Há momentos na vida em que a gente fica um tanto perdido, sobretudo quando muitas mudanças ocorrem ao mesmo tempo.
Quando isso ocorre temos que nos agarrar àquilo que nos faz bem e pode promover momentos felizes. Momentos felizes são questões subjetivas porque cada um sabe - ou pode saber - aquilo que pode, mesmo que por algum instante, fazer-nos sentir vivos.
O futebol faz isso comigo.
Mário Filho já disse que o futebol é como se fosse uma varinha de condão capaz de transformar jogadores em seres supremos.
Creio que essa frase também pode ser usada no caso de nós torcedores e admiradores desse esporte.
O futebol foi - ou melhor é - minha varinha de condão. Os efeitos do encantamento dessa varinha de condão depende, mas no mínimo dura 90 minutos.
E posso dizer que a Caravana também, algo que me realiza como pesquisadora e pessoa.
A Caravana ficou parada durante muito tempo, devido a uma serie de fatores que nem vale a pena mencionar poque o mais importante é que ela está de volta. E esse retorno se deu no jogo de um clube como o Bonsucesso que este ano completará 100 anos. Poucos clubes têm esse privilégio de serem centanários, especialmente um clube de subúrbio que está fora dos holofotes do futebol nacional.
Mas antes de irmos para a Teixeira de Castro, eu e meu amigo alemão Martin, fomos andar de teleférico no morro do Alemão e depois saborear alguns quitutes no Bar da Portuguesa.
O teleférico e o Alemão
Sua construção teve como objetivo o transporte de moradores da região, mas após a instalação da UPP em 2010, o teleférico se transformou também em ponto turístico.
Esse movimento de inserir as favelas cariocas no mapa turístico do Rio de Janeiro pode ser notado desde pelo menos 1990, quando a Rocinha passou sediar diversos tours turísticos.
Há alguns bons ensaios sobre essa questão, escritos por pesquisadores de diversas áreas. Cito aqui um deles de autoria de Beatriz Jaguaribe no qual a autora analisa esse conjunto de estratégias que visam inserir as comunidades no circuito turístico da cidade. Tendência essa não exclusiva do Brasil, diga-se de passagem (disponível em:. http://www.uff.br/ciberlegenda/ojs/index.php/revista/article/viewFile/148/43)
Eu confesso que me senti uma turista em plena cidade onde nasci, aquele tipo de turista que com segurança e distanciamento observa aquilo que chamamos de alteridade, mas que no fundo muitas vezes não se mostra tão diferente assim daquilo que somos.
As comunidades no Rio de Janeiro compõe a paisagem da cidade, uma paisagem para muitos indesejadas e cujo conhecimento ainda é superficial. As comunidades ainda são espaços que devido a uma série de fatores dos quais muitos de nós mantemos um certo distanciamento.
No caso do Complexo do Alemão é interessante lembrar que diversas vezes passei por ele, mas dentro de ônibus já que diversas ruas importantes do subúrbio margeiam essa comunidade.
Foi por intermédio da Caravana e do teleférico que pela primeira vez tive um contato mais próximo, embora ainda distante, do Complexo.
Para os interessados na história do Complexo é interessante dar uma olhada no livro A gramática da moradia no Complexo do Alemão, história, documentos e narrativas, cuja versão preliminar pode ser acessada no link http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/131003_favelas_rio_gramaticadamoradia.pdf
Basicamente o Complexo do Alemão começou a nascer a partir da ocupação da Serra da Misericórdia, por volta da década de 1920 época em que alguns proprietários das terras ali existentes ofereciam lotes e casebres em troca de aluguel. Um desses proprietários era o senhor Leonard Kaczmarkievicz. Leonard fez um loteamento e comercializou alugueis e lote.
A área loteada por Kaczmarkievicz passou a ser denominada de morro do Alemão, embora ele fosse polonês.
Abaixo segue o mapa do Complexo
Fonte: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/131003_favelas_rio_gramaticadamoradia.pdf |
Há alguns anos o Complexo do Alemão ficou marcado pela forte presença do tráfico e pelos constantes casos de violência.
Essa violência se faz presente no imaginário em torno do Alemão, o que ficou perceptível
na produção artística que encontrei em uma feirinha localizada na última estação do teleférico, como veremos adiante.
O teleférico do Alemão é um projeto relacionado as obras do PAC. Suas construção começou em 2009 e ele foi inaugurado em 2011 como objetivo principal de transportar moradores da área para as regiões mais altas e de difícil acesso. A trajetória contempla 6 estações: Bonsucesso (integração com a Supervia), Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras.
Segundo dados encontrados no site da Supervia o teleférico desde a inauguração o teleférico já transportou cerca de 7 milhões de pessoas (Fonte: http://www.supervia.com.br/teleferico.php)
Em ritmo frenético
Chegamos ao teleférico via integração com os trens da Supervia, saltando na estação de Bonsucesso, ramal de Saracuruna. PS: aos domingos os trens da Supervia costumam sair em intervalos de 1h e alguns ramais param de circular bem cedo.
