sexta-feira, 21 de junho de 2013

ESPANHA X TAITI: MANIFESTAÇÕES; TORCER X VER


Havia certo desânimo em mim para ir ao jogo entre Espanha e Taiti.

Fiquei me sentindo estranha em ir ao jogo enquanto haveria mais uma manifestação na cidade do Rio de Janeiro.

Mas havia comprado o ingresso há muito tempo. Ingresso comprado com dinheiro arduamente conquistado, aliás. 

E para minimizar de modo mais efetivo a minha sensação de estranhamento, resolvi tomar uma atitude.

Preparei algo a partir do qual pudesse de algum modo contribuir para esse momento em que grande parte do país resolveu mobilizar-se.

Uma mobilização muito bem vinda que talvez devesse ter ocorrido há tempos atrás, especificamente no que diz respeito aos gastos desmedidos para a realização da Copa de 2014.

Podíamos ter apoiado a greve dos operários do Maracanã, assim como nos mobilizado em torno das desapropriações, do fechamento da escola Friedenreich e do velódromo do Rio e até mesmo com a interdição do Engenhão, um estádio de apenas 5 anos e onde foram gastos milhões e milhões de reais.

Porém, não é momento para lamentações desse tipo e sim de se cultivar a esperança de que haja uma maior consciência democrática no Brasil, de modo que nós - de diversas formas -contribuamos para uma sociedade mais tolerante e mais atenta aos usos do dinheiro público.

Essas mudanças podem e devem se refletir também no futebol, que tem sido conduzido de modo questionável por clubes, Federações, empresários etc.

Não acredito que deva se criar uma oposição entre futebol e política. Muito menos creio que devamos tornar o futebol o vilão dos nossos problemas.

Para mim essa opção é praticamente impossível, por diversos fatores.

Por isso, entendi que o Maracanã – mesmo que seja “o Novo Maracanã” - poderia ser um espaço ótimo para simples, mas válidas manifestações.

Me surpreendi ao ver que de fato “o novo Maracanã" assim foi usado. E nesse momento ele fez até lembrar daquele antigo Maracanã.


UFA! A RETIRADA DOS INGRESSOS E OS MEUS BOLSOS VAZIOS

Esse foi o primeiro - e creio que o único - jogo da Copa das Confederações no qual estive.

Por diversos motivos: 

1. A Copa da Confederações não é exatamente o tipo de competição que me cative.
2. Os ingressos são caros e além disso já estão esgotados para a final
3. Não pretendo e não reúno condições para viajar e ver outros jogos fora do Rio, pelo menos para ver jogos da Copa das Confederações.

Além disso, todo trabalho que tive para buscar os ingressos me desestimularam imensamente. 

Foram 5 ônibus! que tive de pegar para ir e voltar do Galeão. O galeão é meio contramão da Cidade do Rio e onde moro não contribui muito também para o encurtamento das distâncias.

Fui consolada por uma excelente aquisição: a camisa do Bonsucesso, comprada na loja que fica bem próximo ao Estádio Teixeira de Castro. 

O que fui fazer em Bonsucesso?

Descobri na internet que havia um ônibus para o Galeão: o 915 que podia ser pego em Bonsucesso. Aproveitei para comprar camisas do time rubro-anil, algo que queria desde de que fui ao jogo do Bonsuça.

Devido ao cansaço e a lonjura fui obrigada a consumir algo no aeroporto. Detesto consumir em aeroportos..... tudo é muito caro!!!

Me senti no novo Maracanã:


Sim, eu devia ter buscado esses ingressos antes....

E tentei domingo, mas as filas eram gigantescas.

Por outro lado, não me conformo com o fato de que a compra realizada pela internet, pouco facilite nossas vidas. 

Na internet tem fila.... uma fila que dá medo porque não a vemos, não sabemos se alguém está pulando a nossa vez e, além disso, dependendo da sorte, ou do azar, o sistema pode cair.

Acho a compra online fundamental, mas se pensarmos no preço que pagamos, não faz sentido ainda termos que buscar esses ingressos tendo pouquíssimos postos para retirada de ingressos. 

O resultado final foi o seguinte: Saí de casa às 13h e voltei às 19h30! Soma-se a isso: tempo gasto para a espera dos ônibus, engarrafamentos pela cidade e a distância.

