Até sábado, dia 02/03/2013 os números relativos ao jogo entre Goytacaz e
Americano eram os seguintes:
Total de
jogos:
129
Vitórias do Goytacaz:
Vitórias do Goytacaz:
43
Vitórias do Americano:
Vitórias do Americano:
43
Empates: 43
Empates: 43
Seja
como for, esses números seriam alterados. E a Caravana, representado por mim,
presenciaria este momento.
Aliás, essa é a Caravana mais aventureira de todas até o momento. Pelo menos pra mim.
Pela primeira vez a Caravana seguiu com apenas uma pessoas: eu.
Foi a Caravana
de uma só mulher
Confesso que estou morrendo de orgulho de não ter desistido, mas ter
enfrentado essa aventura mesmo sem a companhia de Martin e Carol.
Porém, não posso reclamar, pois foi graças à amizade que pude assistir ao
grande dérbi de Campos.
Foi graças a amizade de Marcos um campista que conheci assim que entrei na
faculdade, em 1996! que pude estar no estádio do azulão da Rua do Gás:
Marcos pode dizer: esse cara sou eu! |
Deixo aqui um imenso agradecimento a meu amigo Marcos que mesmo de Goiás,
onde hoje mora, perturbou de todos os modos possíveis seu irmão Márcio para que
ele comprasse meu ingresso.
E Márcio, por sua vez, foi de uma
gentileza extrema ao me buscar na rodoviária e me deixar em frente ao estádio
do azulão.
Sem a ajuda deles teria ficado no Rio de Janeiro amargando uma inveja profunda das cerca de
5000 pessoas presentes ao Aryzão.
Só que mais uma vez tive que deixar de ver um importante jogo do Vasco.
Porém, amo tanto o Vasco que posso afirmar que ele é uma parte constitutiva
de mim, tão constitutiva que para onde quer que eu vá, o Vasco está comigo de
algum modo. Nunca o abandono, nem ele a mim.
Mesmo assim, um radinho é sempre bem-vindo. E levei comigo esse outro
companheiro inseparável:
Devidamente equipada segui a mais longa das viagens até agora feita pela Caravana.
Viagem da qual nunca duvidei do quanto valeria à pena, pois iria assistir a
um clássico de peso, imprescindível a meu currículo futebolístico
Chegando em Campos a terra da cana, do chuvisco, da goiaba - cascão - e dos doces em geral....
Após esse curioso encontro, fui saciar minhas necessidades primárias e para isso tentei seguir as placas:
Notem o nome dessa loja.... |
Após esse curioso encontro, fui saciar minhas necessidades primárias e para isso tentei seguir as placas:
Mas consegui chegar onde precisava:
E Depois......
Após desse opulento almoço liguei para o Márcio que me buscou e me levou para o
estádio. Márcio é filho de um ex- jogador de futebol que tinha como alcunha "O macho", ele atuou pelo Rio Branco de Campos em décadas passadas.
Hoje eu pai é dono de uma oficina mecânica que fica a passos do estádio do Goytacaz. E continua tendo fama de "o macho"
Hoje eu pai é dono de uma oficina mecânica que fica a passos do estádio do Goytacaz. E continua tendo fama de "o macho"
Antes de se despedir, Márcio me apresentou a seu Enilson Mendes de Andrade - mais conhecido como Jaburu -
que vagava entre os torcedores segurando uma placa que dizia Goyatacaz
e Americano, o jogo do centenário. Paz e amor:
Jaburu é um militar reformado e que me disse que tinha três paixões na vida: o
Goytacaz, o Flamengo e a escola de samba Ururau da Lapa, da qual é
um dos fundadores. Ganhei de presente um folheto com o samba do Ururau para o Campos Folia de 2013 que acontecerá em
abril:
O Ururural foi campeão do ano passado e este ano prestará homenagem às Marias. O folheto ficou assim por causa da chuva....
Olha seu Jaburu aí gente.....!
Estiloso, simpático, gente boa
|
O pedido de paz feito por Jaburu reflete a preocupação demonstrada pela
imprensa local e pelas autoridades da polícia. Havia uma grande preocupação com o
comportamento das torcidas que cultivam uma longa e forte rivalidade
Quanto mais próximas geograficamente, mais acirradas podem ficar as
rivalidades futebolísticas.E mais saborosas também.
Freud certamente chamaria isso de "narcisismo das pequenas diferenças".
Mas para nós torcedores abismos nos separam dos outros, principalmente nossos vizinhos.
