a organização do futebol no Rio de Janeiro e no Brasil de um modo geral.
O
público presente no jogo Resende x Bonsucesso foi de 350 pessoas.
Esse
número parece pequeno e de fato o é, se não levarmos em consideração as
condições da realização da partida.
Na
verdade, 350 pagantes constitui um milagre futebolístico, porque quando saí de
casa, achei que eu seria uma das únicas pessoas a estar sentada nas
arquibancadas do Giulite Coutinho.
Apresento
aqui nesse post uma fórmula bastante eficaz para que um jogo de futebol tenha
um público baixo, mesmo dentro de um campeonato com repercussão midiática como
o Carioca.
Públicos
baixos como o de Resende X Bonsucesso se soma às estatísticas gerais dessa
competição sem que se avalie suas especificidades que, muitas vezes, são
desconsideradas não apenas pela imprensa esportiva como pelos gestores do nosso
futebol.
Os estaduais e os circuitos locais
O
Resende foi fundado em 1909 e o Bonsucesso em 1913 e, mesmo centenários, por
diversos motivos eles não conseguiram uma projeção futebolística para além das
fronteiras locais.
Time do Resende. Fonte: http://www.resendefc.com.br/2010/view.php?show=9&pag=32 |
Os
chamados clubes de menor investimento costumam ter seu público torcedor e espectador atrelado a uma geografia local, circunscrita, sobretudo, a bairros. Além desse
aspecto, é comum que o público que assiste a jogos envolvendo esse tipo de
clube, seja formado não por indivíduos motivados pelo pertencimento clubístico,
mas que estão no estádio para torcer circunstancialmente pelo time que representa o bairro
onde mora. Pessoas que vão para torcer por um clube que é parte componente de
sua memória e da paisagem urbana que o circunda.
Sendo assim, é importante que jogos de clubes como Bonsucesso, Madureira,
Resende entre outros sejam realizados em praças esportivas no mínimo próximas
aos locais aos quais esses clubes têm sua história atrelada.
O
clube Resende nasceu na cidade homônima que fica a 167 km de distância do Rio de Janeiro:
Especificamente em relação ao bairro de Edson Passos, no município de Mesquita, onde se localiza o estádio Giulite Coutinho, são 137 Km:
O mando de campo do jogo de domingo era do Resende, o que significa que o ideal era que a partida fosse realizada no seu estádio, o Estádio do Trabalhador. Mas esse estádio, até o dia do jogo, ainda não tinha seus laudos aprovados.
Por outro lado, o Bonsucesso é time do subúrbio homônimo e que fica localizado a razoável distância da Baixada Fluminense.
Para o público dos bairros do entorno do Giulite Coutinho, Resende X Bonsucesso mostrava-se pouco atraente enquanto espetáculo já que unia dois clubes que estão fora do circuito principal do futebol carioca.
Portanto, é de se espantar positivamente que 350 pessoas tenham estado presentes ao jogo:
Porque ainda existem milagres no futebol....
Milagroso também foi o público do estádio de Los Larios, cerca de 900 pessoas para assistir Bangu X Madureira. Ótimo público, em se tratando de um jogo realizado no estádio do Tigres, da Baixada Fluminense, envolvendo dois clubes do subúrbio carioca, ambos com estádios, ainda, vetados para receber partidas do Carioca.
Sendo assim, públicos baixos não se explicam somente pelo preço do ingresso, mas deve-se a outros fatores que se relacionam a um complexo panorama do futebol brasileiro.
Em seu próximo jogo, o Resende poderá usar seu próprio estádio para jogar contra o Tigres, já que o que Estádio do Trabalhador foi liberado pela Ferj através da Resolução da diretoria, RDI nº 006/15.
Não há garantias de que o público desse jogo seja muito maior que o do Giulite Coutinho, mas pelo menos a equipe não precisará de um deslocamento tão gigantesco para jogar a partida e os prejuízos financeiros podem ser menores.
RESENDE X BONSUCESSO
Desde 2002, o Giulite Coutinho não recebia jogos da Série A do Carioca. Recentemente, esteve fechado para reformas no gramado, sistema de irrigação, assim como pintura do estádio e outras obras visando torná-lo apto a receber jogos da série A, incluindo os do time grande.
Em comparação a minha última visita, o Giulite de fato está modificado, especialmente na pintura, onde o vermelho está mais vivo.
