domingo, 4 de agosto de 2013

LAGARTA RASTEJA, MAS UM DIA VOA (parte 2): SANTA CRUZ X BARAÚNAS



Em 2012 o Santa Cruz teve a melhor média de público nos estádios do Brasil (http://placar.abril.com.br/materia/santa-cruz-e-o-clube-brasileiro-com-melhor-media-de-publico).

Nesse mesmo ano, o Santa Cruz esteve na lista dos 100 clubes com melhor média de público no mundo todo, lista na qual apenas três clubes brasileiros constavam: Santa Cruz, Corinthians e Bahia (http://placar.abril.com.br/materia/santa-cruz-e-o-clube-brasileiro-com-melhor-media-de-publico).

Em 2013 o Santinha continua a marcar presença nessa listagem, perdendo o posto de primeiro para o Corinthians, mas permanecendo entre os 100 maiores públicos do mundo http://www.lancenet.com.br/minuto/brasileiros-clubes-maiores-medias-publico_0_966503401.html

Essas pesquisas são válidas, pois dizem algo. Entretanto, muitas vezes são tomadas como o espelho da verdade, verdade que sabemos ter um existência plural e não singular.

Por isso, esse  tipo de pesquisa não costuma me impressionar. Costumo desconfiar dos números e assim os uso, sempre com o pé atrás.

O Santa é maior que os números.

Basta andarmos por Recife para vermos com facilidade a presença do Santa na cidade.

Basta irmos ao estádio do Arruda e nos vermos rodeados por torcedores apreensivos, sofridos porque há anos veem o clube enfrentando todo tipo de dificuldade, o que inclui as três quedas de série, seguidas.

Quedas iniciadas em 2006, ano que marca a entrada do Santa em uma espécie de purgatório futebolístico, purgatório que incluiu a disputa da série D, em 2009.

É fácil torcer quando se é campeão, quando se está em alta e sobretudo quando se está no centro do cenário do futebol nacional.

Tenho a impressão de que no Brasil existe uma sobrevalorização da vitória, por isso contabilizam-se títulos como modo de justificar por que se torce para esse ou para aquele time.

Se de fato esses critérios guiassem nossas paixões clubísticas trocaríamos de time o tempo todo.

Esse tipo de pensamento não seria problemático se ficasse restrito às piadas entre torcedores.

Entretanto tenho a impressão de que ele se faz presente na organização do futebol nacional e no próprio discurso da imprensa esportiva.

Quando se fala em "futebol brasileiro", fala-se geralmente tendo como horizonte os "vitoriosos" clubes do eixo Rio-São Paulo.

Grande parte das concepções acerca do futebol brasileiro - o que inclui a sua construção identitária - em termos concretos e simbólicos são historicamente construídos a partir do futebol do eixo Rio-São Paulo e mais especificamente dos principais clubes dessa área

Fugindo a essa  regra estão alguns clubes do Sul e de Minas, porém se pensarmos no tamanho do país e sobretudo no fato de muitos conceberem o Brasil como "o país do futebol", isso é pouco, muito pouco.

Os clubes do nordeste sofrem bastante com a má divisão do latifúndio futebolístico nacional. O dinheiro é pouco, a atenção dada pela imprensa também é pouca e as consequências são visíveis e se fazem notar por exemplo na dificuldade de os clubes nordestinos se manterem por longo tempo na primeira divisão do campeonato brasileiro.

E essas dificuldades se fazem notar na própria história do Santa Cruz, um patrimônio de Recife, prestes a completar 100 anos e que não conta com patrocínios milionários ou mesmo com uma estrutura que lhe possibilite estar na primeira divisão.

O Santa tem tentado ser mais forte que tudo isso e até o momento tem conseguido, graças sobretudo aos seus torcedores. Torcedores para quem o Santa é  parte integrante de suas vidas.

Porque se nós damos vida aos clubes e porque eles também fazem isso por nós torcedores.

Visitar o Arruda particularmente representa visitar um pedaço daquilo que mais admiro no futebol: a capacidade que nossos times têm de nos mover, de nos fascinar, de ser uma espécie de amigo íntimo de quem não conseguimos ficar longe e cuja simples presença nos faz bem.

Assim é o Santa e assim é o futebol.