Freud certamente chamaria isso de "narcisismo das pequenas diferenças".
Mas para nós torcedores abismos nos separam dos outros, principalmente nossos vizinhos.
É o que se pode observar, por exemplo, no caso Grenal, no Rio Grande do Sul.
E é o que se pode perceber no caso de Goytacaz e Americano
Certamente essa rivalidade somada ao longo tempo em que os times não se
enfrentavam (mais de 10 anos), tornou a atmosfera desse jogo uma mistura de ansiedade,
tensão e saudade.
Pois havia no ar muita saudade, muita saudade sentida por torcedores que queriam enfrentar novamente seu principal adversário.
Por isso às 14h30 a Rua do Gás já estava cheia:
Entrei num bar em frente ao estádio onde havia forte concentração de
torcedores. Nesse bar, dei de cara com essa camisa sensacional que conta em imagens parte
da história do Goytacaz
Muito criativa |
Dizem que as mulheres não resistem a sapatos e bolsas....
Blá, blá
Sou do tipo de mulher que não resiste a preciosidades do futebol. Comprei aquela camisa que era vendida no próprio bar.
Blá, blá
Sou do tipo de mulher que não resiste a preciosidades do futebol. Comprei aquela camisa que era vendida no próprio bar.
Depois dessa ótima aquisição, resolvi então entrar no estádio, até mesmo porque às 15h começaria uma preliminar entre os times sub-20 do Goytacaz e do Americano.
Im-per-dí-vel.
O clube e o estádio
O Goytacaz Futebol Clube foi fundado em 20 de agosto de 1912. Seu primeiro
jogo foi contra o Internacioanal Foot-Ball Club, partida realizada em 25 de
agosto de 2012:
Fonte: https://bravofc.com.br/goytacaz-bate-internacional-em-seu-primeiro-match/ |
O Goyta se orgulha de ter sido o primeiro time de campos a jogar no Maracanã,
o que ocorreu em 1963.
E também se orgulha de ter sido o time que revelou Amarildo, o Possesso:
Amarildo, o Possesso, que jogou pela seleção brasileira em 1962 | Fonte: http://www.goytacaz.com.br/oclube_historia.asp |
O estádio do Goytacaz é o Ary de Oliveira Souza
– ou Aryzão - e foi inaugurado em 1938, ano fundamental para o futebol
brasileiro, principalmente no que diz respeito às concepções de futebol-arte
tão caras ao imaginário futebolístico nacional.
Inicialmente o estádio tinha capacidade para cerca de 15 mil pessoas, público recebido em 1986, na partida entre Goytacaz e
Flamengo.
Atualmente
a capacidade estádio é de apenas 5800 pessoas, limite estipulado pelo corpo de
Bombeiros que interditou as arquibancadas
que ficam na Rua
Formosa:
Parte interditada e que foi frequentada apenas por esse cinegrafista |
Em 2012, o estádio do Goyta passou por algumas reformas que incluíram o
conserto de seus refletores que há mais de 10 anos não funcionavam.
Marcas dessa reforma podiam ser vistas logo na entrada:
Meus gatos iam adora esse montinho de areia.... |
Ao contrário de vários estádios do Rio – o que inclui o Engenhão e o antigo
Maracanã - o estádio do Goyta oferece farta opções de comidas e belisquetes:
Pipoca:
Pipocão da Tamara |
Cocada:
Algodão doce:
Tinha também amendoim
torrado, mas não tirei fotos....
Por
dentro, o estádio é simpaticíssimo e o único até o momento onde não encontrei
as cadeiras do Maracanã:
Os torcedores do Americano ficaram
nas arquibancadas cujo acesso se dava pelo portão situado na rua
Formosa, próximo a rua Álvaro de Lacerda. Foram disponibilizados cerca de 800
ingressos para os americanos. O espaço destinado a essa torcida, não lotou.
Na rádio que ouvia, comentou-se que houve problemas no transporte de torcedores do Americano, já que os ônibus fretados se atrasaram
Na rádio que ouvia, comentou-se que houve problemas no transporte de torcedores do Americano, já que os ônibus fretados se atrasaram
.
Não sei.
Não sei.
