terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Carnaval, futebol e muito calor: Nova Iguaçu x Boa Vista



Domingo, 23 de fevereiro de 2014.

Nesse dia, já às 7 da manhã, a média de temperatura no Rio de Janeiro era de 29 graus. Isso segundo o site do Climatempo.

Acordei bem mais tarde que isso e com a impressão de que o dia não seria tão quente assim.

Segui com essa impressão até pisar em Nova Iguaçu, por volta das 15h.

Em solo Iguaçuano a sensação térmica era muito mais alta daqueles 29 graus, beirando os 44 pelo menos.

Isso porque o termômetro marcava 41oC. E isso porque ainda não havia começado a caminhar debaixo do sol para chegar ao estádio.

Mas de um modo ou de outro estou acostumada com essas temperaturas. Quem não estava e sofreu um pouco mais que eu foi Anne, a alemã que acompanhou a Caravana, filmou nossa viagem de trem e acima de tudo foi uma ótima companhia.

Anne estava a serviço de uma TV Bávara e com disposição nos seguiu na direção de Nova Iguaçu. Mas antes almoçamos no Bar Lamas, um local histórico para o futebol


Café Lamas Restaurante, "o Moulin Rouge do remo e do futebol

O Café Lanas Restaurante é um recanto tradicionalíssimo no Rio de Janeiro. Tem um ótimo Chop e pratos muito bons, sobretudo, para quem gosta de carne como eu. O bife a milanesa, por exemplo, é imperdível. 

Porém, não poderei comer carne vermelha durante um ano e tive que me contentar em almoçar salada de batata e um omelete de legumes. 

Para piorar comi rápido e pouco, pois estávamos com pressa por causa do trem que sairia às 14h da Central do Brasil.

Mesmo que com pressa é sempre ótimo estar no Lamas:




Como dá pra ver no copinho, o Lamas foi fundado em 1874!!!

São 140 anos de vida e de uma vida que comportou momentos importantes para o esporte carioca, especialmente para o time do Flamengo.

Vale lembrar que o primeiro endereço do Lamas foi no Largo do Machado

Lamas, em 1918,  inicialmente situado na  Rua do Catete  Nº 295. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=877776&page=80

Esse endereço foi altamente frequentado por atletas de remo e futebol.

O imaginário popular que circunda o Flamengo tem no Lamas um cenário importante, por isso cito um trecho do Histórias do Flamengo, de autoria do meu querido Mário Filho. Era para o Lamas, que segundo Mário Filho, os atletas do Flamengo tocando reco-reco, se direcionavam para comemorar alguma vitória

O reco-reco transformou-se transformou-se num bloco que saía toda vez que o Flamengo conquistava uma vitória no remo ou no futebol.

(...)

Juntava-se gente na calçada. Que era? Era o Flamengo. Ou os rapazes do Flamengo (...) O bloco rubro-negro ia espalhando alegria pelas ruas afora até o Largo do Machado, onde fica, hoje, ignorado, soturno, o Lamas, que era uma espécie, mal comparando, de um Moulin Rouge do remo e do futebol.

Lá se comia, além da média, de pão com manteiga, ovos mexidos com presunto e se jogava bilhar até altas horas da noite, madrugada a dentro, a fumaça dos cigarros espalhando-se em ondas cada vez mais espessas e se discutia aos gritos. (FILHO, Mário. Histórias do Flamengo. Rio de Janeiro: Record, 3a edição, 1966, p. 11)

Em 1974 por causa da construção do metrô, o Lamas mudou de endereço e foi para onde está até hoje, na Rua Marques de Abrantes 18-A.

Foi uma mudança territorial não muito radical, afinal o Lamas está a passos do Largo do Machado o que provavelmente contribuiu para que ele continuasse um local "aurático" no que diz respeito não apenas ao futebol, mas ao remo, o esporte que já foi o mais popular do Rio.


O início da Viagem

Após um breve almoço fomos correndo pegar o Metrô para saltarmos na Central do Brasil e embarcarmos em um trem rumo a Nova Iguaçu. Corremos porque nos finais de semana, o horário dos trens é um tanto complicado, digamos assim. Os intervalos entre as saídas dos trens chega a uma hora, o que é muito, se compararmos ao metrô, por exemplo.

Mas pelo menos a linha Japeri circula até a noite, pois o mesmo não corre em linhas como a de Belford Roxo cuja circulação é interrompida por volta das quatro da tarde.

Transporte público em dia de semana já não é o melhor dos mundos e quando chega o fim de semana as coisas podem ficar bem mais difíceis, especialmente quando se trata da Baixada Fluminense.

São poucos os ônibus, são poucas as vans e o melhor transporte é sempre o trem.

Conseguimos pegar o trem das 14h em direção a Japeri.   Graças a Deus demos sorte e pegamos um trem novo, com ar condicionado e bonitinho, afinal não é sempre que isso ocorre.

