Há momentos em nossas vidas - na minha vida pelo menos - que só mesmo o futebol consegue dar algum tipo de alento.
Digo isso, mesmo que meu time esteja passando por uma das piores fases de sua história. A crise do Vasco me importa e certamente contribui para meus estados mentais perturbados.
Mas somente o fato de o Vasco existir, me faz sentir consolada do mundo. Há pelo menos 25 anos mantenho esse tipo de relação com o Vasco.
A Caravana tem me feito sentir algo próximo em relação ao futebol.
Obviamente que esse sentimento não se estende a todos os times de futebol do mundo.... ainda não atingi esse nível de maturidade, nem sei se quero ou mesmo tenho talento para esse tipo de postura futebolística.
Mas de um modo geral ver uma partida de futebol, sobretudo se for no estádio, me faz sentir uma sensação de consolo, não muito fácil de explicar.
Especificamente no jogo do América me senti razoavelmente emocionada com a torcida que fez uma festa muito bonita, até mesmo porque tinha um trunfo consigo: o hino do América.
Convenhamos, o hino do América merece um tópico à parte.
Ei de torcer, torcer torcer ....
O futebol não faz sua história apenas dentro das quatro linhas. Futebol também é palavra.O mundo futebolístico ainda não foi desencantado, para fazer uso dessa terminologia weberiana. E o encatamento do futebol é construído por intermédio de palavras.
Palavras postas em circulação pela imprensa, pela literatura, pela conversa diária e por hinos como o do América.
O futebol carioca teve em sua história um nome fudamental: Lamartine Babo.
Lamartine Babo foi responsável por compor os hinos que nós cariocas passamos a vida toda ouvindo e achando que eram os hinos oficais dos nossos times.
Não eram...
O que nos acostumamos a ouvir são os hinos populares de Lamartine Babo, famoso compositor de marchinas.
O América por exemplo tem dois hinos oficiais: o "Hino a bandeira" de Francisco José Freire Júnior e Luiz França, de 1915, e, em 1922, de Soriano Robert e letra de Americano Maia.
Vejamos o hino de 1922
(Soriano Roberto e Americano Maia)
Alvi Rubro pendão da victória
Que nos campos da lucta s agita
Ao bafejo bemdicto da glória,
Que a luctar e a vencer nos incita
Alvi Rubro pendão desfraldado
Sobre a moça energia do forte
Tem em cada um de nós um soldado
Se preciso a marchar para a morte
O América sempre na frente
A victória é há muito seu hall...
Vigoroso tenez e valente
"Passe" "dimbla" "schot" "goall goall"
Alvi Rubro pendão posto ao vento
Farfalhado soberbo as tuas côres
Nos sentimos brotar nosso alento
Novas forças e novos vigores
Nos sentimos ao ver te, estandarte
Transformarem-se espinhos em flores
Symbolisas, o augusto baluarte
Do campeão, campeão dos vencedores.
(fonte: http://www.campeoesdofutebol.com.br/hino_americarj.html)
Ouvindo o hino percebe-se logo que se trata de uma música que dificilmente poderíamos cantar nos estádios....
Os hinos oficias são caracterizados pelo tom marcial que enfatiza um conteúdo bélico, nacionalista e higienista. Essa característica se evidencia na estrofe: "Sobre a moça energia do forte/Tem em cada um de nós um soldado/ Se preciso a marchar para a morte"
O som e as imagens não combinam.
Como cantaríamos e gritaríamos nas arquibancadas frases como: "Alvi Rubro pendão posto ao vento/Farfalhado soberbo as tuas côres" ?
Aliás, o que é farfalhado?
........
Graças a Deus tivemos Lamartine.
Os hinos de Lamartine surgiram, na década de 1940, como marchinas escritas e exibidas por ele no "Trem da Alegria", programa da rádio Mayrink Veiga.
Lamartine compôs os hinos para América, Vasco da Gama, Fluminense, Flamengo, Botafogo e Bangu, Madureira, Olaria, São Cristóvão, Bonsucesso e Canto do Rio.
E o hino do América se destaca pela melodia e, sobretudo, a letra que é uma ode ao ato de torcer.