Inicialmente fiquei nas arquibancadas
cobertas ao lado da Tribuna, mas logo, logo saí percorrendo o estádio até achar
um cantinho onde pudesse ficar o mais próxima possível do burburinho:
No estádio é de se destacar os
alambrados. Mesmo sendo feito de uma estrutura simples (e porque não dizer
perigosa), os alambrados deram provas cabais de resistência, pois suportaram todo tipo de uso:
Em Campos, notem que entre o alambrado e as arquibancadas, uma pequena multidão ficou aglomerada:
Sei que eles até têm seu charme, mas particularmente tenho medo de alambrados, pois caso ocorra qualquer problema essas estruturas podem servir de obstáculo ao escoamento do público (lembram de Hillsborough?)
Além disso, como vascaína carrego o trauma e a vergonha da queda do alambrado em 2000 em plena final do Brasileiro.
Mudando de assunto....
O gramado por sua vez estava bom e pronto para receber o grande clássico.
Além disso, como vascaína carrego o trauma e a vergonha da queda do alambrado em 2000 em plena final do Brasileiro.
Mudando de assunto....
O gramado por sua vez estava bom e pronto para receber o grande clássico.
A TORCIDA
Grande parte dos comerciais de TV
enfatiza a crença de que futebol é uma espécie de propriedade masculina. Além
de generalizar a concepção de masculinidade, esse tipo de propaganda insiste em
representações de gênero estereotipadas e ultrapassadas.
No clássico de Campos, esse mundo dos
comerciais foi desmentido, esbofeteado e jogado à nocaute.
No Aryzão foi muito
forte a presença feminina, especialmente nos grupos dos chamados torcedores
organizados.
Em Campos o Distrito Feminino da
Jovem Goyta entrou em grupo no estádio entoando canções de ordem:
E depois aceitaram posar para uma foto
E depois aceitaram posar para uma foto
Fazendo pose e ostentando o símbolo da torcida |
A ala feminina da torcida Rasta
também aceitou o convite:
Comemoro imensamente essa presença
feminina porque me cansa continuar a ouvir por aí que mulheres não gostam e não
entendem de futebol.
Essas meninas tiveram a coragem que
eu não tive: ficar lá no meio do burburinho.
Mas
posso me explicar: estava de mochilão, com câmera e acabei optando por ficar em
um lugar mais espaçoso.
Desse
lugar procurei observar tudo ao redor.
Percebi
por exemplo uma pacífica aceitação do fato de muitas pessoas torcerem para o Goytacaz e ao
mesmo tempo para algum outro clube, principalmente do Rio de Janeiro. Lá ao que
parece, coração de torcedor é lugar generoso.
Diversos
torcedores foram ao estádio com camisas do clube do Rio.
Um
dos exemplos dessa aceitação pode ser vista na camisa abaixo mostrada. Nessa
camisa unem-se as cores do Flamengo e do Goytacaz, sem nenhum tipo de disfarce
Notem bem.... na primeira foto há referência ao Goytacaz e na segunda foto fica clara a referência também ao Flamengo. Tudo isso em uma mesma camisa |
Mas a grande maioria vestia alguma camisa do Goytacaz ou de alguma torcida do Goytacaz.
Comprei uma dessas ali mesmo no estádio:
Levando
em consideração as faixas colocadas no estádio e das camisas que os torcedores vestiam, tive a impressão de que o
Goytacaz é um dos clubes com maior número de torcidas “organizadas” do Rio:
Torcida fiel |
Torcida Macha Azul, Torcida Goyta Rey e Torcida Fiel |
Torcida Goytachoop |
Guerreiros da Lapa |
Mas
não importa a quantidade, o que vale mesmo é que todas estavam unidas pela
rivalidade contra o Americano:
Momentos de tensão. De um lado a torcida do Goytacaz e do outro a do Americano |
A
torcida do Americano estava em número reduzido, o que constantemente era
enfatizado pelos torcedores do Goytacaz que se orgulhavam de ser numericamente
superiores ao adversário.
Embora
pequena, a torcida fez uma bonita festa na entrada no time em campo:
E
a torcida do Goyta não ficou nada, nada atrás:
Goyta
Você é a minha vida
Você é a miha história
Você é o meu amor ôooooo
(Música adaptada da torcida do Corinthians)
O
jogo
Como
eu disse, nesse jogo os números do confronto entre Goytacaz e Americano
inevitavelmente se alterariam.
Na preliminar os juniores golearam o Americano.
E no jogo principal?
Assim
como na semifinal da série A, o jogo em Campos teve um gol relâmpago feito, por Isac aos 2 minutos
Silêncio
na torcida do Goytacaz....
