Sábado, dia 13 de junho, acordei e agradeci a Santo Antônio por
tudo, principalmente pelo meu casamento.
Sim, meu casamento fez aniversário, justamente no dia de Santo
Antonio. E olha que não fiz promessa alguma.
Como, então, comemorar uma longa união?
Dando presentes, indo a lugares especiais, fazendo um passeio ou
uma viagem, jantando fora, bebericando, etc etc
Fizemos tudo isso. Graças ao futebol.
Fomos a Ilha do Governador, assistir a Portuguesa X São Cristóvão,
um clássico entre dois tradicionais clubes cariocas em um lugar que considero
muito especial: o estádio Luso Brasileiro
Isso me parece um baita presente.
Chegar a Ilha do Governador demanda uma logística especial, o que
inclui algo que poderíamos chamar de passeio – ou mesmo uma viagem - pela cidade
do Rio.
Ao final do dia, tivemos um ótimo jantar no charmoso
Ponta Pé Beach.
Enfim, só mesmo o futebol pode nos proporcionar
coisas desse tipo.
Obrigada, futebol.
Já estive no estádio da Portuguesa, algumas vezes, uma das quais
para ver futebol americano em sua versão masculina e outra em sua versão
feminina. Também já relatei em posts passados um pouco da história da
Portuguesa e de seu estádio.
Chegou a hora de me concentrar no São Cristóvão que
simplesmente, em outubro deste ano, completará 117 anos.
É uma grande honra ter assistido a um jogo de uma instituição tão
tradicional e que continua atuando e se mantendo vivo mesmo com todas as
dificuldades que cercam os clubes que estão fora do circuito privilegiado
do futebol brasileiro.
Depois de dois anos na série C, o São Cristóvão voltou a
disputar a série B e nela permanecerá, o que é uma boa notícia, já que
possibilita que no próximo ano a série A continue mais próxima.
Desde o primeiro campeonato do Rio de Janeiro, realizado em 1906, (ASSAF/MARTINS/2010), apenas oito clubes foram campões: Fluminense, Flamengo,
Vasco, Botafogo, América (7), Bangu (2), Paissandu (1) e São Cristóvão
(1).
Como dá para perceber o território futebolístico é feito para
poucos.
E um desses poucos é o São Cristóvão.
O São Cristóvão, desde quando começou a participar do campeonato
carioca, em 1910, nunca deixou de disputá-lo, independentemente da divisão
(QUADROS, 2004, 11).
Para muitas pessoas isso pode parecer pouco, mas em se
considerando que o mundo do futebol é muito excludente, há de se valorizar a
trajetória do São Cristóvão, clube que é parte importante da história do
futebol brasileiro.
Há de se celebrar sua força de resistência e superação em tempos
difíceis. Há também de se torcer também para que dias melhores cheguem.
No dia 13 de junho de 2015, eu particularmente comemorei aniversário de casamento, dia de
Santo Antônio e o dia em que meu muralzinho de futebol ficou mais completo:
SÃO CRISTÓVÃO, O CLUBE, O ESTÁDIO
Olhando o bairro de São Cristóvão hoje em dia é difícil imaginá-lo como lugar onde pudesse nascer clubes de remo, mas no final do século XIX, São Cristóvão era bem diferente.
Para se ter uma ideia até o final do século XIX, o mar da baía de Guanabara chegava até a Igreja Matriz do bairro:
Foto Augusto Malta Malta, Igreja Matriz de São Cristóvão. (Fonte: https://frags.wiki/index.php?title=Igreja_de_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o) Bem diferente de como a vimos hoje: |
Fonte: https://frags.wiki/index.php?title=Igreja_de_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o |
Não foi
diferente com o São Cristóvão cuja genealogia tentarei esquematizar no mapa
abaixo tendo como base as informações contidas no livro Chuva de Glorias. A Trajetória do São Cristóvão de futebol e Regatas,
de Raymundo Quadros,
Finalmente:
Fonte: http://escudosdomundointeiro.blogspot.com.br/2011/02/sao-cristovao-de-futebol-e-regatas-rio.html |
Esse escudo tem um detalhe muito interessante: a cor rosa
que lhe contorna.
Poucos sabem de onde vem essa cor. Eu mesma não sabia.
Essa cor faz referência ao Grupo de Regatas Cajuense - que está lá no mapa da genealogia do São Cristóvão - que adotou o rosa em homenagem a Marie Françoise Therese Martin – que futuramente se tornaria Santa Tereza do Menino Jesus.
Santa Tereza do Menino Jesus, conhecida também como a Santa das Rosas. Fonte:http://www.cruzterrasanta.com.br/historia/santa-terezinha |
Therèse, ou melhor, Tereza, foi uma jovem que já aos 14 anos conseguiu autorização do Papa Leão XIII para ingressar na ordem das Carmelitas descalças, do Carmelo de Lisieux, na França, adotando o nome de Thérèse de I’Enfant Jesus (Tereza do Menino Jesus).
