Domingo, 23 de fevereiro de 2014.
Nesse dia, já às 7 da manhã, a média de temperatura no Rio de Janeiro era de 29 graus. Isso segundo o site do Climatempo.
Acordei bem mais tarde que isso e com a impressão de que o dia não seria tão quente assim.
Segui com essa impressão até pisar em Nova Iguaçu, por volta das 15h.
Em solo Iguaçuano a sensação térmica era muito mais alta daqueles 29 graus, beirando os 44 pelo menos.
Isso porque o termômetro marcava 41oC. E isso porque ainda não havia começado a caminhar debaixo do sol para chegar ao estádio.
Mas de um modo ou de outro estou acostumada com essas temperaturas. Quem não estava e sofreu um pouco mais que eu foi Anne, a alemã que acompanhou a Caravana, filmou nossa viagem de trem e acima de tudo foi uma ótima companhia.
Anne estava a serviço de uma TV Bávara e com disposição nos seguiu na direção de Nova Iguaçu. Mas antes almoçamos no Bar Lamas, um local histórico para o futebol
Café Lamas Restaurante, "o Moulin Rouge do remo e do futebol
O Café Lanas Restaurante é um recanto tradicionalíssimo no Rio de Janeiro. Tem um ótimo Chop e pratos muito bons, sobretudo, para quem gosta de carne como eu. O bife a milanesa, por exemplo, é imperdível.
Porém, não poderei comer carne vermelha durante um ano e tive que me contentar em almoçar salada de batata e um omelete de legumes.
Para piorar comi rápido e pouco, pois estávamos com pressa por causa do trem que sairia às 14h da Central do Brasil.
Mesmo que com pressa é sempre ótimo estar no Lamas:
Como dá pra ver no copinho, o Lamas foi fundado em 1874!!!
São 140 anos de vida e de uma vida que comportou momentos importantes para o esporte carioca, especialmente para o time do Flamengo.
Vale lembrar que o primeiro endereço do Lamas foi no Largo do Machado
Lamas, em 1918, inicialmente situado na Rua do Catete Nº 295. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=877776&page=80 |
O imaginário popular que circunda o Flamengo tem no Lamas um cenário importante, por isso cito um trecho do Histórias do Flamengo, de autoria do meu querido Mário Filho. Era para o Lamas, que segundo Mário Filho, os atletas do Flamengo tocando reco-reco, se direcionavam para comemorar alguma vitória
O reco-reco transformou-se transformou-se num bloco que saía toda vez que o Flamengo conquistava uma vitória no remo ou no futebol.
(...)
Juntava-se gente na calçada. Que era? Era o Flamengo. Ou os rapazes do Flamengo (...) O bloco rubro-negro ia espalhando alegria pelas ruas afora até o Largo do Machado, onde fica, hoje, ignorado, soturno, o Lamas, que era uma espécie, mal comparando, de um Moulin Rouge do remo e do futebol.
Lá se comia, além da média, de pão com manteiga, ovos mexidos com presunto e se jogava bilhar até altas horas da noite, madrugada a dentro, a fumaça dos cigarros espalhando-se em ondas cada vez mais espessas e se discutia aos gritos. (FILHO, Mário. Histórias do Flamengo. Rio de Janeiro: Record, 3a edição, 1966, p. 11)
Em 1974 por causa da construção do metrô, o Lamas mudou de endereço e foi para onde está até hoje, na Rua Marques de Abrantes 18-A.
Foi uma mudança territorial não muito radical, afinal o Lamas está a passos do Largo do Machado o que provavelmente contribuiu para que ele continuasse um local "aurático" no que diz respeito não apenas ao futebol, mas ao remo, o esporte que já foi o mais popular do Rio.
O início da Viagem
Após um breve almoço fomos correndo pegar o Metrô para saltarmos na Central do Brasil e embarcarmos em um trem rumo a Nova Iguaçu. Corremos porque nos finais de semana, o horário dos trens é um tanto complicado, digamos assim. Os intervalos entre as saídas dos trens chega a uma hora, o que é muito, se compararmos ao metrô, por exemplo.
Mas pelo menos a linha Japeri circula até a noite, pois o mesmo não corre em linhas como a de Belford Roxo cuja circulação é interrompida por volta das quatro da tarde.
Transporte público em dia de semana já não é o melhor dos mundos e quando chega o fim de semana as coisas podem ficar bem mais difíceis, especialmente quando se trata da Baixada Fluminense.
São poucos os ônibus, são poucas as vans e o melhor
transporte é sempre o trem.
Conseguimos pegar o trem das 14h em direção a Japeri. Graças a Deus demos sorte e pegamos um trem
novo, com ar condicionado e bonitinho, afinal não é sempre que isso ocorre.
Embora fosse final de semana a central do Brasil estava
agitadíssima, por conta do carnaval.
Havia um fluxo constante de idas e vindas de foliões e no vagão que ficamos muita gente fantasiada indo para madureira, onde a maioria ia para o bloco Timoneiros da Viola.