Um pouco de história do Santa e do Arrudão

Em fevereiro de 2014 o Santa Cruz soprará as velinhas para comemorar seus 100 anos!

Os torcedores estão ansiosos por essa comemoração




E que o Santa complete 100 anos comemorando também a sua subida para a segunda divisão. É o que desejo.

Em 1914 o clube foi fundado por meninos muito novos que costumavam jogar bola no pátio da Igreja de Santa Cruz.

Embora hoje Arruda e Santa Cruz estejam intimamente anexados em nossa cabeça, cabe lembrar que se trata de uma relação recentemente construída.

No final da década de 1920, o Santa Cruz era um clube que mandava seus jogos no campo dos Afogados onde ficava a sede do clube:

(Fonte: http://memoriasdosantacruz.com.br/2012/12/1929-vila-de-sao-miguel-afogados.html)


Na década de1950, o prefeito José do Rego Maciel - que aliás dá nome ao Estádio - deu a posse definitiva ao Santa de um terreno situado à rua Beribéri local onde se deu início à  construção do estádio do Arruda.

Foi uma construção lenta e que contou com a ajuda de voluntários torcedores, segundo consta nas narrativas em torno do estádio. Abaixo seguem algumas fotos retiradas do Blog do Santinha, aliás Blog muito bacana e que recomendo.


1959, construção das arquibancadas de madeira (Fonte: http://www.blogdosantinha.com/artigos/arruda-um-estadio-feito-de-cimento-e-suor/)




Remoção das arquibancadas de madeira e início da construção do Arruda que conhecemos (Fonte: http://www.blogdosantinha.com/artigos/arruda-um-estadio-feito-de-cimento-e-suor/)


Finalmente em 1972 o estádio foi inaugurado :


Fonte: http://www.coralnet.com.br/materias_ler.asp?id=480


Em 1975, o Arruda ficou debaixo d'água após um período de fortes chuvas em Recife:



(Fonte: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/paiaqui/?tag=1975)



Nesse longo tempo a mais importante reforma que o estádio passou foi em 2008 que inclui a troca do gramado e a reforma da estrutura das arquibancadas.

O Arruda está entre os dez maiores estádios do Brasil, com capacidade para cerca de 60 mil pessoas.

No jogo contra o Baraúnas o público chegou a 21 mil pessoas como anunciado no autofalante.

O Santa fez uma promoção 1 ingresso para as arquibancadas do anel inferior com preço a R$20, 00 e quem levasse acompanhante pagaria R$30,00. A arquibancada superior custava R$10,0 e o lugar mais caro do estádio, que eram as cadeiras, custava R$60,00


Eu comprei nas bilheterias do próprio Arruda ingressos para as arquibancadas inferiores e saí comemorando a aquisição e a garantia do meu lugar no estádio.

Lugar não marcado - graças a Deus - e com visão ótima do gramado porque é muito perto e fica em lugar central do estádio. Paguei apenas R$20,00.






O Arruda é um estádio antigo e sei que as novas arenas implicam um aumento no preço de ingressos dada uma série de confortos os serviços oferecidos, porém ainda não vejo justificativas plausíveis para ingressos tão caros como os que foram cobrados em alguns jogos no Maracanã. Caros sobretudo na área central do estádio.


Por enquanto no Arruda, ainda não existem esses preços abusivos. Vocês dirão, sim mas é um estádio ultrapassado e ainda no cimento.

Direi: sim, sentei no cimento e sim, seria muito bem vinda uma reforma no estádio porque ele precisa de uns melhoramentos.

Mas espero que no Brasil existam formas de conciliar o mínimo conforto com preços acessíveis ao torcedor.
ENTRANDO NO ESTÁDIO
Fui conduzida para o estádio por um taxista torcedor do Santa:
Chegando a Avenida Beberibe resolvi dar uns passeios pelo clube.

 

 

 

 

 

 

 

A piscina do clube e ao fundo o Arrudão






Fartura, fartura..... esse banquete aguarda a todos que passassem pela entrada social do clube,


 

A ERA DO RÁDIO (....)