Embora fosse final de semana a central do Brasil estava agitadíssima, por conta do carnaval.

Havia um fluxo constante de idas e vindas de foliões e no vagão que ficamos muita gente fantasiada indo para madureira, onde a maioria ia para o bloco Timoneiros da Viola.



Confesso que fiquei com certa inveja, porque também queria ir para o :bloco de Paulinho da Viola um dos meus compositores favoritos e antes de tudo um portelense como eu...

Contive a inveja e pensei: isso é Caravana, às vezes caminha na contramão da maioria. Esse pensamento me trouxe conforto, ainda mais sabendo que tudo isso era em nome do meu velho e fiel amigo futebol.

Anne deu sorte, porque o trem é um espaço rico em termos de criatividade humana, por mais que isso às vezes de fato possa irritar. Porém, o vai e vem dos vendedores, a mistura de pessoas, de discursos, de estilos, olhados com certa distância pode representar uma ótima oportunidade de observação e contato com alteridades diversas.

Anne nossa alemã foi filmando tudo ao redor:



Até que chegamos ao nosso destino e logo fomos em busca de informações de como chegarmos no estádio. 

Descemos a estação  e fomos em direção da Rua Getúlio de Moura e do calçadão de Nova Iguaçu, onde logo na esquina havia um ponto de vans. 

Perguntei ao motorista de uma delas como se chegava ao Nova Iguaçu Futebol Clube, o que ele não compreendeu de imediato. Expliquei que íamos ao jogo no Laranjão, foi então que ele disse "ah tá, deixo vocês bem perto de lá"....

Ficamos esperando a saída da Van, felizes de não estarmos perdidos:




Mas ... 


Se existe o Nova Iguaçu Futebol Clube, também existe o Esporte Clube Iguaçu que existe desde 1912 e provavelmente está mais enraizado na memória do morador iguaçuano do que o NIFC fundado em 1990. O Esporte Clube Iguaçu já teve time de futebol que participou de algumas competições ligadas a Liga de Nova Iguaçu e chegou a disputar a série C do campeonato carioca, nos anos 2000, mas logo depois desfez seu time.


Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=28695

Foi na esquina desse clube que fomos parar.... 




Rapidamente percebemos que estávamos no lugar errado.

Até que seria possível irmos a pé até o Laranjão, mas levaria tempo e já eram 15h40, por isso pegamos outra Van que aliás era da mesma linha daquela que havíamos acabado de descer:




No final deu tudo certo.


O clube, o sol, o cansaço e as torcidas


Finalmente,  chegamos ao Nova Iguaçu Futebol Clube, debaixo de um sol escaldante:





Logo na chegada encontramos a torcida do Boa Vista com quem conversamos por alguns minutos, especialmente com Naniara, uma das líderes da torcida:



Líder da torcida não apenas feminina, mas segundo seus colegas da torcida como um todo.


Particularmente fico fascinada quando vejo mulheres no mundo futebolístico aparecendo de modo atuante como é o caso da Naniara. Isso porque creio que o futebol ainda é um território ainda muito relacionado a valores considerados como masculinos. Essa relação é visível nas propagandas, no canto das torcidas ou no próprio marcado consumidor futebolístico.

Como mulher, pesquisadora e torcedora desejo um futuro mais plural para as torcidas de futebol.


















Bem pertinho encontramos torcedores do Nova Iguaçu e olha a Naniara de novo!

 










Entramos no Clube, um clube aliás muito simpático, bem organizado e que claramente se orgulha de formar jogadores:




 






Não vou me alongar no Clube Nova Iguaçu cuja história já foi mencionada aqui mesmo neste blog.

Vamos para o jogo e para o estádio





 Torcida adversária sofrendo com o sol. E olha quem tava lá:










Mas entre todos os torcedores presente nenhum se mostrou tão entusiasmado quanto esse flamengusta. Flamenguista?????

Ele comemorou muito o primeiro gol do Nova Iguaçu:




E comemorou mais ainda o segundo gol:



 



Mas o flamenguista tinha uma concorrente, a tia do jogador Belarmino



 No intervalo, podia-se comer e beber sem preços abusivos:




Enquanto isso na tribuna de imprensa...



Como já disse Mário Filho e eu repito: o futebol é uma varinha de condão. Andando pelo estádio encontrei um aluno meu, sim porque o mundo tem 30 pessoas. Esse aluno em sala de aula é um doce de menino, mas digamos que fala um pouco demais durante a aula.

Porém no jogo do Nova Iguaçu, notem a seriedade do rapaz....





Final de jogo: Nova Iguaçu 3 x 0 Boa Vista









 Cadeiras do Maracanã aguardando serem usadas...




Até a próxima:





Nenhum comentário:

Postar um comentário