Torcer especialmente para o América, time de Lamartine Babo:
A letra de Lamartine é o exemplo de composição de um hino popular, caracaterizado pela falta de rigidez formal, pelo uso de uma linguagem coloquial e popular (Sobre esses aspectos ver: Elcio Loureiro Cornelsen. Hinos de futebol nas Gerais. Dos hinos marciais aos populares. Aletria. maio.-ago. - n. 2 - v. 22, 2012)
Hei de torcer, torcer, torcer...
Hei de torcer até morrer, morrer, morrer...
Pois a torcida americana é toda assim
A começar por mim
A cor do pavilhão é a cor do nosso coração
Em nossos dias de emoção
Toda torcida cantará esta canção
Tra-la-la-la-la-la
Tra-la-la-la-la-la
Tra-la-la-la-la
Campeões de 13, 16 e 22
Tra-la-la
Temos muitas glórias
E surgirão outras depois
Tra-la-la
Campeões com a pelota nos pés
Fabricamos aos montes, aos dez
Nós ainda queremos muito mais
América unido vencerás!
Hei de torcer até morrer, morrer, morrer...
Pois a torcida americana é toda assim
A começar por mim
A cor do pavilhão é a cor do nosso coração
Em nossos dias de emoção
Toda torcida cantará esta canção
Tra-la-la-la-la-la
Tra-la-la-la-la-la
Tra-la-la-la-la
Campeões de 13, 16 e 22
Tra-la-la
Temos muitas glórias
E surgirão outras depois
Tra-la-la
Campeões com a pelota nos pés
Fabricamos aos montes, aos dez
Nós ainda queremos muito mais
América unido vencerás!
O clube e o estádio
A torcida grita saaaaaangue!!!!, mas inicialmente o uniforme do América era preto:
Primeiro uniforme do América | . Fonte: http://www.campeoesdofutebol.com.br/hist_americarj.html |
Primeiro escudo do América
É em 1908, que o vermelho passa a ser adotado:O América tem história.
Fundado em 1904, mesmo ano de fundação do Bangu, aos poucos passou a fazer parte do seleto grupo de clubes importantes no início da década de 1910.. Embora tenha sido um dos fundadores da Liga Carioca de Football, o clube ficou restrito à 2a divisão, já que não era um clube da Zona Sul.
Mas pouco tempo depois, o América foi conseguindo a adesão de nomes importantes da sociedade carioca, tendo, portanto, seu prestígio aumentado. Já em 1907, o América era um clube de elite que cobrava a mesma mensalidade do Fluminense. (Ver: Santos, João Manuel Casquinha Malaia. Revolução Vascaína: a profissionalização do futebol e inserção sócio-econômica de negros e portugueses na cidade do Rio de Janeiro (1915-1934). Tese de Doutorado. USP. Disponível em:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-26102010-115906/pt-br.php)
Pelo América passaram jogadores importantes como o goleiro Marcos Carneiro de Medonça, campeão em 1913 e que logo depois se transferiu para o Fluminense, tornado-se o primeiro goleiro da seleção brasileira e que foi campeão sul-americano em 1919.
Mas os ídolos do América são outros, um deles é Luizinho Lemos, o maior artilheiro da história do clube. Uma das faixas da torcida era em homenagem ao autor de 311 gols pelo América
Tem o Edu, irmão de Zico:
E o Romário:
Outro orgulho do América é a conquista da Copa dos Campeões em 1982
no estádio está escrito: Campeão dos Campeões
A Copa dos Campeões foi um torneio realizado após o Campeonato Brasileiro de 1982 e durante a Copa do Mundo na
Espanha. Foram 18 clubes participantes e o América conquistou o título de modo invicto:
Foi o último título de fato relevante para o América.
Em 2006, o América teve bons momentos sendo finalista da Taça Guanabara e semifinalista da Taça Rio.
Depois vieram tempos difíceis, crises financeiras e o primeiro rebaixamento no Carioca, em 2008.
Em 2010, o América voltou para a 1a divisão. Mas por pouco tempo. Em 2011 foi novamente rebaixado.
Agora em 2013 o América tenta o retorno à primeira divisão:
O Estádio
América tem uma históriamarcada por mudanças de campo.