Contive a inveja e pensei: isso é Caravana, às vezes caminha na contramão da maioria. Esse pensamento me trouxe conforto, ainda mais sabendo que tudo isso era em nome do meu velho e fiel amigo futebol.
Anne deu sorte, porque o trem é um espaço rico em termos de criatividade humana, por mais que isso às vezes de fato possa irritar. Porém, o vai e vem dos vendedores, a mistura de pessoas, de discursos, de estilos, olhados com certa distância pode representar uma ótima oportunidade de observação e contato com alteridades diversas.
Anne nossa alemã foi filmando tudo ao redor:
Até que chegamos ao nosso destino e logo fomos em busca de informações de como chegarmos no estádio.
Até que chegamos ao nosso destino e logo fomos em busca de informações de como chegarmos no estádio.
Descemos a estação e fomos em direção da Rua Getúlio de Moura e do calçadão de Nova Iguaçu, onde logo na esquina havia um ponto de vans.
Perguntei ao motorista de uma delas como se chegava ao Nova Iguaçu Futebol Clube, o que ele não compreendeu de imediato. Expliquei que íamos ao jogo no Laranjão, foi então que ele disse "ah tá, deixo vocês bem perto de lá"....
Ficamos esperando a saída da Van, felizes de não estarmos perdidos:
Mas ...
Se existe o Nova Iguaçu Futebol Clube, também existe o Esporte Clube Iguaçu que existe desde 1912 e provavelmente está mais enraizado na memória do morador iguaçuano do que o NIFC fundado em 1990. O Esporte Clube Iguaçu já teve time de futebol que participou de algumas competições ligadas a Liga de Nova Iguaçu e chegou a disputar a série C do campeonato carioca, nos anos 2000, mas logo depois desfez seu time.
Foi na esquina desse clube que fomos parar....
Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=28695 |
Rapidamente percebemos que estávamos no lugar errado.
Até que seria possível irmos a pé até o Laranjão, mas levaria tempo e já eram 15h40, por isso pegamos outra Van que aliás era da mesma linha daquela que havíamos acabado de descer:
Até que seria possível irmos a pé até o Laranjão, mas levaria tempo e já eram 15h40, por isso pegamos outra Van que aliás era da mesma linha daquela que havíamos acabado de descer:
No final deu tudo certo.
O clube, o sol, o cansaço e as torcidas
Finalmente, chegamos ao Nova Iguaçu Futebol Clube, debaixo de um sol escaldante:
Logo na chegada encontramos a torcida do Boa Vista com quem conversamos por alguns minutos, especialmente com Naniara, uma das líderes da torcida:
Líder da torcida não apenas feminina, mas segundo seus colegas da torcida como um todo.
Particularmente fico fascinada quando vejo mulheres no mundo futebolístico aparecendo de modo atuante como é o caso da Naniara. Isso porque creio que o futebol ainda é um território ainda muito relacionado a valores considerados como masculinos. Essa relação é visível nas propagandas, no canto das torcidas ou no próprio marcado consumidor futebolístico.
Como mulher, pesquisadora e torcedora desejo um futuro mais plural para as torcidas de futebol.
O clube, o sol, o cansaço e as torcidas
Finalmente, chegamos ao Nova Iguaçu Futebol Clube, debaixo de um sol escaldante:
Logo na chegada encontramos a torcida do Boa Vista com quem conversamos por alguns minutos, especialmente com Naniara, uma das líderes da torcida:
Líder da torcida não apenas feminina, mas segundo seus colegas da torcida como um todo.
Particularmente fico fascinada quando vejo mulheres no mundo futebolístico aparecendo de modo atuante como é o caso da Naniara. Isso porque creio que o futebol ainda é um território ainda muito relacionado a valores considerados como masculinos. Essa relação é visível nas propagandas, no canto das torcidas ou no próprio marcado consumidor futebolístico.
Como mulher, pesquisadora e torcedora desejo um futuro mais plural para as torcidas de futebol.
Entramos no Clube, um clube aliás muito simpático, bem organizado e que claramente se orgulha de formar jogadores:
Vamos para o jogo e para o estádio
Mas entre todos os torcedores presente nenhum se mostrou tão entusiasmado quanto esse flamengusta. Flamenguista?????
Ele comemorou muito o primeiro gol do Nova Iguaçu:
E comemorou mais ainda o segundo gol:
Mas o flamenguista tinha uma concorrente, a tia do jogador Belarmino
Como já disse Mário Filho e eu repito: o futebol é uma varinha de condão. Andando pelo estádio encontrei um aluno meu, sim porque o mundo tem 30 pessoas. Esse aluno em sala de aula é um doce de menino, mas digamos que fala um pouco demais durante a aula.
Porém no jogo do Nova Iguaçu, notem a seriedade do rapaz....
Final de jogo: Nova Iguaçu 3 x 0 Boa Vista
Até a próxima:
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