Silêncio
que durou pouquíssimo. A torcida voltou a gritar e incentivar o Goytacaz que
durante grande parte do primeiro tempo teve em Clodoaldo seu principal
articulador das jogadas.
Aliás,
me causou grande estranhamento ver Clodoaldo batendo faltas, escanteios e
atuando como um “criador de jogadas” –só para ter o gostinho de usar um dos chavões dos
comentaristas.
Mas
até que deu certo, foi Clodoaldo quem bateu o escanteio que resultou no
primeiro gol do Goytacaz. Gol contra, mas que também vale e às vezes é até mais saboroso:
O segundo tempo foi ótimo e emocionante, principalmente
nos seus 10 minutos finais. Aos 39 minutos, um pênalti foi marcado a favor do Goytacaz.
E quem foi
bater?
Ele,
Clodoaldo, a principal atração do Goytacaz.
“O
baixinho que é o cão” bateu muito mal e o goleiro do Americano agarrou a bola
com certa facilidade.
Mas no futebol, a distância que separa os heróis dos vilões é tão curta.
Clodoaldo foi salvo de ir para o reino da vilania. Aos 42 minutos, de cabeça Clodoaldo fez todos esqueceram de seu pênalti perdido:
Clodoaldo foi salvo de ir para o reino da vilania. Aos 42 minutos, de cabeça Clodoaldo fez todos esqueceram de seu pênalti perdido:
Clodoaldo
é bom de bola
O
baixinho é o cão
Quando
pega o Americano
Deixa
a zaga no chão
Humilha
o meio campo
Ele
é goleador
Huh
terror
Clodoaldo
é matador
Até o juiz apitar só se ouvia dos torcedores a frase: "Ai cabrunco!". Cabrunco é uma expressão usada em Campos para designar diversos tipos de emoção: raiva, espanto, etc
Então, Americano atacava: "Ai cabrunco!"
Goytacaz atacava: "Ai cabrunco!"
E assim foi até o apito final.
Fim
de jogo e agora o Goytacaz tem 44 vitórias contra 43 do Americano.
Grande
clássico
Saindo
A saída do estádio foi lenta. Fiquei em uma parte do estádio onde só havia uma saída.
Outras saídas estavam fechadas. Fechadas mesmo.
Outras saídas estavam fechadas. Fechadas mesmo.
Quando consegui sair do estádio um imenso temporal caiu sobre nossas cabeças. E tive a sensação de que caía sobretudo sobre a minha.
Essa chuva atrapalhou bastante meus planos. No horário em que devia estar pegando meu ônibus de volta para o Rio, ainda vagava pelas ruas, bem perdida. Ao fundo ouvia o que parecia ser um grande grupo de torcedores do Americano marchando de volta para casa.
Foram momentos difíceis e que me deixaram assim igual a tela do Munch:
Essa chuva atrapalhou bastante meus planos. No horário em que devia estar pegando meu ônibus de volta para o Rio, ainda vagava pelas ruas, bem perdida. Ao fundo ouvia o que parecia ser um grande grupo de torcedores do Americano marchando de volta para casa.
Foram momentos difíceis e que me deixaram assim igual a tela do Munch:
Mas consegui chegar à Rodoviária. E assim, voltei para o início. Voltei para a churrascaria.
E para me consolar, tinha o jogo do Vasco:
Peguei o jogo meio no final, ou seja, no melhor momento. Me senti igual a Clodoaldo, indo do inferno ao paraíso em poquíssimo tempo.
Depois do jogo só me restava saber o que faria nos próximos 60 minutos que faltavam para a saída do meu ônibus.
Comecei a escrever este blog, tentar me secar um pouco e assim diminuir as chances de uma pneumonia
De madrugada avistei as luzes do Rio e a Caravana terminou e junto com ela a vida útil do meu tênis se viu drasticamente reduzida
E para me consolar, tinha o jogo do Vasco:
Peguei o jogo meio no final, ou seja, no melhor momento. Me senti igual a Clodoaldo, indo do inferno ao paraíso em poquíssimo tempo.
Depois do jogo só me restava saber o que faria nos próximos 60 minutos que faltavam para a saída do meu ônibus.
Comecei a escrever este blog, tentar me secar um pouco e assim diminuir as chances de uma pneumonia
De madrugada avistei as luzes do Rio e a Caravana terminou e junto com ela a vida útil do meu tênis se viu drasticamente reduzida
E esse é um dos meus troféus!
Até a próxima.
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