Tereza do Menino Jesus era muito popular
na Europa tendo alguns de seus manuscritos publicados ainda em vida e lidos por
milhares de pessoas no século XIX.
Tereza tinha como costume jogar pétalas de rosa ao ver passar o Santíssimo Sacramento no
ostensório, e também jogar rosas sobre o grande crucifixo localizado no jardim do Carmelo.
Pouco antes de morrer, aos 24 anos, em 1897, Tereza teria dito que faria
chover, uma chuva de rosas sobre o mundo (http://www.cruzterrasanta.com.br/historia/santa-terezinha)
Sua morte provocou uma comoção na Europa
cujos ecos chegaram ao Brasil. Em homenagem a Tereza, o Grupo de Regatas
Cajuense adotou o rosa em suas cores.
Fonte: http://escudosdomundointeiro.blogspot.com.br/2011/02/sao-cristovao-de-futebol-e-regatas-rio.html |
Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=53081 |
O ESTÁDIO E O TÍTULO DE 1926
Poucos clubes têm estádios. Embora fechado para o público, o São Cristóvão possui um.
O Figueira de Melo (nome da rua no qual está localizado) pode ser considerado um patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro, sendo parte componente de sua paisagem urbanística desde 1916, ano de sua inauguração.
Hoje o estádio pode ser avistado de cima da linha vermelha de onde podemos ver as cadeiras do Maracanã e a frase "Aqui nasceu o fenômeno", em referência ao fato de o jogado Ronaldo ter atuado nas categorias de base do clube:
Estive lá recentemente para entrevistar a Gerente de Futebol, Silvani Maria (em breve publicarei essa entrevista), e pude entrar no estádio durante um treino das equipes infantis do Vasco da Gama.
Fonte: http://reliquiasdofutebol.blogspot.com.br/2014/08/2012.html |
Estive lá recentemente para entrevistar a Gerente de Futebol, Silvani Maria (em breve publicarei essa entrevista), e pude entrar no estádio durante um treino das equipes infantis do Vasco da Gama.
A linha vermelha, ao fundo. |
A frase é em referência a Ronaldo, o fenômeno que surgiu nas categorias de base do clube |
Entrada da sede de Figueira de Melo |
Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=68035 |
Careta, p. 20, 29/04/1916
Careta, p. 20, 29/04/1916
Em 1943 um acidente nas arquibancadas de madeira interditou o estádio que reabriu em 1946, em partida comemorativa realizada contra o Vasco da Gama:
Após o acidente as charmosas arquibancadas de madeira foram derrubadas e outras de cimento construídas.
O TÍTULO DE 1926
Entre a inauguração do estádio Figueira de Melo, em 1916, e sua reinauguração em 1946, o São Cristóvão foi campeão carioca de 1926, feito que é detalhado no livro São Cristóvão:
Memórias Da Conquista (80 Anos Do Título) de Gustavo Côrtes e Raymundo Quadros.
O último jogo de uma campanha de 18 jogos, com apenas duas derrotas e dois empates, foi realizado contra o Flamengo, no campo da Rua Payssandu. O São Cristóvão venceu o Rubro negro por 5 X 1.
O título foi noticiado pelo Correio da Manhã, um dos mais principais jornais da época.
Correio da Manhã, 23
de novembro de 1926
Notem que a notícia é dada de modo tímido, mas se trata de um tipo de manchete muito comum num período em que o futebol estava longe de ser tratado como o é hoje em dia.
Como já foi dito, São Cristóvão, junto com América e Payssandu, é um dos únicos campeões cariocas da história desse campeonato que estão fora do quadrado Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo.
Após a conquista, a trajetória São Cristóvão foi de subidas e descidas em nível estadual e de pouca participação em campeonatos de nível nacional.
O retorno à segunda divisão do campeonato carioca foi importante para o clube já que significa uma maior atenção da imprensa - mesmo que pouca - assim como encurta o caminho para a série A.
O time fez uma campanha razoável na série B, o suficiente para se manter nessa divisão. Impossibilitado de usar o estádio, o clube mandou a maioria de seus jogos no estádio do Olaria, na rua Bariri.
Alguns jogos de seu mando foram realizados no estádio da Portuguesa, mesmo estádio onde a Caravana esteve no sábado dia 13, sendo que desta vez o mando era da equipe da Ilha do Governador.
É bacana lembrar que na Ilha do Governador fica a sede Náutica do Clube São Cristóvão, fato que eu desconhecia por pura ignorância. Fiquei sabendo por intermédio da Silvani, durante a entrevista que ela me concedeu.
Para quem quiser saber mais sobre essa sede tem uma produção do Laércio Becker intitulada São Cristóvão de Futebol e Regatas. Fotografias tiradas por Laércio Becker disponível para download no endereço:
http://www.webartigos.com/_resources/files/_modules/article/article_83276_201312021313321fdb.pdf
O JOGO, A TORCIDA
Pela primeira vez fui ao estádio da Portuguesa de transporte público. O conjunto de bairros denominado Ilha do Governador, já indica se tratar de um lugar que tem poucas formas de acesso: carros, ônibus e barca.