Em 1911, fundiu-se com o Hadock Lobo e assumiu o campo que havia na Rua Campos Sales, local onde construiu sua famosa sede:
Antigo estádio da Rua Campos Sales . Fonte: http://historiadosestadios.blogspot.com.br/ |
Na década de 1960, o América demoliu o estádio de Campos Sales, mantendo apenas a sede do clube:
Fonte: http://historiadosestadios.blogspot.com.br/ |
Fonte: http://historiadosestadios.blogspot.com.br/ |
Esse estádio se situava à rua Rua Barão de São Francisco, esquina com a Rua Teodoro da Silva. Na dácada de 1990, o terreno foi vendido e hoje abriga o Shopping Iguatemi.
Em 2000, o América construiu o Estádio Giulite Coutinho com capacidade inicial para 13 mil pessoas.
Em 2004 chegou a receber 9 mil torcedores no jogo América X Flamengo e lembro que durante algum tempo o estádio de Edson Passos foi fartamente usado no campeonato carioca, sendo muitas vezes mencionado como modelo de estádio de futebol
Hoje em dia, quem olha o estádio não imagina o quão novo ele é. Sua aparência é de um lugar antigo, tamanha a falta de cuidado:
É notável a falta de conservação o que inclui a falta de pintura e o não funcionamento do placar que pertencia ao Maracanã e que em 2008 foi instalado em Edson Passos. Cinco anos depois o placar não funciona mais.
A arquibancada onde fiquei balançava bastante, o que gerou uma certa apreensão, pelo menos em mim. Era um balançar meio estranho, fora de lugar que ocorria às vezes pelo simples fato de alguém pisar com mais força.
O estádio Giulite Coutinho me fez lembrar o caso Engenhão, ou seja, um estádio novo no que diz respeito à data de inauguração, mas que envelheceu rapidamente devido à falta de manutenção.
Uma pena.
Giulite Coutinho foi presidente do América e da CBF na década de 1980 |
Um estádio é patrimônio de um clube, de uma torcida e um local de memória importante, até mesmo para a cidade. Os estádios precisam ser cuidados, o que não significa transformá-los em arenas, mas apenas conservá-los.
A torcida
Pura fofice....... |
Fila!!!!!! |
O estádio fica muito próximo a estação de Edson Passos, o que facilita o acesso:
Os torcedores famosos do America:
O poeta |
O compositor |
A torcedora símbolo |
Nas arquibancadas, a festa da torcida foi ótima. Muito papel, muitas bandeiras e uma linda fumaça vermelha se espalhava por Edson Passos:
Tivemos o bandeirão:
Olha a Carol ajudando a estender o bandeirão |
Os torcedores vieram preparados:
Esse aparelhinho aí lança papel picado. Queria um desses para mim. |
E obviamente não podia faltar o Brasinha!
No intervalo do jogo, foi realizada uma performance das cheerleaders do America, ao som de música variada:
Há um porém nessa performance: a música alta faz o estádio parecer uma casa de shows.
Porém tenho uma convicção na vida: o som do estádio devia ser o canto da torcida e toda vez que se põe uma música da moda, tocada em alto volume, o canto da torcida é abafado.
Acho o canto da torcida insubstituível.
Cri cri cri.....
Não vi torcedor do Tigres.....
Só vi os do America:
O jogo
Foi um bom jogo, pelo menos as partes que eu vi.Só consegui prestar atenção nos últimos minutos da partida.
Fiquei distraída observando as pessoas, ouvindo o comentário dos torcedores e principalmente tentando esquecer o quanto estava quente.
Estava incrivelmente quente.
Poupei as poucas forças que tenho e por causa disso não vi o segundo gol do America.
Uma pena, porque parece que foi divertido
Divertido também foi o finalzinho do jogo com a torcida cantando e comemorando o apito final.
O América segue invicto e sábado que vem tem a semifinal da Taça Santos Dummond, quando enfrentará a Cabofriense, lá mesmo em Edson Passos
Ahhhhh, quando se vence tudo é festa....
Saindo do estádio
Nos corredores do estádio, podia-se comprar alguns produtos:Com bolsos vazios...... tiro apenas fotos.
Mas antes de entrar no carro..... experimentei o gramado de Edson Passos
Para jogar pode ser que ele seja bom. Mas para deitar..... pinica demais.
Sábado que vem tem mais Caravana.
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