Fiquei impressionada com o ritmo frenético de chegada e partida dos teleféricos, o que talvez se explique devido a farta quantidade de gôndolas, 52 ao total. Cada gôndola tem capacidade de transportar 10 passageiros, 8 sentados e 2 em pé.
Graças a Deus não precisei ficar em pé, porque meu medo seria triplicado. Fiquei sentada com espaço de sobra. Não sei como é nos dias de semana, mas nos finais de semana, ou especificamente no último domingo, a quantidade de pessoas transportadas foi pequena.
Chegando ao teleférico nos deparamos com as "regras de convivência"... Acho interessante como no Brasil existe um fascínio por regras, o que se faz notar por exemplo nas novas arenas e as inúmeras regras de comportamento que as cercam:
Lá embaixo, um futebolzinho rolando:
Láaaaaa ao fundo um pedaço do teleférico privilegiado do Rio....
Engenhão:
No meio da cidade dos vivos, podemo ver a cidade dos mortos, no caso, o Cemitério de Inhaúma
"Nós que aqui estamos por vós esperamos"
Uma vila Olímpica
Mais futebol ....
A cidade do alto....
Ao final da viagem uma exposição com autores da literatura cujo tema tenha sido a moradia popular
A FEIRINHA
Ao final do trajeto na estação Palmeiras há uma feirinha típica de pontos turísticos:
Os cordéis do Alemão traduzem um imaginário da violência
Também há referências aos problemas que ainda persistem na comunidade, como os deslizamentos e enchentes ocorridos devido a chuva
E obviamente não podia faltar comida, principalmente, o churrasco nosso de cada dia
Depois dessa visita, fomos direto para o Bar da Portuguesa. Embora o cheiro de churrasco estivesse dando água na boca, tínhamos que cumprir nosso itinerário.
O BAR DA PORTUGUESA E O JILÓ RECHEADO
Já conhecia o Bar da Portuguesa e consta nesse blog essa visita.
Trata-de de um lugar delicioso em uma simpática rua do subúrbio de Ramos. Poderia ficar ali a tarde toda, observando o vai e vem das pessoas, ou as pessoas paradas conversando e comendo. E obviamente observando as diversas camisas do Vasco que decoram o ambiente:
Isso tudo acompanhado de comida e boa comida.... como por exemplo o jiló recheado com bacon. Simplesmente delicioso
Delicioso também é o omelete de bacalhau....
Lembranças de Pixinguinha..
Sempre me causou impressão e curiosidade pedir "não suba no vaso". Por que as pessoas sobem no vaso sanitário
Bonsucesso x Nova Iguaçu
É sempre um prazer retornar ao Estádio Leônidas e assistir a um jogo do Bonsucesso. Já escrevi sobre este estádio neste mesmo blog, portanto acho desnecessário repetir sua história.
Desde a última visita que foi na final do Campeonato Carioca da série B, pouca coisa mudou no Estádio
Dentro clube agora tem um local de treinamento de Jui Jitsu
E um banheiro químico:
NAS ARQUIBANCADAS E NO CAMPO
O calor de domingo foi imenso aqui no Rio de Janeiro, mas algumas pessoas tiveram disposição de enfrentar o sol na parte das arquibancadas descobertas
Outros preferiram se proteger
Quem não podia fugir do sol eram os jogadores...
Em um certo momento um grupo de pessoas entrou no estádio e tentou ficar nas arquibancadas. Chamou a atenção o fato de eles estarem sem camisa ou bandeira alguma que indicasse algum tipo de relação com o Bonsucesso ou Nova Iguaçu
Ao que parece eles tentaram assistir sem pagar ingresso e talvez por isso tenham sido convidados a se retirar e pacificamente foram embora
Me chamou atenção esse novo espaço no estádio destinado a um comando de policiamento. Confesso que não observei a presença de policiais nesse espaço...
Então chegou o grande momento que foi a entrada do Bonsuça em campo, sendo conduzido por sua mais recente contratação: Somália. O jogador não atuou, apenas conduziu a bandeira do clube
Mesmo que pequena, o jogo contou com alguma cobertura da imprensa:
Enquanto isso, as sociais estavam tomadas pelos torcedores do Bonsuça
De cima do banco de reservas do Bonsucesso....
Tempo técnico do 2o tempo e o Bonsucesso já perdia por 2 x 0
E por 2 x 0 perdeu o jogo. Jogo tecnicamente ruim, como muitos outros do futebol brasileiro. Mas isso pra mim não chega a ser um problema
Então chegou o melhor momento, minha "invasão de campo" ... mais uma vez pisei o mítico gramado da Rua Teixeira de Castro
Tirei foto com o George um apaixonado torcedor do Bonsucesso e que mantem um blog muito bacana onde podem ser encontradas preciosidades sobre a história do Bonsucesso (Folha Rubro Anil: http://georgejoaquim.blogspot.com.br/)
Termino assim.... deitada no gramado e sentindo os efeitos da varinha de condão do futebol
Obrigado Leda, pela sua bela visita na Teixeira de Castro. Seja sempre muito bem vinda. Abração.
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