Gastei horrores de passagem, somados ao suco (tomado no Galeão) e ao lanche que fiz (Fora do Galeão é claro)


CHEGANDO AO JOGO: VIGILÂNCIA, VIGILÂNCIA E VIGILÂNCIA

Diferentemente da última vez que estive no "novo Maracanã", dessa vez eu fiz uso do transporte urbano. 

Fui de metrô.

Dentro do metrô já havia forte movimentação de público, um público aliás cuja composição era diferente daquele que vi na reabertura do Maracanã.

Havia mais variedade de tipos humanos, gente entrando em diversas estações do subúrbio carioca e de outras partes da cidade





Do outro lado, a estação de trem de São Cristóvão. 

Marcação no Metrô

Porém, o que me impressionou, desde a chegada à estação São Cristóvão, foi o forte aparato policial.

Houve desde a descida da rampa do metrô, a necessidade de se mostrar os ingressos, pois somente assim podia-se tomar a direção do Novo Maracanã:








A presença de tanto policiamento às vezes pode criar uma atmosfera tensa. 

Se no jogo entre Brasil X Inglaterra havia um clima festivo, não posso dizer o mesmo em relação a Espanha e Taiti. 

E nem poderia ser diferente. Como disse, muita coisa tem acontecido no Brasil as quais não podemos ignorar.

E sem ignorá-las fui dando a volta no novo Maracanã









A cerveja foi um item disputado. Ela foi vendida até as exatas 14h.

Depois somente dentro do Novo Maracanã. Preço? R$9!!!!!!



Essa escada dá meeeeedo:


As mocinhas do Taiti foram das poucas cenas interessantes que vi do lado de fora



Mais vigilância: o desfile da cavalaria



Já dentro do estádio, os milhares de produtos oferecidos saltavam aos olhos



Enquanto isso... como um fantasma, o Museu do Índio jaz ao fundo



Dentro do Novo Maracanã:




Entrei no estádio com pelo menos 1 hora de antecedência porque queria ver o que ocorre nesses períodos em que não há futebol.

Ocorreu o que imaginava: música altíssima, propagandas passadas no telão e com som altíssimo.

Se você tiver o azar de ficar bem debaixo de um alto falante, como eu fiquei, prepare-se para ter dor de cabeça e muita irritação.

Beira o insuportável.

Fui salva pelos amigos Juliana e Elber, amigos e pais da Júlia, minha fofolete de coração. 

Graças aos lugares marcados, ficamos separados durante o jogo.... 

Um dia ainda farei uma listagem dos motivos que me faz detestar lugar marcado em estádio. 

Ficar longe dos amigos é um desses motivos


Lá de cima avistei os Stewards, enfileirados e de costas para o gramado. O jogo ainda não havia começado, mas mesmo quando começasse, esses Stewards continuariam de costas

Imagino que para essa função devem ser escolhidas pessoas que ODEIAM futebol. Caso contrário, é tortura.... Eu dificilmente conseguiria ficar assim ...





Finalmente, conheci os banheiros do "Novo Maracanã".... 

Banheiro sem aviso.. não é banheiro




Fui antes e depois do jogo e em ambas ocasiões os banheiros tinham papel, água e estavam limpos.


VER X TORCER

Havia muuuuutia gente com a camisa do Barcelona ou com a camisa da Espanha. 

Quase todos se levantaram para ver quando a Espanha entrou em campo para breve treinamento. 

Muitos fizeram coro de Casillas, Casillas... quando ele surgiu em campo



 Todos os olhos estavam voltados para a Espanha. E se o estádio encheu, certamente foi para ver a Espanha




O mesmo se pode dizer em relação à imprensa. No primeiro tempo, não havia quase nenhum jornalista atrás do gol da Espanha:




Mas no segundo tempo.... olhem abaixo o número de fotógrafos atrás do gol do Taiti.....


Quando Iniesta foi avistado, houve um delírio coletivo



Mesmo assim, a torcida passou o tempo todo vaiando os gols da Espanha e torcendo para a equipe do Taiti. 

Torcendo, torcendo é uma palavra forte demais, seria melhor dizer que houve uma manifestação de grande simpatia. Principalmente pelo goleiro....

O goleiro desmontou após o 9o gol .....


