segunda-feira, 7 de julho de 2014

Etnografando em Copacabana


Etnografando em Copacabana...










Copacabana respira Copa ... Copa do mundo de futebol.


Se você quer ver burburinho de Copa do Mundo, vá em Copacabana, bairro que embora esteja localizado na zona sul do Rio, tem um quê de subúrbio, o que a torna um espaço mais vivo e dinâmico especialmente em relação aos seus vizinhos Ipanema e, sobretudo, Leblon.

Copabacana é um bairro que começa a ser ocupado em 1858. Como descreve Claudia Mesquita em seu De Copacabana a Boca do Mato:

O nome Copacabana - observatório ou mirante azul, na língua quíchua dos nativos do Peru e da Bolívia - teria surgido com a chegada de uma réplica da imagem da Virgem Maria vinda da Península de Copacabana, ao Sul do lago Titicaca, onde existe uma capela com a imagem original, tida como milagrosa. Diz-se que os chamados 'peruleiros' negociantes de prata do Peru, teriam trazido a imagem para o Rio de Janeiro, onde permaneceu no altar da Igreja da Misericórdia até ser transferida, em meados do século XVIII, para uma pequena  ermida, construída onde hoje se encontra o Forte de Copacabana. Nessa época, Copacabana passou a integrar o sistema defensivo da cidade, com a construção de fortificações no Leme e no Posto Seis, junto à ponta da Igrejinha. (apud KAZ, Stela. Um jeito Copacabana de ser: o discurso do mito em O Cruzeiro e Sombra. Tese (Doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Artes e Design, 2010. Disponível em:http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0710768_10_cap_04.pdf )


Vista da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana (Fonte:
http://soscopacabana.wordpress.com/sobre/)


A abertura do túnel Velho para o tráfego público, em 1904, possibilitou que Copacabana pudesse se comunicar com o restante da cidade do Rio de Janeiro. Mas é nas décadas de 1940 e 1950 que Copacabana se configura como espaço simbólico importante para a cidade do Rio de Janeiro, passando a ser o bairro que comportava os ideias de modernidade da época. Com a praia e seus arranha céus Copacabana se transformou em uma espécie de vitrine de moda e estilo de vida compreendidos como modernos. 


Expansão imobiliária em Copacabana de´cada de 1950 (Fonte: http://rioquemoranomar.blogspot.com.br/2013_08_01_archive.html)


Na década de 1980, Copacabana passou a ser visto como um bairro que cresceu demasiada e desordenadamente, passando então a ser associado à decadência e violência urbana. 

Mesmo assim, Copacabana não perdeu o status de símbolo da cidade do Rio de Janeiro, sobretudo devido à praia.

Particularmente penso Copacabana como uma Madureira com praia, afinal em Copa se encontra de tudo comercialmente falando e em termos de diversidade cultural. Há pessoas de todos os tipos, uma espécie de mosaico humano que se aglomera tanto nos dias de semana quanto nos sábados e domingos.

Bares decadentes, também conhecidos como "cospe grosso" se mantém ao lado de restaurantes da moda. Bêbados boêmios, transitam sobre Copacabana ao lado de sarados e saradas correndo em nome da beleza e saúde. 

À noite Copacabana ressalta essa ambiguidade, assim como faz emergir a atmosfera de perigo que sempre ronda o bairro. Particularmente acho que uma das melhores traduções de Copacabana foi feita pelo desenhista francês Jano. 

Diz ele: "COPACABANA - No famoso calçadão, o pessoal faz o seu jogging ou leva o cachorrinho para passear a qualquer hora do dia... mas, de noite, é uma fauna bem mais estranha que fica rondando por aí... cuidado, gringo!" 

(Cadernos de Viagem Jano. Rio de Janeiro. RJ: Casa 21, 2004)


E hoje em dia com a Copa o que não falta em Copacabana é gringo, como os estrangeiros costumam ser chamados (muitos dos quais, não gostam desse nome). 

A miscelânea de Copacabana, desde junho, vem sendo formada também por Argentinos, Colombianos, Mexicanos, Americanos, Chilenos que vieram não necessariamente para ir ao estádio Maracanã, já que muitos não têm ingresso, mas que aproveitaram para visitar o Rio.

Entre os turistas estrangeiros - especialmente os latino-americanos - encontram-se pessoas de todos os tipos, desde os que se hospedam no Copacabana Palace aos que vieram de carro, moto, ônibus ou de home car. 

Os home car causaram transtornos a Copacabana e foram em sua maioria levados para o terreirão do samba ao lado do Sambódromo, mesmo assim ainda restam alguns em Copacabana:




Copa do Mundo, arte, estrangeiros e artistas de rua 

Domingo encontrei muito artista de rua, em sua maioria estrangeiros:


Banda de Rock Argentina

Slash!

Estátua viva ao lado da estátua do Drummond

Adicionar legenda



Todos com seus chapéus solicitando uma contribuição da plateia.

Mas havia astistas do Brasil também tentando faturar um pouco






E outros artistas no sentido de dominarem a arte ou seja a técnica de faturar na rua:









Esses exemplos, especialmente esse último, são exemplos de como a Copa ao contrário do que pretendia a Fifa e outros interessados, está longe de poder ser considerado um evento marcado pela displinarização do espaço público. 

O que se pode ver em Copacabana é um espaço urbano ainda aberto ao aproveitamento de diversas formas de se faturar com o mundial "da Fifa", muitas formas que certamente a entidade máxima do futebol não é nada a favor.

Mas ao que parece a Copa do Mundo é um evento complexo e que se mostra certa  dificuldade em se controlar seu desenvolvimento e seus resultados. Ainda bem.


ARTE-PROTESTO E AS FESTAS

Ao lado da festa ainda podemos encontrar manifestações de protestos contra a Copa e sobretudo contra a FIFA

Na praia quase chegando ao Fifa Fan fest vi uma arte-protesto cuja autoria não consegui saber 





E bem ao lado desse protesto, uma roda de samba se fazia:





Há de tudo em Copacabana desde o glamour até a pobreza, desde o protesto até a festa.

Há uma diversidade humana, mas não necessariamente uma diversidade que pode contar com igualdade de direitos e oportunidades.


Me senti um pouco como se segurasse na mão o Aleph de Borges


Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de quase 
intolerável fulgor. A princípio, julguei-a giratória; depois, compreendi que esse 
movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O 
diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem 
diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, 
porque eu a via claramente de todos os pontos do universo.
vi a circulação de meu escuro 
sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os 
pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e 
minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto 
esse objeto secreto e conjetura) cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem 
olhou: o inconcebível universo. 

Senti infinita veneração, infinita lástima. 

(Jorge Luis Borges. O Aleph. In: O Aleph. Trad. Flávio José Cardozo. São Paulo: Globo, 1997.)





                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     






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