Pela primeira vez fui a essa estádio usando transporte público e a melhor opção é o trem, ramal Japeri. É preciso saltar na Estação Edson Passos, de onde do alto da passarela já é possível avistar os refletores do estádio.
O acesso não é difícil podendo-se chegar de trem ou de ônibus. Em relação ao centro do Rio, trata-se de uma viagem um tanto longa. Em relação aos subúrbios do Rio, dependendo do local se faz necessário um certo planejamento, podendo ser necessário o uso de mais de um transporte público.
Este ano, o estádio está liberado para receber jogos dos times "grandes" do Rio de Janeiro, o que particularmente acho ótimo.
Para Resende x Bonsucesso, o ingresso custou R$ 10,0.
Para Resende x Bonsucesso, o ingresso custou R$ 10,0.
A caminho das arquibancadas, passamos bem próximo ao gramado. Lá ao fundo o jogo preliminar Resende X Bonsucesso, categoria Sub-20.
Nas arquibancadas cobertas foi feita uma divisão entre as torcidas. Do lado, ficou a torcida do Resende:
Bem de pertinho, podia-se ver o aquecimento e a oração dos jogadores do Resende:
No meio desse grupo havia um flamenguista
Na arquibancada de frente podia-se avistar um torcedor - ou espectador- solitário:
Do lado esquerdo das arquibancadas cobertas, estava a torcida do Bonsucesso em maior número e contando com a presença de torcedores de carteirinha como é o caso do George:
George e o grupo de torcedores do Bonsucesso:
No campo o jogo rolava com certa vantagem do Resende que se apresentou melhor organizado taticamente, melhor preparado fisicamente e que já nos 16 minutos do primeiro ganhava o jogo por 1 x 0 com gol de Geovane Maranhão.
No segundo tempo o Bonsucesso bem que tentou, sobretudo, com insistentes cruzamentos na área:
Um jogo tecnicamente fraco e pouco emocionante, em uma tarde chuvosa de sábado:
Jogos fracos e pouco emocionantes podem ser facilmente encontrados no campeonato brasileiro, isso não é uma exclusividade dos Estaduais e dos times considerados menores.
O que particularmente me preocupa é grande parte das discussões em torno dos estaduais, especialmente, do Rio de Janeiro, desconsideram que se quisermos de fato melhores públicos e melhores jogos, é preciso que se pense em formas menos predatórias de distribuição de ganhos entre os clubes.
Abismos financeiros tem sido criados entre os clubes de futebol no Brasil, tornando muito difícil a existência de clubes tradicionais do cenário nacional.
O
circuito principal do futebol no Brasil, como já foi dito aqui diversas vezes,
tem se tornado cada vez mais restrito a clubes que conseguem acompanhar – mesmo
que de modo um tanto precário - o ritmo mercadológico do futebol atual.
Grande
parte dos clubes brasileiros não possui condições de ir além das fronteiras dos
estados e sua atuação se restringe a competições regionais, em suas diversas
divisões e modalidades. Sendo assim, campeonatos regionais como o Carioca, Copa
Rio, Copa São Paulo, Campeonato Paulista etc., são a única possibilidade de
atuação de diversos clubes no Brasil.
Quando
se cogita em acabar com os Estaduais por ele se mostrar um campeonato inadequado
aos tempos atuais e por se considerar que ele toma demasiado tempo no
calendário dos clubes, há de fazer uma importante ressalva: os estaduais tomam tempo dos
clubes que dele podem prescindir.
Clubes
como Bonsucesso, Bangu, Olaria, São Cristóvão e América existem aos montes no Brasil e
seu calendário se resume a uma parte mínima do ano, aquele preenchido por
competições locais.
Sendo
assim, sempre que se fala em extinção dos estaduais me dá arrepios. Caso isso
seja feito sem que se encontre competições que cumpram esse papel junto aos chamados
pequenos, corremos o risco de vermos clubes centenários extintos.
Por outro lado, com estaduais organizados do modo como ocorre no Carioca, corre-se o risco de banalizar ainda mais o futebol.
O fato é que enquanto as Federações enriquecem, diversos clubes empobrecem cada vez mais. e montam times ruins, pouco competitivos e que não atraem novas adesões de torcedores.
Eu concordo com essa frase.
Não apenas o América, mas diversos outros clubes são patrimônio futebolístico e precisam ser mantidos vivos.
Sem saudosismos românticos e consciente de que estamos em um novo tempo é de se pensar seriamente em uma organização que possibilite que o Brasil tenha uma cultura futebolística mais plural.
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