 Tanto na Ilha do Retiro quanto no Arruda existe um fenômeno notável: vendedores de radinho de pilha.
Um radinho pode ser comprado a 5 reais, pronto para ser ouvido dentro do estádio (aqui em casa ele parou de funcionar....)
Nunca havia visto vendedores de radinho, mas em Recife eles podem ser encontrados, porque vendem.
Ao que parece o radinho de pilha é um dos apetrechos fundamentais para a ida a um estádio de futebol
Amei






 


"DEVIA TER FICADO EM CASA VENDO TV" : O JOGO , O INTERVALO, A TORCIDA
Quando o Santa entra em campo um foguetório se faz:




O jogo representava uma oportunidade de o Santa manter-se no G4 da série C. Seu adversário era o Baraúnas time que estava entre os últimos colocados da tabela.
Estamos diante de ingredientes clássicos para aquelas narrativas em que o mais forte perde para o mais fraco.
E o Santa perdeu.
Jogou mal, irritou a torcida que aplaudiu ao gol do Baraúnas, como se dissesse "parabéns, você conseguiu.... você conseguiu levar o gol de um dos piores times da série C".
Vários torcedores diziam: "DEVIA TER FICADO EM CASA VENDO A DANÇA DOS FAMOSOS!!!"
Mas todos permaneceram acreditando em uma virada do Santa.

Passou o primeiro tempo pouquíssimas foram as chances do time da Beberire.

Então veio o intervalo e intervalo é momento que aproveito para dar uma circulada

Também no Arruda o forte são os espetinhos e o cachorro quente, no caso dos espetinhos eles podem ser comprados até mesmo nas arquibancadas
  






Então o time retornou para o segundo tempo:







E a torcida continuou apreensiva:




 Notem que a faixa da torcida está de cabeça para baixo..... provavelmente como forma de protesto embora exista apoio









Puxa... aí veio o segundo gol ...... deixando todos arrasados, inclusive a estrela do time, Flavio Caça Rato







Ual, que balde de água fria.... Tudo bem que o Santa jogava mal demais e o empate estava difícil e com o segundo gol do Baraúnas ficou praticamente impossível.


Restou a torcida: ir embora, ficar e reclamar e restou também guardar as bandeiras:














Eu fui fiquei porque detesto sair antes de o jogo acabar.
E presenciei algo que me convenceu mais ainda de que os fossos dos estádios devem acabar.
Na verdade gostaria muito de saber quem a teve a ideia de criar um fosso entre as arquibancadas e o campo de futebol
É uma ideia razoavelmente absurda e que perigosa.
Perigosa porque alguém pode cair no foço e se machucar como aconteceu, por exemplo, na Arena do Grêmio recentemente.
Aliás são diversos os casos em que torcedores caíram em fosso de estádio, basta uma busca pela internet que rapidamente achamos uma infinita relação de histórias desse tipo
Mas no Arruda especificamente o fosso foi um obstáculo que dificultou muito o atendimento a uma torcedora que passava mal.

Olhem a dificuldade que foi para os bombeiros chegar até a menina, posicionar a maca que ficou inclinada por causa do fosso




A torcedora foi atendida, mas imaginem se o caso fosse mais grave?


E além disso, o fosso do Arruda parece um pântano....assustador.

Algumas perguntas foram suscitadas em mim:


Essa água fica parada por quanto tempo?
Esse fosso costuma ser limpo?
Por que existem fossos em estádio?







O jogo acabou e o Santa foi mesmo derrotado.

Revoltada com o fosso, fui andando para fora do estádio.

Fim de festa 










ATENÇÃO: SOMENTE EM CASO DE EXTREMA NECESSIDADE VÁ AO BANHEIRO:

Os banheiros, pelo menos das arquibancadas inferiores, precisam de uma reforma.




Outro problema que notei na ida e também na volta é a precária iluminação dos arredores do estádio, especialmente da área que dá acesso às arquibancadas inferiores.



Essa claridade é da minha câmera, porque estava tudo muito escuro




São problemas contornáveis que não diminuem o "mundão do Arruda", mas que ao serem solucionados somente o tornarão mais mundão do que ele já é


Valeu demais a Caravana ir até o Arruda, mais uma lacuna preenchida em meu currículo futebolístico


E como disse a torcedora: "Lagarta rasteja, mas um dia voa"....

Voei em Recife









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