quinta-feira, 21 de agosto de 2014

As voltas que o mundo dá: Madureira X Guarani (série C do Brasileirão)






Depois da goelada sofrida pela seleção brasileira, muito tem se falado na imprensa a respeito da necessidade de mudanças no futebol nacional.

Já faz tempo que o futebol brasileiro demonstra claros sinais de que mudanças se fazem necessárias para evitarmos que futuramente sejamos forçados a contar nos dedos o número de clubes em atividade profissional no país.

Esta semana por exemplo os jogadores do Barueri não entraram em campo para jogarem contra o Operário- MT pela série D do Campeonato Brasileiro. Em solidariedade os jogadores do Operário deitaram no gramado, protagonizando uma cena que particularmente me impressionou e me entristeceu bastante.


Fonte: http://www.lancenet.com.br/gremio-barueri/solidariedade-elenco-Barueri-jogadores-Operario-MT_0_1193880786.html#ixzz3ArYSZnA3


O abismo econômico entre clubes que ganham milhões e outros que sobrevivem a duras penas pode aumentar com o tempo, tornando o futebol brasileiro cada vez mais pobre e cada vez mais limitado a uma meia dúzia de times capazes não somente de disputarem títulos, mas até mesmo de se manterem ativos.


Muita gente assiste a campeonatos como o Espanhol, Francês ou mesmo o alemão contentando-se em ver disputas já de antemão limitas a dois ou três times riquíssimos e que dificilmente perderão para clubes de investimento mais modesto.

O futebol não é tão caixinha de surpresa assim, sobretudo enquanto continuar a ser uma caixinha de altas rendas, distribuídas de modo pouco igualitário.


Acho importante que os jogadores estejam mais atentos a seus direitos e que movimentos como o Bom Senso Futebol Clube de algum modo reivindiquem mudanças que visem uma maior seriedade e profissionalismo na gestão do esporte mais popular do país.


Cair e subir de divisão faz parte da dinâmica esportiva. O que é problemático e triste é vermos clubes de futebol afundarem-se em crises financeiras perigosas e que certamente refletem no futebol praticado em campo.


Sábado vi um jogo da série C do campeonato Brasileiro e no gramado estava um time que em 1978 foi campeão da série A.

Faz parte da vida essas quedas. Mas no caso do Guarani chama a atenção o fato de que desde 2001 o clube de Campinas acumula vários rebaixamentos


"2001 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (15° de 16 equipes)
2002 - Rebaixado no Rio-São Paulo (12° de 16 equipes)
2004 - Rebaixado na Série A do Brasileiro (22° de 24 equipes)
2006 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (17° de 20 equipes)
2006 - Rebaixado na Série B do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2009 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (19° de 20 equipes)
2010 - Rebaixado na Série A do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2012 - Rebaixado na Série B do Brasileiro (18° de 20 equipes)
2013 - Rebaixado na Série A1 do Paulista (20° de 20 equipes)"

(Fonte: http://placar.abril.com.br/materia/rebaixamento-do-guarani-foi-o-nono-neste-seculo)


Dias antes do jogo contra o Madureira, o Guarani conseguiu pagar a jogadores parte de salários atrasados do mês de junho (http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,guarani-quita-salarios-atrasados-apos-pagar-com-cheque-sem-fundo,1544055)

Vi em campo um time que veste uma camisa que ostenta uma estrela de campeão brasileiro da primeira divisão, título conquistado com um gol de Careca, um dos meus ídolos do futebol.


E do outro lado estava o Madureira, o trem bala do Mercadão, um clube do subúrbio carioca que tem uma história cativante e que neste ano completou 100 anos!!!


Ambos os times na série C do Brasileiro que recebe quase que atenção nenhuma da imprensa.


Até quando nos limitaremos a criticar o futebol brasileiro tendo como base somente os resultados da seleção masculina.

O futebol das seleções não necessariamente é um índice seguro para se avaliar a organização desse esporte em clubes e federações em seus países.