 

Mesmo depois dos 10 x 0, os Taitianos tiveram forças para agradecer ao público. Creio que para eles apesar da desastrosa campanha, participar da Copa e atuar diante de equipes como a Espanha teve seu valor. 

Claro que o ideal seria uma mínima igualdade de condições para a disputa. Entretanto, com um time composto por atletas que em sua maioria são amadores, somando-se ao fato de que o adversário era a Espanha, o resultado foi até razoável.





O INTERVALO DO JOGO

Geralmente em intervalos de jogos, as arquibancadas ficam esvaziadas. As pessoas vão dar uma volta, comprar alguma coisa, ou vão ao banheiro etc.

Embora grande parte da imprensa não esteja mostrando, o intervalo do jogo entre Espanha e Taiti foi um dos melhores momentos da partida, porque ele foi aproveitado para que se erguessem cartazes com diversos dizeres:













Essa foi a minha forma de protestar. Comprei uma camisa branca, escondi dentro da camisa do Vasco e guardei na mochila. 



As manifestações ocorreram no intervalo porque qualquer cartaz erguido virava alvo dos Stewards que os retiravam de nossas mãos. Isso ocorreu algumas vezes. A vaia foi grande.

Também houve pessoas que não esconderam seus cartazes e tiveram que jogá-lo fora já na entrada do estádio.

Não vejo porque proibir cartazes cujo conteúdo visa manifestar questões importantes para a sociedade.

Seja como for o intervalo foi fundamental para que pudéssemos nos expressar de modo mais livre e furarmos algumas proibições impostas




Um pouquinho antes do reinicio do jogo, um coro se fez:





Obs.: O que aparece escrito no vídeo é fruto da minha incompetência em lidar com  conversão de formatos de arquivo, mas em breve vou trocar. 

Fiquei positivamente surpreendida com o comportamento do público. 

Ao contrário do amistoso da seleção, vi uma público agitado, que cantava, que gritava, que não se manteve calado, enfim um público que foge ao padrão desejado pela Fifa.

Senti forte esperança de que haverá formas de resistência às tentativa de padronização do ato de torcer.


Também como um modo protesto eu e Carol fomos com a camisa do Rubro-anil do subúrbio: o Bonsucesso!

A intenção era que todos achassem que estávamos com a camisa do Barcelona. E de fato quase todos acharam que era.

Por que eu usaria a camisa do Barça se eu tenho a do Bonsuça...? um time que em 2013 faz 100 anos e que como muitos sofre com a desigualdade no mundo futebolístico. Um clube centenário que muitas vezes neste ano não conseguiu abrir seu estádio ao público.

Futebol é um lazer popular, não esqueçamos disso.

Eu poderia ter usado a camisa do Olaria, do São Cristóvão, do América, de diversos clubes do Nordeste, com enorme torcida, mas esquecidos e financeiramente arrasados






Eu poderia ter usado uma camisa do Bangu, mas ainda bem que alguém pensou nisso:



Valeu à pena ter ido ao jogo. 

Primeiro porque não deve-se alimentar qualquer forma de oposição entre futebol e política ou pior: uma oposição entre os que frequentam os jogos da Copa e aqueles que manifestam nas ruas.

Mesmo assim é compreensível a revolta com a Copa:




Porém além de todas essas manifestações precisamos ir além

Precisamos incorporar visões e posturas mais democráticas e efetivas em nosso pequeno cotidiano e que são sim formas politicamente engajadas:

1. Não oferecermos pequenas propinas para fugirmos de uma multa, por exemplo
2. Não jogarmos lixo nas ruas e depois reclamarmos que a cidade é muito suja
3. Não sermos tão coniventes com diversos exemplos diários de abusos
4. Não tirarmos proveito das várias formas de corrupção
5. Sermos mais tolerantes com as diferenças, o que inclui sermos menos racistas e homofóbicos
6. Nos preocuparmos um pouco mais com os nomes daqueles em quem depositamos nossos votos
7. Sermos profissionais mais responsáveis e preocupados com o devido cumprimento de nossas funções
8. Valorizarmos a democracia e o respeito ao outro


Claro que essa lista pode ser maior ainda.... 

Mas por enquanto está bom....



Até a próxima.

Aguardamos ansiosamente o retorno do Brasileirão e o retorno do Carioca da Série B cujas semifinais foram interrompidas.




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