Sábado, 18 de outubro, abri meu
armário e pus pra fora a camisa listrada do Madureira Futebol Clube que comprei
na última vez que estive no Estádio Aniceto Moscoso, há cerca de dois meses
atrás
Naquela ocasião fui assistir a
Madureira X Guarani em jogo da terceira divisão.
O jogo de sábado passado, dia 18 de outubro, contou com a presença da
imprensa, chegando a merecer uma matéria – de menos de meia página – publicada
no caderno de esportes da edição de domingo do jornal O Globo.
A tarde estava fresca, um dia ótimo para se assistir a um jogo de futebol.
A torcida mista do Madureira
Essa promoção foi posta em prática
de modo confuso, com pouca informação ao público e pouca organização na troca
de ingressos, o que provocou uma perigosa aglomeração de pessoas na porta de
entrada do estádio.
Um policial tentou por ordem na
fila, porém ele estava visivelmente nervoso e despreparado para a situação:
Há certas misturas que são fatais
para o desencadeamento de tumultos em estádios: falta de informação, falta de
organização, falta de entradas suficientes para o público (havia apenas uma
pequena) e policiais despreparados. Se o público presente de fato fosse em sua
maioria formada por torcedores do Madureira, ávidos por ver o jogo, teria
havido muita confusão como aquelas que cansamos de ver antes de jogos em São
Januário ou mesmo no Maracanã.
Entrei no estádio apenas no final
do segundo tempo.... o que foi bestante irritante
O estádio estava cheio. Um mosaico
de camisas dos clubes cariocas compunha o público das arquibancadas. Mesmo na
parte em que ficaram reunidos os agrupamentos das organizadas do Madureira, podia-se
ver lado a lado indivíduos botafoguenses, vascaínos, flamenguistas e
tricolores. Um dos instrumentos de percussão de uma das torcidas organizadas do
Madureira era tocado por um rapaz que trajava uma camisa do Botafogo.
A ideia dessa promoção é
compreensível dada a vontade de encher o estádio em um dos mais importantes
dias da história do Madureira que tinha possibilidades reais de dar largos
passos para a série B do Campeonato Brasileiro.
Encher o estádio também se
justificava dada a péssima média de público dos jogos do Madureira.
Contabilizando o público de toda a primeira fase da Série C – 18 rodadas – o
Madureira foi dono da segunda pior
média, perdendo apenas para o Duque de Caxias. Cerca de 274 pessoas em média
assistiram aos jogos do tricolor suburbano (Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-c/publico-seriec.html)
Por outro lado a composição mista
das arquibancadas no sábado, me causou certo estranhamento e me fez pensar que
teria sido mais interessante uma promoção que objetivasse encher o estádio com
as cores do Madureira, fortalecendo velhos e construindo novos laços de
identificação com os símbolos do clube.
Essa composição mista seria interessante de ser futuramente
investigada a fim de lançar novas perspectivas sobre os modos de torcer.
O galo maluco
Em relação ao time do CRB há de se
destacar que um bom número de torcedores esteve presente no Aniceto Moscoso.
Antes da partida era possível vê-los andando pelas ruas de Madureira ostentando
bandeiras, camisas e cantando “nós somos
Galo, Gaaalo maluuuuuco”!
Resolvi seguir alguns que seguiram
pelo Mercadão de Madureira, pelas ruas do bairro
e acabei encontrando o bar onde a maioria se reunia. Lá fui recebida – e muito bem recebida - por torcedores e torcedoras que enfrentaram uma viagem de Alagoas ao Rio.
No caso da torcida do CRB não vi
mesclas de camisas de outros clubes. Vi camisas variadas comemorativas ao
centenário do clube ou aquelas típicas retrôs, o que indicava que poderia haver
um bom investimento na comercialização de produtos licenciados pelo CRB. E de
fato parece que há. Fui ao site do clube onde podemos ser direcionados para a
loja virtual na qual se pode adquirir uma variedade de roupas e objetos ligados
ao CRB
A estrutura mercadorizada e
espetacularizada da qual participa os principais clubes do país também é apropriado
pelos chamados clubes de “baixo investimento” se traduzindo em lojas virtuais e
físicas, e no licenciamento de produtos vendidos ao torcedor, assim como oferecendo
programas de sócio-torcedor.
No contexto atual globalizado em que jogadores
de futebol se transformam em celebridades midiáticas consumidas mundialmente
por públicos amplos, não é muito fácil - sobretudo para os clubes que estão
fora do circuito principal futebolístico – a manutenção de seus torcedores.
Por outro lado, esse mesmo impulso
globalizante é capaz de fortalecer os laços locais importantes para a
manutenção do pertencimento clubístico, sentimento que move os torcedores
independentemente da divisão às quais seu time joga. O CRB parece ter uma força
local grande, com a conquista de diversos títulos estaduais e nutrindo com o
CSA uma forte rivalidade de longa data.
Debaixo do sol e ao lado e
cercados por um “cordão de isolamento” a compacta massa vermelha dos torcedores
do CRB assistiram à vitória do time por 2 x 1.
Às vezes se ganha mesmo perdendo
O Madureira saiu de campo
aplaudido pela maioria dos que estavam no estádio, seja pelos torcedores de
ocasião, seja por aqueles que acompanham o time com mais frequência.
Em alguns jogos que fogem ao
circuito principal do futebol brasileiro, a vitória e a derrota podem adquirir
sentidos diferentes. Os aplausos dados ao Madureira se justificam em primeiro
lugar porque o público não era formado exatamente pelo que convencionamos a
chamar de torcedores, muito menos por indivíduos movidos pelo “pertencimento clubístico”
já mencionado.
O horizonte de expectativas que
cerca times como o Madureira é um tanto limitado e há um certo nível de
consciência em relação à sua realidade difícil, o que faz com que muitas vezes
o simples fato de se chegar às quartas de final de um campeonato da terceira
divisão possa significar uma espécie de vitória.
Entretanto a rotina de derrotas e
a dificuldade em participar de competições mais regulares ao longo do ano pesa
financeiramente para os clubes e torna ainda difícil sua manutenção assim como
a formação de novos torcedores.
O abismo econômico entre os clubes
no Brasil se evidencia quando frequentamos jogos que vão além daqueles que
compões as primeiras páginas dos jornais esportivos.
Esse aspecto é bastante preocupante.
O risco de desaparecerem do mapa futebolístico sempre ronda os chamados clubes
de menor investimento.
Torço imensamente para que isso não ocorra.
Seja como for fim de semana que vem tem o jogo de volta.
Ahhhhh se eu pudesse...
Iria a Maceió
Nenhum comentário:
Postar um comentário