O 7 x 1 por si só não diz muita coisa. O futebol brasileiro precisa de mudanças há muito tempo, mudanças rumo a uma gestão com penhor democratizante e menos exclusivista que vise um futebol diversificado e cujos clubes sejam capazes de se autossustentar e conseguirem condições de disputarem campeonatos com chance de conquistas.



 Madureira X Guarani

Depois de tanto tempo surgiu uma ótima oportunidade de curtir uma tarde de sábado nos braços do futebol.

Ah, mas vida de pesquisador não é fácil. Nesse mesmo sábado, dia 15 de agosto, meu time de coração jogaria.

Uma dúvida imensa me perseguiu ao longo da semana.

Queria muito ir a São Januário, mas também queria ver Madureira e Guarani, já que nunca havia visto algum jogo do time de campinas em estádio.


Decidi ir a Madureira porque o projeto Caravana é sério e precisa estar sempre em movimento.

Por isso, na tarde de sábado vesti a camisa do Madureira e fui para o Aniceto Moscoso

Essa camisa é comemorativa da visita que o América fez a Cuba, sendo recebido em um jogo por Che Guevara (já falamos aqui sobre esse momento)


O bairro de Madureira fervilha aos sábados, sobretudo nas proximidades do Mercadão.

Antes de entrar comi pipocas nessa barraca que fica bem em frente ao clube. Os preços são variados, dependendo do tamanho do saco da pipoca. Vale à pena.





E o estádio do Madureira fica encrustado no meio da teia do comércio do bairro, em frente à estação de trem e cercado de engarrafamento 




Uma das facilidades que temos em jogos de pouco apelo midiático é podermos flagrar de perto momentos como a chegada dos jogadores. Os jogadores do Guarani chegaram por volta das 15h.







 Já dentro do clube, na lojinha, comprei duas lembranças do Madureira. Uma camisa, a mais próxima possível do clássico uniforme tricolor do subúrbio. Só havia o modelo masculino, problema não exclusivo ao Madureira. 

Cheguei a pensar que por ser tamanho M ela caberia em mim, mas...





Minha outra aquisição foi um belo relógio comemorativo aos cem anos do Madureira e que se juntou a minha humilde coleção:




Depois desses momentos de consumismo futebolístico fui em direção às arquibancadas, onde já somos avisados que ali só se torce para o Madureira






 


Em campo, o time do Guarani treinava debaixo de um sol típico do inverno carioca. 



O Guarani assim se chama em homenagem à peça do campineiro Carlos Gomes, O Guarani, peça essa baseada no romance homônimo de José de Alencar.

O clube foi fundado em 1911, portanto tem 113 anos.

Em 1978 foi campeão brasileiro com time que tinha Careca e o ídolo Renato, que teve uma biografia escrita pelo jornalista João Nunes, lançado em 2004







Fonte: http://www.futebolinterior.com.br/futebol/Guarani-SP/noticias/2014-05/Jornalista-lanca-biografia-de-Renato-idolo-da-historia-do-Guarani


Hoje, em 2014, o Guarani disputa a série de C do Campeonato Brasileiro e está em 8o lugar do Grupo B, com 12 pontos, bem pertinho da zona de rebaixamento (os dois últimos de cada grupo irão para a série D). Até o momento foram 11 jogos com apenas duas vitórias.

Preocupante...

O mais importante jogador do Guarani é Fumagalli que teve bom desempenho no vice-campeonato paulista de 2012.

Todas as jogadas passam por Fumagalli, que bate falta, escanteio e obviamente tenta fazer gols


Mas ao longo da partida as chances de gol foram mínimas para as duas equipes. O jogo foi muito, muito fraco, o que poderia ter sido compensado com um pouco mais de disposição das equipes. Pelo menos assim, algum tipo de emoção teríamos.

Sobrou tempo para eu observar bastante o novo uniforme do Madu


Não entendo essa mania recente de se fazer uniformes que fogem muito às cores que caracterizam o clube. 

Cadê o amarelo? o azul escuro e o vermelho?

Não se trata de tradicionalismo ferrenho, mas as cores de um clube são algo que os marca assim como a nós torcedores.








Mas enfim como diria João Saldanha, vida que segue .... assim como o jogo. 