Aparentemente as barcas soam como o transporte perfeito, mas dependendo do local para onde se vá (a Ilha é formada por 14 bairros ao longo de mais de 30 km2), talvez não seja o melhor meio.
Esse é o caso do estádio Luso brasileiro.
Pode-se ir de carro ou de ônibus sabendo que haverá somente a estrada do Galeão como modo de se entrar na Ilha, chegando nessa estrada seja via Avenida Brasil ou Linha Vermelha.
Em dias de semana, o trânsito costuma ser infernal, ainda mais com as diversas obras que estão sendo feitas no Rio de Janeiro.
Em finais de semana, a oferta de barcas cai, a quantidade de ônibus também diminui, mas pelo menos as vias de acesso estão mais livres.
A Portuguesa se localiza na região central da Ilha do Governador, mais especificamente no bairro chamado homônimo, Portuguesa, o que torna seu acesso muito facilitado, já que praticamente todas as linhas de ônibus que cortam a ilha, passam pelo bairro Portuguesa.
O jogo estava marcado para às 15h.
De Vila Isabel fomos para o centro da cidade, onde pegamos um ônibus para a Ilha (há vários para diversas partes da ilha). Atravessamos parte da Avenida Brasil, levando cerca de uma hora para completar todo o trajeto.
Chegando próximo ao clube, paramos para descansar. Há um quiosquinho bem agradável para socializar ante e depois do jogo bem em frente ao clube:
Ai a torcida se concentra, os mais antigos e os mais novos
Dentro do estádio...
A agitada e criativa torcida da Portuguesa teve fôlego para cantar o jogo inteiro músicas de incentivo ao time, ao estilo das torcidas de alento do Rio e São Paulo.
A torcida Brava Raça me fez lembrar a torcida Setor 2 do Juventus da Mooca, em São Paulo, sobre a qual já comentei aqui.
Essa associação se tornou mais forte na minha cabeça devido a relação com a localidade que aparece constantemente nos cânticos da torcida, assim como a referência a colônia portuguesa.
Além disso a referência ao "ódio ao futebol moderno" fortaleceu ainda mais a lembrança da Setor 2:
Além deles, tinha outros tipos de torcedor, porque os estádios tem - ou deveria ter - espaço para todos os gostos e estilos de torcer
Os mais diversos tipos mesmo, até aqueles que cochilam
Ou que aproveitam para ler
Gente de todas as idades, em pé, sentados.... irritados ou calmos
E gente como eu, de olho no jogo, mas tentando captar com a câmera imagens e a mesmo tempo observar o jogo, o mais próximo que for possível.
A Portuguesa tem um bom time, combativo e que joga para vencer os jogos, o que se faz notar em sua ótima campanha.
O São Cristóvão embora tenha perdido o jogo, manteve-se na Série B e ano que vem esperamos vê-lo disputando vaga para a Série A que não disputa desde 1995.
No lado de dentro do clube, preparativos para a festa junina.
Do lado de fora, de volta ao quiosque e mais futebol
Mas tínhamos que correr na direção do jantar comemorativo de casamento.
E deu tudo certo ao final:
UM BREVE PROTESTO
Antes de terminar, ainda cabe um protesto.
Notem o que vai acontecer ao final do jogo Portuguesa x São Cristóvão:
Notem o que vai acontecer ao final do jogo Portuguesa x São Cristóvão:
Voltando a um dos meus assuntos preferidos, antes de terminar preciso deixar uma nota de protesto contra uma tendência que se faz notar, especialmente, nas chamadas arenas, e que infelizmente se alastra para outros estádios. Estou me referindo ao hábito de se tocar músicas nas caixas de som, no intervalo e logo após o fim do jogo.
O som alta abafa quase que completamente o som que vem da torcida.
O som da torcida não deve ser substituído por músicas porque podemos ouvir músicas no rádio, no celular e inclusive escolhendo-a de acordo com nosso gosto pessoal.
Estádios de futebol são espaços onde a torcida pode fazer ecoar seus cânticos em louvor de seus times. Trata-se de local único, portanto.
ASSAF, Roberto. MARTINS, Clovis. História dos campeonatos carioca de futebol. 1906/2010. Rio de Janeiro: Maquinária, 2010.
MELLO, Victor Andrade de. Mulheres em movimento: a presença feminina nos primórdios do esporte na cidade do Rio de Janeiro (até 1910). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 27, nº 54, p. 127-152 - 2007 (disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882007000200008&script=sci_arttext)
QUADROS, Raymundo, Chuva de glórias. A trajetória do São Cristóvao de futebol e Regatas. Campinas/SP: Pontes Livros, 2004.
REZENDE, José/QUADROS, Raymundo. Vai dar zebra. Edição do autor.
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