E seguiu sem bolas na trave, sem defesas milagrosas, sem gols perdidos, sem aqueles momentos huuuuuuuu.

Cabia ao Madureira ditar o ritmo do jogo, porque uma vitória colocaria o time em primeiro lugar no grupo B. E além disso, o time jogava em casa.

Mas tenho a impressão que às vezes jogar “em casa” pode provocar efeitos contrários aos desejados pelos torcedores. 

Muitos times recuam ou ficam com medo de se arriscar.

Nesse jogo, tive a impressão de ter visto dois times com receio de ir ao ataque
.
Na verdade há de se dizer que vi dois times com sérios problemas para chegarem ao ataque. Não posso julgar por outros jogos, pois este foi o primeiro que vi de ambas as equipes.

Mas o que vi foi um futebol muito tímido e pouquíssimo atrevido.

O Madureira que no Cariocão costuma arrancar pontos dos times com mais investimento, parecia se contentar com o empate.

Embora nos últimos cinco minutos, o Madureira tenha tentado de modo mais organizado e efetivo, chegar ao gol, a impressão que tive é que mesmo que se passassem mais duas horas de jogo, o empate continuaria.


E o resultado final foi 0 X 0. E mesmo se o jogo continuasse por mais duas horas, acho que o resultado se manteria.






Entretanto sou do tipo de boleira que presta mais atenção no entorno do que no jogo propriamente dito.

E esse entorno consiste basicamente nos acontecimentos da arquibancada, ou melhor do estádio como um todo.

Especialmente tudo que diz respeito à torcida.

E em relação à torcida, sempre há o que se falar.



Os Morféticos e a crueldade torcedora

Já enquanto o Guarani treinava, sua torcida pendurava as bandeiras. Uma delas em protesto estava de cabeça para baixo:



Outras bandeiras foram colocadas normalmente:



Desta vez fiquei pouco tempo nas sociais.Tempo suficiente para tirar a foto das crianças da escolinha de futebol e uma foto já clássica dos meus pés de tênis rosa









Fui para o outro lado, onde o sol bate o tempo todo e onde os Ultra ficam









A torcida do Madureira estava bastante festiva e agitada. Torcida criativa que canta o tempo inteiro, incluindo o parabéns para você







Mas tem sempre aquele torcedor mais solitário e sofrido, que presta atenção ao jogo do início ao fim e que de tanto sofrimento mal consegue cantar, preferindo quase sempre os gestuais, os gritos, os lamentos...

Esse tipo de torcedor que se contorce o tempo todo ficou bem próximo a mim. 

Chegou com a bandeira dobrada e como num ritual, a abriu e estendeu nas cadeira, enquanto andava para lá e para cá gritando de modo exaltado a cada erro e acerto dos jogadores









No segundo tempo sentou-se à minha frente um torcedor do Guarani, também exaltado e que me contou da angústia de ver seu time na terceira divisão. 

Embora tenha dito que entende o quanto é difícil para um jogador atuar em times com condições financeira precária, como é o caso da Guarani, esse torcedor não poupou nenhum jogador de diversos xingamentos.

Estádios pequenos são campos de tortura para os ouvidos dos jogadores que têm que conviver com todo tipo de hostilidade verbal.

Esse torcedor do Guarani era especializado em chamar os jogadores de "seus morféticos!... vão jogar em time de botão"! 

Torcedor é um bicho cruel.... 

Seus gritos ecoavam pelo estádio e a torcida do Madureira reagiu






Conversei durante um tempo com esse torcedor que é de Campinas e mora no Rio há 4 anos. Nossa conversa foi basicamente feita de lamentações e das lembranças que ele carregava de um time que já fora campeão brasileiro. 





 A convivência entre as torcidas foi pacífica, certamente com provocações, porque a jocosidade faz parte do futebol 











Caminhando para a saída do estádio Samuca, personagem conhecido da Geral do Maracanã, pediu para tirar uma foto




 Assim voltei para casa pensando que ainda daria tempo de ver o o final do jogo do Vasco e deu....







  

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